O conceito de bexiga hiperativa (BHA) é definido pela International Continence Society (ICS) como o seguinte quadro sintomatológico: urgência miccional com ou sem incontinência, habitualmente acompanhada de frequência urinária (mais de 8 micções por dia) e noctúria (necessidade de acordar 1 ou mais vezes durante a noite para urinar). Urgência, o elemento chave da bexiga hiperativa, define-se como o desejo súbito de urinar, difícil de adiar.
A bexiga hiperativa é primariamente um distúrbio neuromuscular, no qual o músculo da bexiga se contrai inapropriadamente enquanto esta se enche, o que pode levar a perdas de urina nos momentos menos apropriados e a grande desconforto.
Pode resultar de causas neurológicas, tais como traumatismo da espinal medula, AVC, esclerose múltipla, demência e doença de Parkinson ou de causas não neurológicas, tais como insuficiência cardíaca, insuficiência venosa periférica, ou toma de diuréticos.
Há ainda um grande grupo, dito idiopático, em que a bexiga hiperativa ocorre na ausência de patologia neurológica, metabólica ou outros problemas conhecidos da bexiga.
Outros fatores como alterações de comportamento ou de hábitos (por exemplo, chegar a casa ou pôr a chave na porta), estímulos auditivos (por exemplo, ouvir água a correr), frio, consumo de comidas picantes, bebidas alcoólicas, gaseificadas ou com cafeína, podem desencadear episódios de bexiga hiperativa.
No inverno, para além de o frio ser já de si um estímulo, o facto de nos vestirmos com várias camadas de roupa pode ser um fator adicional para agravar episódios de bexiga hiperativa, nomeadamente transformar um episódio de urgência numa “urge-incontinência” com perda significativa de urina, especialmente em pessoas com limitações de movimentos.
Este é um problema muito frequente, sobretudo a partir da meia-idade (40 anos). A prevalência da bexiga hiperativa aumenta com a idade, contudo não deve ser encarada como parte do envelhecimento.
Nos EUA, de acordo com o estudo NOBLE (National Overactive Bladder Evaluation), a prevalência global da bexiga hiperativa é semelhante em homens (16%) e mulheres (16,9%), apesar de esta se desenvolver em idades mais avançadas nos homens. Um estudo efetuado em 6 países europeus determinou uma prevalência semelhante.
Um estudo efetuado em Portugal, pelo serviço de Epidemiologia da FMUP em 2008, calculou prevalências de cerca de 30%, mas essa maior prevalência poderá dever-se a diferenças metodológicas do estudo.
O diagnóstico e tratamento adequados deparam-se com uma dificuldade: as pessoas habitualmente desvalorizam os sintomas de BHA, por acharem que são “normais da idade”.
O diagnóstico da bexiga hiperativa pode ser efetuado com base na história clínica e através de exame físico, em conjunto com alguns exames e análises laboratoriais muito simples. Quanto ao tratamento da bexiga hiperativa, este é multimodal e visa reduzir os sintomas debilitantes, de forma a melhorar a qualidade de vida. Podem considerar-se três linhas de intervenção: educacional e comportamental, farmacológica ou interventiva.
A primeira centra-se nas alterações do estilo de vida e modificações comportamentais e inclui medidas dietéticas, perda de peso, regulação intestinal e otimização de outras comorbilidades, o treino vesical e a terapia muscular do pavimento pélvico.
A terapia farmacológica potencia os resultados das medidas conservadoras, sendo que hoje em dia existem fármacos eficazes com adequada segurança e tolerabilidade.
Na terceira linha terapêutica incluem-se terapias minimamente invasivas como toxina botulínica e neuromodulação sagrada ou opções cirúrgicas.
A bexiga hiperativa leva à perda de qualidade de vida dos doentes e altera de forma muito vincada as suas rotinas pessoais, sociais e profissionais. Felizmente hoje em dia a bexiga hiperativa tem boas opções de tratamento, pelo que esconder o problema não é um bom remédio.
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As explicações são do médico Paulo Temido, especialista em Urologia no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra (CHUC) e membro da Associação Portuguesa de Neuro-urologia e Uro-ginecologia (APNUG).
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