![“Da próxima vez que der por si a procrastinar, em vez de se criticar, pergunte-se: porquê?” - Andreia Ferreira, Psicóloga clínica](/assets/img/blank.png)
A procrastinação define-se por um impulso voluntário para adiar uma tarefa associada a “estados emocionais negativos” como o aborrecimento, a ansiedade, etc., seguido pelo envolvimento numa atividade alternativa mais estimulante e menos aversiva, por forma a evitar a tarefa inicial. Este comportamento mantém-se mesmo quando estamos cientes das consequências negativas que podem daí advir. A procrastinação está, portanto, habitualmente relacionada com uma dificuldade humana na regulação das emoções e do comportamento, bem como na identificação de prioridades.
É cada vez mais comum encontrarmos soluções, dicas e estratégias para eliminar a procrastinação. Já ouvimos falar de dividir uma tarefa grande em objetivos mais pequenos ou começar nem que seja só por cinco ou dez minutos. A maioria destas estratégias tem muitas vezes dois problemas: 1) estarem agregadas à expetativa de resolver definitivamente e eliminar este hábito e 2) funcionarem como estratégias de tipo “penso rápido” que têm um bom impacto a curto prazo, mas que a longo prazo perdem a sua força e não resultam porque não estão a ter em consideração as nossas emoções. Trabalhar a procrastinação é mais do que “começar a fazer”. Porque é que estas estratégias focadas no curto prazo e que propõem eliminar rápida e definitivamente a procrastinação não funcionam?
Precisamente por isso! Primeiro, não há uma solução definitiva para a procrastinação. Adiar o desconforto, qualquer que ele seja, é uma tendência humana que não é possível eliminar completamente. Desta forma, gerir a procrastinação implicará necessariamente avanços e recuos, treinar novas competências e falhar para tentar novamente! Por outro lado, não existe uma estratégia universal que funciona para todos. Trabalhar a procrastinação exige compreender e adequar as respostas dadas ao problema que, no caso, não é o adiamento de uma qualquer tarefa por si só, mas o que está na base desse mesmo adiamento. Qualquer estratégia de gestão da procrastinação deverá ter em conta as características de personalidade da pessoa, a sua capacidade de gestão de emoções e pensamentos difíceis, entre outros fatores que estão na base deste comportamento.
Para gerir a procrastinação é importante trabalhar a gestão das emoções e ter em consideração o que é importante na vida de cada pessoa.
Sabe-se que não há só um fator que leva à procrastinação. Esta pode associar-se a diferentes razões:
1) traços de personalidade como a impulsividade, o autocontrolo ou o perfecionismo. Por exemplo, o perfecionismo, ou seja, a procura pela perfeição e estabelecimento de padrões elevados de desempenho, acompanhado de avaliações excessivamente críticas, contribui para o evitamento perante a necessidade de fazer perfeito sem espaço para a falha;
2) pensamentos automáticos negativos como “não vou conseguir” e “não tenho capacidades” que irão favorecer o surgimento de emoções difíceis como o medo, a ansiedade ou a vergonha. Quando nos confrontamos com estes estados emocionais, por forma a sentirmos um alívio imediato do desconforto, adiamos a tarefa o que, a longo prazo, também pode ser uma fonte destas mesmas emoções difíceis;
3) dificuldades relacionadas com a motivação como a falta de relevância pessoal da tarefa, a falta de consequências positivas imediatas ou o facto de a tarefa poder não se enquadrar em determinados valores pessoais.
Para gerir a procrastinação é importante trabalhar a gestão das emoções e ter em consideração o que é importante na vida de cada pessoa.
São diversas as razões que nos fazem querer responder a emails em vez de acabar uma apresentação. Todos nós procrastinamos em alguma área da nossa vida e, por isso, todos nós enquanto pessoas que procrastinam somos mais do que “procrastinadores”, independentemente da razão pela qual estivermos a fazê-lo. E somos mais do que preguiçosos (mesmo que tenhamos momentos em que cedemos à preguiça na nossa vida). É fundamental afastarmos este rótulo de procrastinadores, que só irá reforçar emoções difíceis que dificultarão a vontade para produzir e realizar.
Da próxima vez que der por si a procrastinar, em vez de se criticar, pergunte-se: porquê?
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