“Sinto-me exausto física e emocionalmente” é uma queixa que Alexandra Vasconcelos, farmacêutica, naturopata e pós-graduada em medicina biológica integrativa, escuta amiúde em consulta. Queixa que chega de pessoas de todas as faixas etárias e condição física. A perda de vitalidade e a exaustão são problemas cada vez mais frequentes. “O cansaço tornou-se uma verdadeira epidemia”, sublinha a autora do livro Energiza-te - Combate o cansaço, acaba com a fadiga e aumenta a tua vitalidade (edição Planeta). O novo livro de Alexandra Vasconcelos traz um objetivo: responder de forma efetiva ao cansaço, “devolvendo qualidade de vida, vitalidade e alegria a cada pessoa”, assim lemos na nota de apresentação da obra.
Para Alexandra Vasconcelos, a causa para este cansaço e falta de energia tem um nome: mitocôndria, um organito presente em cada célula do corpo que desempenha um papel central na regulação da energia e na regulação metabólica. Mantê-la saudável, através de sete passos e um plano de 14 dias incluído neste livro, “é a chave para aumentar a energia”, sintetiza a autora de vários livros na área da saúde e envelhecimento saudável. Como? “Eliminando parasitas e cargas tóxicas, equilibrando as hormonas, reprogramando a mente, respeitando os ciclos de sono, adotando um estilo de vida intermitente, tratando o intestino e o microbioma, adotando uma alimentação anti fadiga e apostando na suplementação certa”. Sobre este, entre outros temas, conversamos com Alexandra Vasconcelos.
O seu livro abre com algumas frases que ouve em consulta: “Ajude-me, estou cansado!”, “Sinto-me sem forças para nada”. Frases que não são estranhas a muitos de nós. A sociedade, tal como a construímos, deixa-nos exaustos?
A certeza de que a sociedade contemporânea nos deixa exaustos é uma realidade e preocupação crescente entre especialistas e leigos. A evolução das sociedades e a exigência a que estamos sujeitos, empurrou-nos para um estilo de vida completamente diferente do que estamos preparados geneticamente. Durante os últimos anos desviamo-nos largamente da forma de viver que nos permitiu evoluir. Vários fatores contribuem para a sensação generalizada de cansaço, pois a forma como vivemos é completamente diferente da forma para a qual a nossa genética está adaptada. Nos últimos não mais de cem anos, o estilo de vida e o ambiente onde vivemos, mudou radicalmente, sendo completamente impossível que o nosso DNA de mais de 300.000 anos se consiga ajustar a esta nova realidade. A expressão epigenética de muitos genes, regulada pelo ambiente, provoca-nos cansaço, inflamação e doenças. Esta nova realidade ambiental e de estilo de vida prejudica altamente a nossa imunidade, permitindo que se instalem e acumulem no nosso organismo os inúmeros agressores da fábrica energética do corpo: a mitocôndria.
O que é a fadiga?
Fadiga é um mau estar inexplicado que pode ser físico, emocional ou mental e nos impede de viver com energia e manter capacidade para fazer face às inúmeras tarefas do dia a dia, dificulta-nos o desempenho cognitivo, não nos deixa dormir convenientemente e torna-nos maldispostos e tristes. Este cansaço deve ser visto como um sinal de que o corpo está em desequilíbrio e a funcionar em modo de sobrevivência. Atualmente, sabemos que a fadiga pressupõe dano na mitocôndria, que facilmente evoluir para desequilíbrios maiores que se expressam pelas chamadas doenças cronicas.
Há diferentes tipos de fadiga
Há fadiga física, emocional ou cognitiva que podem ter justificação e decorrer do grau de exigência da nossa vida e do desajuste entre as necessidades energéticas produzidas e as gastas. Por vezes, este cansaço alivia com descanso, mas volta se não corrigirmos as causas.
Mas, atualmente deparamo-nos com outro tipo de fadiga que não passa com repouso e agrava ao longo do tempo. Estas são as situações que mais nos incomodam. Este sintoma significa que alguma coisa não está bem e inevitavelmente o desfecho não vai ser o que queremos. A esta fadiga chamamos cansaço metabólico ou celular e tem a ver com alteraçoes mitocondriais, ou seja, este organito celular produtor de energia está “doente” e em modo de sobrevivência.
A doença mitocondrial pode expressar-se por cansaço físico, mental, emocional que mantido levará a doenças. Em todas as doenças existe dano na mitocôndria.
Também escreve no seu livro que “a fadiga tornou-se uma verdadeira epidemia”. Face à gravidade do problema, estamos coletivamente a enfrentá-lo com a atenção que merece?
Infelizmente não estamos. Ninguém sabe o que fazer quando os doentes referem cansaço sem que haja uma doença diagnosticada. Invariavelmente os doentes ou pessoas que sentem cansaço, são aconselhadas a descansar, tirar umas ferias ou tomar calmantes ou antidepressivos. Hoje percebemos que descansar não é a forma de mimar e tratar a mitocôndria, e por isso, verificamos que esta medida não funciona. Há que entender que estamos todos a ser sobreviventes a um entorno para o qual não estamos preparados, o que obviamente implica agressão mitocondrial que se relaciona com cansaço e todas as doenças modernas que não param de aumentar e de drasticamente atingir pessoas independentemente da idade.
A medicina não está preparada para identificar e atuar na causa do cansaço.
Quando refere a vitalidade escreve que se “está a normalizar um estado que não é de todo normal”. Porquê?
Talvez pela fadiga ser muito frequente e atingir a maioria das pessoas, deparo-me com uma maior aceitação deste estado, dos maus padrões de saúde, comportamentos ou condições que são prejudiciais para o bem-estar físico, mental ou espiritual.
Erradamente, as pessoas aceitam viver em stresse crónico, em fadiga constante ou adotar hábitos alimentares pouco saudáveis como normais devido à sua prevalência na sociedade moderna. Estes estados não são normais, são corrigíveis e podem levar a problemas de saúde a longo prazo. É crucial reconhecer e abordar esses desequilíbrios antes que se transformem em doenças mais graves.
A falta de tolerância nas relações interpessoais também se deve à fadiga?
Sim, um dos principais sinais de fadiga é a irritabilidade, suscetibilidade ao stresse, falta de resiliência e descontrolo emocional. Nestas circunstâncias, a relação com outros pessoas é altamente afetada.
A doença também se relaciona com a fadiga? Pode dar-nos alguns exemplos?
O cansaço, fadiga ou SFC (síndrome de fadiga cronica) podem significar várias alterações metabólicas e celulares. A fadiga tem um nome: Inflamação, que levará seguramente a doença. Pessoas que manifestam um ou mais dos variadíssimos sinais de fadiga, provavelmente têm alterações mitocondriais que implicarão muitas alterações fisiológicas no nosso corpo.
Quais os principais sinais de que estamos a enfrentar fadiga crónica?
Existem vários sinais, para os quais devemos estar atentos. Se eles aparecerem aconselho a entender o que está a causar de forma a mitigar danos mitocôndrias. Entre os sinais a ter em atenção, deixo aqui alguns: Cansaço persistente, ou seja, a sensação de cansaço que não melhora mesmo após repouso ou sono adequado. Dificuldade de concentração, com problemas em manter o foco, tomar decisões ou realizar tarefas que anteriormente eram simples, nevoa mental. Problemas de memória, como o esquecimento frequente ou dificuldade em recordar informações recentes. Fraqueza muscular, que pode dificultar a realização de atividades diária, falta de força e energia. Cefaleias frequentes sem causa aparente. Também um sono não reparador, ou seja, a sensação de não estar revigorado mesmo após uma noite de sono, insónias, despertares noturnos. Tendência a sentir-se irritado, ansioso ou deprimido, stressado, e alterações repentinas de humor. Falta de interesse ou energia para realizar atividades que antes nos davam prazer. Problemas gastrointestinais, como distúrbios digestivos, inchaço, náuseas ou alterações no apetite, sono depois das refeições, língua pastosa.
Há grupos de pessoas mais suscetíveis a se encontrarem numa situação de fadiga crónica?
Claramente as pessoas que vivem mais desreguladas do ciclo circadiano, não respeitam as atividades que supostamente devem ser feitas de dia, não descansam à noite, comem quando o corpo não está preparado para receber comida, apresentam mais sinais da fadiga cronica. Certos grupos, como trabalhadores noturnos, novos pais, estudantes em períodos de exames, ou períodos de trabalho mais exigentes, podem estar mais propensos à fadiga crónica devido aos seus estilos de vida. As pessoas poli medicamentadas e demasiadamente expostas a toxinas e metais pesados. facilmente entrarão em fadiga cronica. Outro grupo que devemos prestar atenção, são as pessoas com problemas intestinais ou imunitários, porque provavelmente a debilidade imunitária levará mais facilmente à sobrevivência e reativação silenciosa de microrganismos, como vírus, bactérias, helmintas e fungos, uma das principais causas de fadiga
Os jovens também estão fatigados?
Infelizmente a fadiga é uma pandemia que afeta todas as pessoas independentemente da idade. Atualmente, os jovens estão demasiadamente expostos a agressores mitocondriais, como toxinas, stresse, açúcar, bebidas alcoólicas, comida processada, radiações eletromagnéticas, 5G, luz azul, medicamentos, vacinas, alteração dos ciclos circadianos e muitos outros fatores que agridem estas fábricas de energia do corpo e tiram energia. Para além de todo este contexto agredir a mitocôndria, debilita também a microbiota intestinal e consequentemente todo o sistema imunitário.
Que esperança nos traz o seu livro?
Consciencializar para o impacto negativo que a forma como vivemos atualmente tem na nossa energia e vitalidade e dizer convictamente que há solução.
É fundamental ajustar o nosso estilo de vida o mais possível à forma como os nossos antepassados viviam, forma que respeita a nossa genética e aumenta a vitalidade. Viver sem energia não é normal e este sinal deve ser entendido como uma desregulação endógena que tem de ser corrigida. É a forma como o corpo nos transmite que precisa de ajuda.
Podemos viver cheios de energia e combater o cansaço e para isso, explico no livro, de forma pratica, o que temos de fazer. São sete os passos que inúmero e descrevo detalhadamente como segui-los. No fim e para facilitar, apresento um resumo do que pode ser um programa de 14 dias para revitalizar todos os que se sentem cansados ou que precisam de mais energia.
O seu livro traz-nos o conceito de hormese e liga-o ao “nosso banco de energias”. Quer explicar este conceito aos leitores?
A hormese é um fenómeno biológico em que exposição a doses baixas a um agente stressor pode resultar em benefícios para o organismo, enquanto doses elevadas desse mesmo agente podem ser prejudiciais. Esse conceito tem sido estudado em várias áreas da biologia e da medicina e hoje cada vez mais está a assumir uma enorme importância no controlo da saúde, energia e longevidade.
Se nos reportarmos ao Homo sapiens, há mais de 300.000 anos e analisarmos ao longo da história o ambiente onde o homem evoluiu, entendemos mais facilmente este conceito de hormese que atualmente desperta tanta vontade de estudar e entender melhor. Simplificando, as situações desconfortantes e desafiantes a que o homem era exposto diariamente, permitiram a evolução da nossa espécie e desenvolvermos competências para fazer face às agressões a que o organismo era sujeito.
Atualmente, vivemos em ambientes controlados e constantes, para além de termos sempre comida e água à mão, por norma já não queremos estar durante muito tempo em ambientes desconfortáveis.
Os estímulos horméticos aos quais hoje estamos menos expostos, induzem a produção de uma serie de substâncias, como noradrenalina, oxido nítrico, sirtuinas, AMPK, hormonas da tiroide entre outras.
E, especialmente duas proteínas, a PGC-1α e Nrf 2, que desempenham um papel crucial na biogénese mitocondrial, o processo pelo qual novas mitocôndrias são geradas nas células.
Estas substâncias que ajudam a aumentar o número de mitocôndrias e a sua eficácia, são ativadas por vários estímulos horméticos, como o stress celular causado pelo calor das saunas, frio por banhos de gelo, exercícios intensos intermitentes, exercício em jejum, restrição calórica entre outros.
Resumidamente, mitocôndrias disfuncionais pequenas, danificadas e fracas através destes estímulos transformam-se em mitocôndrias fortes e saudáveis e por isso, quando implementamos algumas técnicas que descrevo no livro, ganhamos muita energia e sentimo-nos revitalizados.
“Não há soluções válidas para a fadiga crónica e a recuperação é quase impossível”. Este é um dos mitos que desmonta no seu livro. Que argumentos encontra para o desmontar?
As pessoas justificam a fadiga pelo excesso de trabalho ou acreditam que é da idade. Mas, a recuperação é possível desde que atuemos na causa. Para isso, é necessário entender o que está por detrás da fadiga. Neste livro explico quais as causas e como as podemos eliminar e recuperar a saúde da mitocôndria, organito celular responsável pela produção de energia no corpo.
Vírus, bactérias e vermes também estão ligados à fadiga? Porquê?
Nos últimos anos, tenho dedicado o meu trabalho ao estudo dos microrganismos e acredito que são uma das principais causas de cansaço e também de doenças córnicas.
Infelizmente as vacinas COVID têm sido agressivas para o sistema imunitário, tornaram-no mais débil o que permite que microrganismos se reativem. Esta brecha imunitária permite que alguns patógenos vivam, muitas vezes silenciosamente dentro de nós, alimentam-se dos nossos nutrientes e produzem substâncias verdadeiramente tóxicas para o nosso corpo. Os microrganismos, como vírus, bactérias, helmintas ou fungos, tiram-nos energia, debilitam o nosso corpo, cansam-nos e destroem as nossas mitocôndrias e correlacionam-se com quase todas as doenças cronicas. Produzem proteínas sistémicas com ação pró oxidativas e que precipitam o envelhecimento. Muitos estudos mostram que infeções por inúmeros microrganismos, numa primeira fase, tiram-nos energia, intoxicam-nos, desnutrem-nos, inflamam-nos e enganam o nosso sistema imunitário ao usurparem as nossas vitaminas, minerais, nutrientes, ferramentas celulares e enfim, aos poucos dominam o todo o nosso corpo, até os nossos pensamentos, gostos e condutas.
Usam a energia produzida na nossa mitocôndria, inflamam-nos, oxidam-nos e enganam o nosso sistema imunitário, muitas vezes já enfraquecido
O que se entende por “alimentação antifadiga”?
A mitocôndria saudável é a principal chave para ganharmos energia e por isso temos de tratá-la e acarinhá-la muito bem para podermos ter mais mitocôndrias e mais eficientes. Assim, é necessário fornecer-lhes os nutrientes que ela necessita para ser eficaz. Podemos aumentar o número de mitocôndrias, o seu tamanho e a sua eficácia. Dar-lhe ingredientes necessários para esta processo é um dos segredos para ter mais energia.
Neste meu livro, energiza-te, apresento uma lista dos melhores alimentos, bem como a forma como os devemos incluir no nosso dia a dia, para combatermos eficazmente a fadiga.
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