Há alturas nas nossas vidas em que todos nós procrastinamos. Segundo Fuschia Sirois, psicóloga, investigadora e docente no Departamento de Psicologia da Universidade de Durham, na Inglaterra, estima-se que cerca de 80% a 95% dos alunos universitários procrastinam pelo menos uma vez, de forma ligeira, e cerca de 50% fazem-no de forma crónica. Estima-se ainda que 15 a 25% dos adultos procrastinam de forma crónica no trabalho.

Com procrastinar, referimo-nos ao ato de adiar, de forma desnecessária e voluntária, algo que pode estar relacionado a qualquer área da nossa vida (laboral, académica, relacional, saúde). Apesar de toda a procrastinação pressupor um adiamento, nem todo o adiamento é procrastinação. Podemos adiar um trabalho como forma de organização estratégica de tempo – por exemplo, adiar uma tarefa em prol de outra, que tem prioridade e urgência no tempo; ou adiar continuar uma tarefa laboral que precisa de ser revista por um superior, para prosseguir apenas após o feedback.

Assim, a procrastinação caracteriza-se por um adiamento escusado, na ausência de uma boa razão para o fazer, mesmo sabendo que isso poderá trazer consequências negativas! Vamos ser sinceros, por vezes, sabemos exatamente o que fazer, como o fazer e quando o fazer. Podemos até organizar o tempo de forma eficaz e, ainda assim, não o fazermos. Isso revela que o problema pode não estar relacionado com uma má gestão de tempo. Também não é uma questão de preguiça e a prova disso é que, tendencialmente, alguém que procrastina tende a ocupar o tempo com outras tarefas “menores”, em vez de ficar parado.

Ou seja, a procrastinação não é simplesmente uma questão de preguiça, ou de má gestão de tempo, mas trata-se sim de um problema de regulação emocional. Pode parecer estranho. Afinal, o que é que as emoções têm que ver com aquela tarefa maçadora? Ou com aquele trabalho importante que deixa para amanhã? No fundo, as tarefas que procrastinamos são as que despertam em nós emoções e estados de humor desconfortáveis, são as que consideramos aborrecidas, que odiamos, ou que nos deixam ansiosos. Ou seja, quando procrastinamos, não estamos a evitar a tarefa em si (que sabemos fazer e, por vezes, até queremos fazer), mas estamos a evitar as sensações desconfortáveis a ela associadas.

Evitamos estas tarefas, mesmo conhecendo as suas consequências, porque recebemos um alívio imediato, é uma forma de regular o humor de forma rápida e focada no curto prazo. O que funciona como uma recompensa imediata: ao evitar uma tarefa, sentimo-nos melhor e isso aumenta a probabilidade de voltarmos a utilizar a mesma estratégia, entrando num círculo vicioso. Por essa mesma razão, tendemos a procrastinar tarefas importantes. É apenas uma tentativa de gerir, não a tarefa, mas o medo de falhar ou a ansiedade associada à mesma, evitando-as.

O que podemos fazer para combater a procrastinação?

1. Aprender a gerir e conviver com as emoções desagradáveis que as tarefas podem criar em nós é fulcral para conseguirmos fazê-las. Podemos sentir-nos desconfortáveis durante momentos, principalmente em antecipação, mas importa lembrar que esse desconforto vai passar.

2. Avaliar os prós e contras de adiar a tarefa pode ser uma boa forma de fazer uma decisão racional e ponderada, compreendendo que o risco de enfrentar o nosso desconforto, provavelmente, é menor do que evitá-lo.

3. Definir objetivos específicos, mensuráveis, alcançáveis, relevantes e temporais. Por vezes, as tarefas trazem emoções de valência negativa porque temos objetivos exigentes e pouco adequados ao contexto. Redefinir estes objetivos pode ser uma boa forma de baixar o desconforto, e gerir as expetativas.

4. Antecipar possíveis barreiras ao objetivo e planear soluções é um passo importante para, previamente, se preparar para enfrentar possíveis obstáculos à tarefa.

5. Autocompaixão e compreensão são igualmente importantes quando procrastinamos. Mais do que culparmo-nos pela estratégia que encontrámos, importa compreender que o estamos a fazer para fugir de algo difícil para nós. Os estudos indicam que estudantes que perdoam a sua procrastinação, acabam por procrastinar menos. Em oposição, quanto maior a crítica em relação à nossa procrastinação, maior a probabilidade de a perpetuar.

Importa compreender que as consequências nocivas da procrastinação vão além da mais óbvia, o mau desempenho. Esta estratégia afeta também a saúde física, com impactos no sistema imunitário (criando maior vulnerabilidade para gripes e outras doenças relacionadas com o stress), e psicológica, estando associada a maiores taxas de depressão, ansiedade e stress. Por isso mesmo, pode também surgir como sintoma de perturbações psicológicas ou baixa autoestima.

Se a procrastinação afeta a sua vida de forma significativa, saiba que pode procurar ajuda profissional e aprender a lidar, de uma forma mais saudável, com os seus afazeres e com as suas emoções.

Um artigo dos psicólogos clínicos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.