Sempre que nasce uma criança, nasce uma nova forma de família, novos desafios, novas formas de agir e de reagir. Nem sempre é fácil, uma família readaptar-se aos desafios da parentalidade e criar as condições necessárias para o crescimento saudável e pleno de uma criança.
É, por isso, muito importante que a preparação para a parentalidade exista também a nível emocional por parte das famílias. Seja preparação para a forma como devem corresponder às necessidades emocionais de um bebé e de uma criança, seja para a forma como devem continuar disponíveis e atentos às suas próprias necessidades emocionais.
Apesar desta necessidade, muitas vezes, os pais concentram-se mais nas questões logísticas e nas necessidades físicas, acreditando que a parte emocional se dará, como por magia, com o nascimento de um bebé.
A verdade é que a sensibilidade e intuição dos pais é absolutamente fundamental na viagem da parentalidade, no entanto, só por si não é suficiente. Em primeiro lugar, porque todos os pais carregam uma bagagem emocional, que nem sempre é livre e fluida e que condiciona a parentalidade, a sensibilidade e a intuição. Por outro lado, mesmo que se tenha tido um crescimento tranquilo e emocionalmente saudável, há necessidades emocionais — da mesma forma que há necessidades físicas — que só sabemos que existem se aprendermos sobre elas.
Assim, antes mesmo de um bebé nascer deveria existir uma preparação emocional das famílias, que implicasse a aprendizagem acerca das necessidades emocionais da criança, mas que dedicasse também grande parte do foco ao autocuidado dos pais, à necessidade dos pais cuidarem das suas próprias emoções, de se permitirem aos sentimentos contraditórios que vão surgir durante toda a relação com os filhos e de se permitirem falhar sem se deixar inundar pela culpabilidade.
A par de tudo isto, quando uma família se prepara para a parentalidade não pode ficar de lado o trabalho de autoconhecimento dos próprios pais, para que consigam tomar consciência de tudo aquilo que são os padrões familiares positivos que desejam transportar para o bebé que agora chega e de todos os padrões mais disfuncionais dos quais se querem libertar, e que só o podem fazer assumindo que existem e de forma consciente afastando-se deles.
Toda esta aprendizagem é fundamental antes de mesmo de um bebé nascer, caso não aconteça há mais espaço ao adoecer psicológico nessa família e o adoecer psicológico pode ter consequências tão graves quanto o adoecer físico. E, por isso mesmo, a educação para as emoções precisa de ser colocada em questão e assumir um lugar de destaque.
Lembremo-nos que o nascimento de um filho é sempre uma fase emocionalmente delicada e se não houver o cuidado da saúde mental dos pais, não haverá espaço para a saúde mental dos filhos.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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