Muitas pessoas sofrem de bexiga hiperativa sem saberem exatamente so que de se trata. O que significa ter bexiga hiperativa?
Chamamos bexiga hiperativa a uma síndrome, ou seja, a um conjunto de sintomas que é caracterizado pela urgência miccional, aumento da frequência urinária, noctúria - acordar de noite para urinar - e frequentemente a incontinência urinária. A queixa principal é a de uma necessidade imperiosa de urinar que por vezes é impossível de dominar e pode causar incontinência.
Sendo um problema que atinge tanto homens como mulheres, de todas as idades, de que forma se pode prevenir?
Embora a bexiga hiperactiva não tenha uma causa definida, pode estar associada a várias patologias, sendo por vezes possível prevenir o seu aparecimento controlando o peso corporal, fazendo exercício físico, evitando bebidas gasificadas, café e álcool.
A bexiga hiperativa tem um grande impacto no dia-a-dia, pois como os sintomas aparecem inesperadamente geram insegurança e ansiedade
Como se diagnostica?
O diagnóstico é essencialmente baseado na história clínica, sendo necessário realizar alguns exames para excluir outras patologias como análises de urina e ecografia. Por vezes em casos de dúvida pode ser necessário realizar um exame urodinâmico.
Mas ter a bexiga hiperativa é uma doença?
A bexiga hiperativa não é propriamente uma doença, mas antes um conjunto de sintomas que não têm uma causa específica. O que a caracteriza é a vontade súbita e eminente de urinar que pode causar incontinência e está habitualmente associada ao aumento da frequência urinária quer diurna, quer noturna.
Existe a tendência de se associar os sintomas da bexiga hiperativa à incontinência urinária. Em que aspetos se diferenciam?
Incontinência urinária refere-se à perda involuntária de urina que pode ter vária causas. As duas causas mais comuns de incontinência são a incontinência de esforço e a incontinência de urgência. Na primeira existe uma perda de urina associada a um esforço abdominal, na segunda existe uma perda associada a uma vontade súbita de urinar, ou seja, a uma bexiga hiperativa.
Que complicações pode a doença trazer para o dia-a-dia do doente?
A bexiga hiperativa tem um grande impacto no dia-a-dia, pois como os sintomas aparecem inesperadamente geram insegurança e ansiedade. Tal obriga a programar melhor as atividades diárias, sobretudo quando fora de casa. Assim a bexiga hiperativa é causa de problemas laborais, de isolamento social, perturbações do sono e de sintomas depressivos que têm impacto na qualidade de vida do próprio e dos seus familiares. Na população idosa é também causa de quedas e fraturas ósseas que agravam os deficits motores e quando associada a incontinência é causa frequente de admissão em lares de terceira idade.
A bexiga hiperativa é tratável?
Sim, existem vários tratamentos disponíveis para a bexiga hiperativa. Desde logo a mudança de alguns hábitos já pode ajudar. Existem atualmente vários fármacos por via oral que são eficazes na maior parte dos casos. Nos casos refratários é necessário recorrer a injeções intra-vesicais ou a cirurgias.
Existe uma causa definida de bexiga hiperativa?
Na maior parte dos casos não. No entanto nalguns doentes a causa é neurogénica como por exemplo doentes com doença de Parkinson ou esclerose múltipla.
Que conselhos sugere a alguém que viaja para controlar este problema?
Pode começar por reduzir a ingestão hídrica nas horas antes de uma viagem, evitar café, chá, bebidas alcoólicas e gaseificadas. Pode também tomar medicamentos que relaxem a bexiga antes de iniciar essa viagem.
A bexiga hiperativa é muitas vezes subdiagnosticada por constrangimentos do doente. Quem o pode ajudar?
Se tiver sintomas de bexiga hiperativa deve contactar o seu médico de família, que poderá realizar alguns exames e caso necessário orientar para uma consulta de urologia. Além disso, foi lançada em Portugal uma campanha de sensibilização “Na Bexiga Mando Eu” e recentemente o blogue “Comece Hoje”, um projeto online que disponibiliza informação sobre a doença e que promove um estilo de vida saudável que favoreça uma melhoria na qualidade de vida de quem é afetado direta ou indiretamente pela doença.
Miguel Ramos é médico especialista em Urologia no Centro Hospitalar do Porto e vice-presidente da Associação Portuguesa de Urologia (APU).
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