Numa relação amorosa saudável, existe reciprocidade de sentimentos, com trocas de afetos, cumplicidades a dois, cuidados e atenção. Um relacionamento desta natureza não carece, necessariamente, de se reger pela simetria ou intensidade dos sentimentos, ou por dar e receber em partes iguais. Nem têm, necessariamente, de compartilhar um vasto conjunto de interesses, características de personalidade ou pontos em comum, mas de respeitar e valorizar essa mesma diversidade individual.
No entanto, nem todos os relacionamentos amorosos são esta via de dois sentidos, de proporções relativamente equilibradas. Há amores patológicos, com pessoas que amam demasiado, podendo ou não, exigir igual retribuição ao parceiro.
Contrariamente ao amor saudável, o amor patológico, mais prevalente nas mulheres do que nos homens, caracteriza-se por ser obsessivo, descontrolado, excessivo e totalmente centrado no parceiro, e por significativa dependência emocional.
Quando gera mais sofrimento que bem-estar
O amor deixa de ser saudável quando se persiste num relacionamento que traz mais angústia e tristeza do que momentos felizes ou quando gera mais sofrimento do que satisfação e bem-estar (emocional e físico).
É patológico quando se insiste num relacionamento destrutivo, baseado no medo, na intimidação ou na insegurança. Ou quando ao outro se desculpa e se legitima sistematicamente a melancolia, o destrato, o mau humor, a indiferença, o mau feitio ou o desprezo, com os problemas que teve na infância, porque o trabalho corre mal ou porque bebeu demais.
A tolerância inesgotável para com valores, atitudes ou comportamentos indesejáveis que podem, inclusive, comprometer a saúde e integridade física, refletem, igualmente, amor em demasia.
O amor patológico também se define por desconfiança e ciúmes desmedidos e tentativas constantes de controlar o companheiro.
A vida das mulheres que apresentam quadros clínicos de amor patológico gira, sobretudo, à volta dos companheiros, esquecendo-se de si próprias e abandonando grande parte das atividades e interesses que antes realizada e eram prazerosas. Do mesmo modo, fatores que contribuem para a realização pessoal, como os cuidados parentais, o investimento na profissão ou a vivência com familiares, amigos ou colegas, deixam de se constituir como importantes ou prioridades.
Causas
Várias causas concorrem para o amor patológico, no entanto, há maior suscetibilidade nas pessoas que desde cedo vivenciaram experiências marcadas por carências afetivas, situações de abandono, abusos (psicológico, físico ou sexual), violência doméstica, negligência parental ou relações familiares conflituosas.
O desenvolvimento de crenças disfuncionais desde os primeiros anos de vida, perceções e pensamentos errados ou distorcidos, nomeadamente relacionados com relações de apego e com os afetos, levam estas pessoas a hipervalorizar o parceiro e a acreditar que só ele poderá dar significado à vida.
Riscos para a saúde
Decorrente da obsessão de amar demais e do sobreinvestimento cognitivo, emocional e comportamental que lhe está associado, surgem sérios riscos para a saúde mental, designadamente, perturbações da ansiedade, perturbações do humor, perturbações depressivas e perturbações obsessivo-compulsivas.
A consulta psicológica pode ser uma enorme mais-valia para quem padece de amor patológico.
O objetivo principal é ajudar a construir um novo modelo de amor, promovendo mudanças nos processos de vinculação com o parceiro, com modificação de crenças desadaptativas, e desenvolvimento de perceções e pensamentos mais realistas e racionais.
No âmbito da consulta psicológica, a pessoa descobre (aprende) novas formas de se relacionar consigo própria, aumentando o amor próprio, a confiança e a segurança, assim como a capacidade de viver um amor recíproco e gratificante, desprovido do sofrimento que o vício de amar em demasia provoca.
Um artigo da psicóloga Lina Raimundo, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.
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