Num mundo ideal, ou se calhar quando somos crianças, tendemos a olhar para “os grandes ou crescidos” como os adultos supostamente mais maduros que os filhos, nós. Imaginamos que seriam melhores do que as crianças, a lidarem com o stress, a resolver conflitos com outras pessoas ou a falar sobre os seus sentimentos Contudo, aí estamos nós adultos, filhos de pais emocionalmente imaturos.
A maturidade emocional é definida pela psicologia como a capacidade de gerir e exprimir as suas emoções de forma adequada, com base nas circunstâncias. Sendo assim a imaturidade emocional será o oposto. É um padrão persistente de falta de consciência e perceção sobre as suas emoções e como elas impactam os outros.
A pesquisa sugere que a maturidade emocional é uma das três áreas principais da maturidade geral, altamente importantes para uma parentalidade de sucesso.
A maturidade emocional permite aos pais que mudem o foco de si mesmos e passem a priorizar e a analisar como as suas reações, comportamentos e expressão emocional afetam os seus filhos.
Pais emocionalmente imaturos nem sempre são capazes de reconhecer e validar as emoções dos seus filhos, o que pode levar a um padrão de relação negligente mesmo que, não intencional. Ora, esta negligência emocional vivenciada na infância pode ter efeitos a longo prazo: pode contribuir para o desenvolvimento de estilos de apego inseguros (ou vinculação insegura) na idade adulta. Clarificando um pouco os padrões de vinculação que formamos na infância com os nossos pais ou cuidadores, vão determinar o quão seguro ou inseguro forma apegos na idade adulta.
Imagine, ser criança ou adolescente e estar numa posição em que tentamos entender as ações dos nossos pais, e tudo nos parece confuso, parece que não se sentem seguros ou fazem-nos duvidar do nosso próprio senso de identidade. Esses sentimentos são aqueles que surgem muitas vezes em crianças que crescem com pais emocionalmente imaturos.
Pais emocionalmente imaturos, são adultos que não desenvolveram totalmente as competências emocionais necessárias para navegar de forma eficaz na parentalidade. Eles tendem a providenciar as necessidades básicas dos filhos, de forma material; no entanto, quando se trata de satisfazer as necessidades emocionais dos seus filhos, têm dificuldades ou, pior, não têm consciência sequer das dificuldades que enfrentam. São normalmente excessivamente egocêntricos e não demonstram ter empatia para compreender os sentimentos dos filhos.
Os efeitos da parentalidade emocionalmente imatura podem manifestar-se de várias formas, incluindo baixa autoestima, dificuldade em formar relacionamentos saudáveis e instabilidade emocional.
Embora não haja uma classificação única e universalmente aceite, podemos identificar alguns padrões de comportamento que caracterizam pais emocionalmente imaturos.
Reconhecer os sinais de pais emocionalmente imaturos é crucial para compreender a dinâmica em jogo. No dia a dia poderá reconhecer alguns destes sinais de imaturidade: São normalmente pessoas muito preto/branco, certo/errado sendo que a posição deles é sempre a correta, sendo invariavelmente críticos com os outros ou as suas opiniões; têm muita dificuldade em lidar com as suas próprias emoções e têm tendência a fazer “birras” que visam colocar o outro numa posição desagradável, muitas vezes sendo respostas que parecem não ter nexo; raramente demonstram expressões verbais de afeto; apressam-se a interpretar erradamente o que os outros dizem como se fossem críticas e torna-se por isso defensivos, já para não falar na sua tendência nata a guardar “rancor” se forem contrariados; podem oscilar entre o ser demasiado controlador ou simplesmente não quererem saber e são peritos em tornarem-se “necessários” para os outros. Têm, também, dificuldade em assumir responsabilidades pelas coisas erradas que fizeram ou em reconhecer o impacto do seu comportamento nos filhos, e claro... pedir desculpas.
Mas, afinal o que torna um pai/mãe emocionalmente imaturo?
São várias as dimensões psicológicas subjacentes a uma personalidade imatura na qual reconhecemos os comportamentos anteriormente descritos. Desde logo, a falta de empatia: são pais com muita dificuldade em se colocarem emocionalmente no lugar da criança, embora sejam muitas vezes eles próprios a se assemelharem a crianças nas suas tão frequentes explosões emocionais, algo que serve para aliviar a pressão interna que muitas vezes os inunda.
O narcisismo subjacente a esta falta de empatia contribui para que tendam a ver os filhos como extensões de si mesmos, como uma fonte de validação e, como o foco principal está na satisfação das necessidades dos pais, as necessidades emocionais da criança muitas vezes permanecem insatisfeitas. Pode ainda ser mais evidente em situações em que o sucesso da criança é sentido como ameaça ao seu Eu.
São também muitas vezes pais com padrões de comportamento inconsistentes ou imprevisíveis o que facilmente explica o estilo confusional que caracteriza a relação com a criança, provocando insegurança. As crianças dificilmente conseguem antecipar o que esperar, o que lhes retira a sensação de previsibilidade tão necessária ao desenvolvimento saudável.
Esta imprevisibilidade vai desde um dia “perderem a trolitana” por algo sem importância e noutro dia não regirem a algo mais grave, o que naturalmente faz com que a criança oscile na sua autoestima, sentindo-se amado uns dias e humilhados noutros sem sequer perceber o que determina o quê.
São pais que tendem a ter dificuldade em lidar com limites e a serem capazes de os colocar: tornam-se um fardo para os filhos com uma necessidade constante de saber tudo na vida da criança que normalmente continua, mesmo quando o “pequeno” já está na casa dos 50 anos. Quase como se não houvesse limite entre o EU dos filho e o EU dos Pais, próximo em demasia, que sufoca.
Posto isto, quais as consequências de se ter crescido com um pai/mãe emocionalmente imaturos? Não é fácil a olho nu perceber se alguém é filho de pais imaturos, porque como mecanismo de defesas estas crianças, são hoje adultos normalmente muito capazes, racionais e sensatos, devido ao facto de terem “crescido depressa demais” e terem tido que assumir o papel de adulto ainda em crianças, tendo aprendido a lidar com as suas próprias emoções desde cedo.
No entanto, este funcionamento não deixa de esconder feridas deixadas por uma infância inatendida. Podemos observar baixa autoestima, incapacidade de se sentir digno do amor dos outros ou do seu próprio, estilos de vinculação inseguros nas suas relações, muitas vezes com uma tendência para tentar agradar aos outros ou para colocar as suas necessidades em último lugar devido ao condicionamento sofrido ao não se ter sentido escutado e amado de forma saudável, entre outras coisas.
lembrando que este texto, certamente não é para culpar as pessoas que o/a criaram a si. Ter pais imaturos é também um indicador de que os seus pais não tiveram as suas próprias necessidades emocionais e de vinculação atendidas quando eram crianças.
E agora? O que fazer como iniciar o processo de cura? Em primeiro lugar, é importante distinguir a imagem m que os seus pais projetaram de si da sua própria imagem, da sua pessoa. São coisas diferentes e devemos começar por fazer essa distinção. É necessário reconstruir o seu amor-próprio e o seu valor, mesmo que não lhe tenha sido dada a oportunidade enquanto crescia. Mas a boa notícia é que o ciclo pode terminar consigo em vez de ser perpetuado para os seus filhos.
Não há vergonha em pedir ajuda neste processo, é um assunto doloroso e multifacetado, a ideia neste texto foi trazer alguma consciência para o facto de algum do sofrimento que muitos carregam, não ser algo imutável e muito menos da sua responsabilidade.
Todos somos influenciados pelas nossas experiências passadas e só podemos fazer melhor quando sabemos o que é melhor!
Um artigo da Professora Clementina Almeida, psicóloga clínica.
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