Carlos Céu e Silva é presidente da associação Olhar  – Associação Pela Prevenção e Apoio à Saúde Mental

Quais são os principais problemas de saúde mental que afetam, atualmente, os portugueses?
A sociedade portuguesa está provavelmente a viver o seu período mais doentio de toda a sua existência. 
A angústia deste tempo gera a implosão de manifestações depressivas severas, com um impacto tanto a nível individual como geral. As consequências são várias, mas as principais serão a existência de pessoas pouco preparadas emocionalmente para enfrentar os desafios da vida e um desinvestimento cada vez maior para com tudo.
Para além de um aumento da depressão, esta situação reflectir-se-á no aumento de quadros de adição, doenças mentais, comportamentos suicidários, psicopatia.
Quais são as causas? 
Atualmente, os portugueses são confrontados com duas realidades antagónicas: conscientes de que foram defraudados porque as regras sociais a que estavam submetidos mudaram bruscamente e a ideia de ausência de futuro para os próprios e para as gerações seguintes. Ainda com a agravante, das pessoas não serem ouvidas ou pelo menos respeitadas no seu inconformismo.
Esta revolta promove cenários angustiantes e de desespero, de muita solidão interior. A depressão é e será a voz  mais ouvida, através do seu silêncio aniquilador.
O perigo está em relação ao futuro próximo. Que país vamos ter, com pessoas desistentes e tristes? Este é o lado negro, que mesmo com a crise, poderia ter sido trabalhado doutra forma.
Que tipo de ajuda oferece a Olhar?
A Olhar tem um serviço de psicologia a trabalhar todos os dias, excepto domingo, e porque acredita no que faz, reconhece a importância da ajuda terapêutica, para a execução de respostas eficientes promovendo no indivíduo, condições para gerir a sua vida em todos os aspectos. Só um indivíduo em equilíbrio pode contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade saudável. A Olhar nos seus 11 anos de existência, já realizou mais de 37.000 consultas, sendo constituída por 25 profissionais.
Quais são os sintomas que devem levar a pessoa a pedir ajuda psicológica?
Achamos que a intervenção psicológica deveria ocorrer em períodos distintos ao longo da vida de uma pessoa. Na infância, início e/ou durante a adolescência, em adultos e na idade avançada. O apoio psicológico é o recurso atual mais eficiente, para a pessoa poder falar de si e desvendar-se em segurança.
Para esta realidade ocorrer, teríamos que ter uma sociedade emocionalmente bem estruturada e para isso acontecer, tem que haver um interesse político e um investimento que teria que começar logo no infantário.
Por outro lado, toda e qualquer manifestação sentida pela pessoa, e que esteja a causar perturbação no próprio ou nas pessoas à sua volta, é um sinal para recorrer a um psicólogo. Estas manifestações têm a ver com alterações de humor de toda a ordem, que podem ir de uma híper-sensibilidade a estádios maníacos, alterações alimentares, acontecimentos de vida inesperados, como divórcio, desemprego, morte, incapacidade de resolução de problemas práticos, falta de autoconhecimento, impulsividade, entre outros.
Como mensagem final, qual é o “truque” para enfrentar a atual conjuntura económico-social? 
O truque está em acreditar nos recursos individuais e não reprimir o que se sente. Criar condições para se fortalecer a médio prazo e ganhar cada vez mais consciência como ser social, para intervir mais directamente nos processos que competem a todos. Ser mais autónomo, mas não indiferente; ser mais assertivo, e menos autocentrado; saber pensar em conjunto e não apenas com a perspectiva individual; aprender a ser.

Por Maria João Ramires