Segundo Kate Sweeny, psicóloga e professora na Universidade da Califórnia, tão difícil como o diagnóstico de uma patologia é, segundo as suas investigações, o “tempo de espera” pelos resultados.
Tome-se como exemplo o processo de aguardar pelos resultados de uma biópsia que poderão revelar o diagnóstico de um cancro. De acordo com a professora americana, esta pode ser a fase mais difícil de gerir, transcendendo, em alguns casos, o momento de revelação do diagnóstico e o próprio tratamento da doença (ainda que altamente dolorosos).
E por que é o processo de “esperar pela verdade” tão doloroso? Segundo as investigações, este processo envolve dois elementos incompatíveis com o bem-estar do ser humano: a incerteza e a impotência – sendo que a sensação de controlo é um fator relevante para o bem-estar e “paz interior” de qualquer ser humano.
Ainda assim estas emoções negativas, como a incerteza e a impotência, desempenham funções importantes, apesar do impacto negativo que trazem ao nosso bem-estar. Por exemplo, o medo do futuro (provocado pela incerteza) e a sensação de “estar perdido” (causada pela falta de controlo) facilitam com que a pessoa pense nos piores cenários possíveis e, por sua vez, possa identificar algumas soluções (realistas e produtivas) a colocar em prática – o que pode, por consequência, providenciar uma “falsa sensação de controlo” e algum conforto.
Os estudos de Kate Sweeny apontam para uma potencial ferramenta a colocar em prática nestes momentos: recorrer à distração. Contudo, a psicóloga não se refere à distração proporcionada pelas tarefas do dia-a-dia, como as rotinas da casa ou o trabalho, até porque tendem a não ser suficientes, mas sim para a distração provocada por atividades extremamente prazerosas, que nos fazem perder a noção do tempo, pois estamos totalmente envolvidos nessa mesma tarefa e, por momentos, “esquecemos” totalmente a nossa dor e o alívio que sentimos nesses momentos facilita olhar para a situação com “outros olhos” (uma visão mais realista e objetiva, menos emocional, irracional, assustadora).
Outro elemento importante é o suporte social. Para além do “colo emocional”, permite falar sobre a incerteza e, por momentos, com a discussão de estratégias, planos para o futuro, ganhos e perdas associados a um potencial diagnóstico, existe uma redução dos níveis de ansiedade – a pessoa organiza a informação, dá-lhe novos significados, encontra-se parcialmente distraída do sofrimento, enfim, ganha uma sensação de papel ativo para a mudança, para gerir a complexidade emocional da situação (“Ok, eu sou capaz!”, “Vai ser horrível, mas eu confio em mim para isso, podendo contar com o apoio deste(s) familiar(es)”).
Como terceiro elemento, destaca-se a aceitação: aceitar o que não podemos controlar e focar no que, apesar de limitado, podemos fazer (por exemplo, investir no autocuidado da saúde física e mental, como escrever um diário terapêutico sobre o que sentimos, praticar yoga e exercício físico). A aceitação impede sentimentos como a zanga, raiva, frustração (e, quando aparecem, surgem com uma menor intensidade, pois são emoções naturais, que fazem parte do nosso reportório, enquanto seres humanos), assim como o predomínio de uma sensação de falha associada à impotência.
Atribuir um significado à experiência pode ser também uma ferramenta, uma vez que permite orientar o presente e o futuro, em função de novos objetivos, princípios que regem o dia-a-dia ou novas necessidades emocionais. É importante impedir que a incerteza nos paralise, necessitamos de continuar em ação para o bem-estar. O único momento que podemos controlar é o presente, portanto: vamos desfrutá-lo!
Este processo (de longa e dolorosa) espera aplica-se a diversos outros momentos da vida humana e não apenas a condições de doença, como são exemplo situações em que a pessoa aguarda os resultados de uma candidatura a um local de trabalho ou a resposta a um pedido de ajuda social e/ou financeira.
Se sente que vive na incerteza, que necessita de mais respostas (todas aquelas que conseguimos encontrar e que nos podem dar paz, estabilidade, segurança) e desfrutar do que o(a) rodeia, peça ajuda psicológica especializada. Não está sozinho(a)!
Em terapia, com recurso ao autoconhecimento, identificação de estratégias de regulação das emoções e um espaço seguro e ausente de críticas, é possível recuperar o seu bem-estar, adaptando o seu dia-a-dia e comportamentos aos seus objetivos e expectativas para a sua vida, a curto e a longo prazo.
As explicações são de Sofia Gabriel e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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