"60% da população mundial é um terrível número", admite Leung ao jornal britânico The Guardian. "Se isso vier a acontecer, mesmo com uma taxa de mortalidade baixa, de 1%, o número de vítimas mortais por causa deste novo vírus poderá ser enorme", referiu o responsável a caminho de uma reunião da Organização Mundial da Saúde (OMS) com 400 especialistas a propósito do novo surto cujo epicentro é Wuhan, na China.
O aviso de Gabriel Leung surge depois de a própria OMS ter afirmado que os recentes casos de coronavírus em pessoas que nunca visitaram a China podem ser a apenas a "ponta do icebergue". Também hoje o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, afirmou que a epidemia representa uma "ameaça muito grave para todo o mundo".
De acordo com Leung, a maior parte dos especialistas acredita que cada pessoa infetada possa transmitir o coronavírus a cerca de 2,5 pessoas, o que resulta numa taxa de ataque de 60 a 80%. Por isso, para este especialista em Saúde Pública, a prioridade é verificar se as medidas que estão a ser aplicadas na China - como a quarentena e os cuidados médicos escolhidos - estão a ter efeito na contenção do vírus.
"Vamos assumir que as medidas estão a funcionar", diz Gabriel Leung. "Mas quanto tempo podem fechar as escolas? Por quanto tempo podem fechar uma cidade inteira? Por quanto tempo conseguem impedir as pessoas de irem aos centros comerciais? E se retirarmos essas medidas, voltará tudo ao mesmo? Estas são as principais dúvidas", questiona.
Se alguém de um local de quarentena, ou, por exemplo, num cruzeiro, testar positivo, todas as outras pessoas devem voltar a estar 14 dias de quarentena, sugere ainda Gabriel Leung.
Veja em baixo o mapa interativo com os casos de coronavírus confirmados até agora
Se não conseguir ver o mapa desenvolvido pela Universidade Johns Hopkins, siga para este link.
Mais de mil mortos
De acordo com as autoridades de saúde de Pequim, citadas pela agência Associated Press, o número total de mortos nas últimas 24 horas subiu para 1016. O número total de casos confirmados é de 42.638, dos quais 2.478 foram confirmados nas últimas 24 horas em território continental chinês.
Além das 1.016 mortes confirmadas em território continental chinês, há também uma vítima mortal na região chinesa de Hong Kong e outra nas Filipinas.
O novo coronavírus foi detetado em dezembro, em Wuhan, capital da província de Hubei (centro).
O balanço ultrapassa o da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês), que entre 2002 e 2003 causou a morte a 774 pessoas em todo o mundo, a maioria das quais na China, mas a taxa de mortalidade permanece inferior.
Além do território continental da China e das regiões chinesas de Macau e Hong Kong, há mais de 350 casos de contágio confirmados em 25 países. Na Europa, o número chegou na segunda-feira a 43, com quatro novas infeções detetadas no Reino Unido.
A situação motivou a marcação de uma reunião de urgência de ministros da Saúde dos países da União Europeia para quinta-feira, em Bruxelas, enquanto a Organização Mundial de Saúde enviou uma equipa de especialistas para a China para acompanhar a evolução.
Vários países já começaram o repatriamento dos seus cidadãos de Wuhan, uma cidade com 11 milhões de habitantes, epicentro da epidemia, que foi colocada sob quarentena, à semelhança de outras cidades da província de Hubei, afetando mais de 56 milhões de pessoas.
As saídas e entradas estão interditadas pelas autoridades durante um período indefinido, e diversas companhias suspenderam as ligações aéreas com a China.
A Comissão Europeia ativou no dia 28 o Mecanismo Europeu de Proteção Civil, a pedido da França.
A comunidade científica está a tentar encontrar uma vacina contra a pneumonia, já que as atuais não protegem contra o novo coronavírus.
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