Passados quase 9 meses desde o início da pandemia, muitos de nós começamos a atingir um estado de cansaço enorme em relação às medidas de restrição e ao isolamento que nos foi imposto pelo vírus invisível. Este é já um estado de fadiga pandémica, um estado em que as reações começam a extremar-se, um estado em que a revolta começa a surgir e o desespero se apodera de nós enquanto vemos os nossos negócios a desaparecer, o despedimento de amigos e a exaustão dos nossos familiares que trabalham na dita “linha da frente”.
Ao mesmo tempo, vemos os hospitais a colapsar e sentimos novamente o medo. Mas sentimos ainda mais intensamente a fadiga. Estamos cansados. Queremos a nossa vida de volta, queremos voltar a amar livremente ou apenas encontrar o amor. Conhecer pessoas tornou-se difícil e continuar neste barco sozinho tem-se tornado cada vez mais difícil à medida que o tempo avança.
Este arrastar da pandemia tem-nos levado a desmotivar, a desmoralizar e a rejeitar mais privações. Tem trazido também uma maior necessidade de correr riscos, desde que isso nos devolva mais alguma normalidade. O equilíbrio entre a segurança e a necessidade de correr algum grau de risco que nos permita viver, tem exigido um esforço psicológico brutal a cada um de nós. E é este esforço que nos vai tornando mais vulneráveis.
Quanto mais cansados, mais incumpriremos. Quanto mais desesperados, menos acataremos, quanto mais privados mais nos revoltaremos. O estado de fadiga pandémica começa a fazer-nos correr mais riscos, o que pode ser muito perigoso.
O cansaço em relação a tanta restrição tem-nos feito quebrar protocolos de segurança, abandonando algumas medidas e arriscando mais. Embora compreensível, a consequência pode ser elevada e originar um descontrolo dos contágios.
Mas não são apenas estes 9 meses que contribuem para esta fadiga. São também os outros 9 que se adivinham. E este pode ser o verdadeiro problema. Sem fim à vista, as pessoas não estão dispostas a esperar mais, a abdicar mais, a deixar de ver a família em prol de “um bem maior” que nunca mais chega. Questionam-se se este será o último Natal em família e avançam para junto dos seus.
A imprevisibilidade de tudo isto e a falta de luz ao fundo do túnel, associado aos longos meses de restrição, começa realmente a causar baixas nas fileiras, a encostar armas e, por consequência, a ficar mais vulnerável ao inimigo.
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