As relações íntimas são sempre desafiantes, mas existem situações que podem aumentar esses desafios ou até torná-los intransponíveis. Com a pandemia da COVID-19, muitos casais sofreram alterações nas suas dinâmicas, despoletando conflitos e chegando a colocar em causa a continuidade da relação. A taxa de divórcios aumentou e não é de admirar que a procura por ajuda profissional tenha também aumentado.
Em situações em que as discussões são mais frequentes e onde se perde facilmente a paciência, o impulso imediato é a distância, como mecanismo de fuga e de autopreservação. A maioria das pessoas concordaria que é necessário, de vez em quando, algum tempo longe do(a) parceiro(a), especialmente se estão juntos há muito tempo ou de, pelo menos, terem a liberdade de terem o seu próprio tempo.
Na verdade, é saudável cada elemento do casal ter os seus próprios interesses ou hobbies e manter laços sociais importantes fora do relacionamento. Por exemplo, não precisamos gostar de fazer jardinagem apenas porque o(a) nosso(a) parceiro(a) gosta, mas podemos ajudá-lo(a) a preparar as ferramentas para uma tarde divertida no jardim. E, enquanto ele(a) trata do jardim, temos algumas horas para fazer algo que gostamos.
Em tempos normais, estas atividades sedimentam a nossa individualidade, o nosso autoconhecimento e até nos ajuda a criar um significado para as nossas vidas. Além disso, a experiência de vivências individuais também promove o diálogo posterior entre o casal, porque significa que haverá mais a partilhar. Este é um aspeto importante do autocuidado e da identidade de cada um. Sem esse tempo pessoal, podemos ter a sensação crescente de que estamos a anular-nos em prol do relacionamento e isso traz consequências inevitáveis.
A terapia de casal é uma ótima ferramenta para dotar os casais de competências de comunicação e de educação emocional, não importa em que situação está o seu relacionamento. Mas é altamente recomendável quando os elementos do casal começam a demonstrar sinais específicos.
Se há um problema de relacionamento com o qual o casal está a lidar atualmente ou simplesmente deseja melhorar a comunicação com seu parceiro, a terapia de casal cria um ambiente seguro para explorar as preocupações de ambos os elementos. No entanto, se não tem certeza de que a terapia de casal possa ser adequada para a sua situação, aqui estão alguns sinais de que pode ser importante agendar uma consulta.
1. Perda de confiança. Se houve uma quebra de confiança, pode ser difícil curar e avançar no relacionamento. Esta pode ser uma das lesões emocionais mais dolorosas a ultrapassar. A confiança geralmente é perdida quando um parceiro não respeita um limite importante de relacionamento, estabelecido ou pré-acordado (por exemplo, fidelidade). Todavia, embora muitas vezes pensemos em infidelidade física ou emocional, existem outras maneiras pelas quais a confiança pode ser perdida. A terapia de casal pode ajudar a restabelecer uma sensação de segurança no seu relacionamento.
2. Existe um afastamento emocional. Às vezes, os casais se fecham como resultado de um evento traumático, mas a maioria das vezes é apenas o stresse da vida quotidiana e das rotinas. Se as vossas conversas parecem superficiais ultimamente, ou se se afastou emocional ou fisicamente do(a) seu(sua) parceiro(a), a terapia de casal pode ajudar-vos a reconectarem-se.
3. Irascibilidade constante e discussões frequentes. Se perceber que estão a ter mais discussões ou que parece estarem a repetir o mesmo desacordo repetidamente, e que a irritação é uma constante, a terapia de casal pode mostrar como quebrar padrões de comunicação prejudiciais e fazer um trabalho de psicoeducação emocional. Um bom profissional pode ensinar técnicas para resolver melhor os problemas com o(a) seu(sua) parceiro(a). Se houver ataques, agressividade passiva ou bloqueios no seu relacionamento, esses são sinais de que algo precisa mudar.
4. Dependência ou outras preocupações de saúde mental. Se tem preocupações sobre a saúde mental ou abuso de substâncias no seu relacionamento, a terapia de casal é um bom lugar para começar a descobrir a origem do problema, podendo ajudá-lo(a) a tomar medidas para resolvê-lo.
Lembre-se que viver a dois não é uma tarefa fácil e que o tempo e a rotina desgastam a relação e alteram-na de múltiplas formas. Todavia, isso não significa que a relação esteja condenada. Se o casal está a passar por uma fase desafiante e percebe que não consegue ultrapassá-la por si mesmo, então é uma boa altura para requerer ajuda profissional.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND - Psicologia Clínica e Forense.
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