Existem várias circunstâncias de vida que podem provocar nas pessoas um enorme sofrimento e experiências traumáticas. Atualmente, a pandemia de COVID-19 e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia são fenómenos que nos assombram a todos e que infligem consequências inegáveis, diretas e indiretas.
Ainda que haja uma enorme mobilização de psicólogos, as pessoas procuram maioritariamente o apoio direto de familiares, amigos e outras relações significativas e, muitas vezes, este sistema primário de suporte não sabe o que fazer para ajudar a pessoa em sofrimento.
Deixo-lhe quatro sugestões que podem ajudar a minimizar o sofrimento da pessoa que lhe é querida:
- Oiça atentamente e sem interrupções e sem fazer juízos de valor. Muitas vezes sentimos que precisamos de dizer alguma coisa acertada ou ter alguma resposta perspicaz e sábia, e acabamos por encontrar apenas o silêncio ou dizer algo que tem o efeito contrário ao que gostaríamos. Em boa verdade, ouvir atentamente a outra pessoa mostra muito mais apoio do que a maioria das respostas que podemos dar. Manter algum contato visual, acenar com a cabeça e ficar em silêncio, enquanto a pessoa fala, mostra que está interessado em ouvir o que ela tem para lhe dizer. Esteja disposto(a) a fazer perguntas, em vez de desvalorizar o que a outra pessoa está a sentir ou de lhe contar sobre sua própria história ou a de alguém que conhece. Dizer a alguém em sofrimento que “eu sei o que queres dizer porque aconteceu comigo” ou “não te preocupes que isso vai passar” não vai ajudar em nada. Oiça, legitime, não faça comparações e estimule a pessoa a expressar-se tanto quanto quiser, para aliviar.
- Valide as experiências da pessoa. As pessoas que são sobreviventes de algum tipo de trauma têm um histórico de se sentirem desacreditadas. Ao mostrar-lhes empatia pode fazer uma enorme diferença na forma como se sentem apoiados por si e na vontade de desabafarem consigo. Algumas pessoas precisam de um lembrete gentil de que não são o seu passado, e que superaram e podem continuar a seguir em frente. Outros só precisam desabafar por um momento e, depois, terem um lembrete gentil quando é hora de mudar de assunto, ou de terem uma perspetiva mais otimista em relação ao futuro.
- Esteja preparado para ouvir coisas que podem não fazer sentido para si. Nem tudo o que ouvimos nos faz sentido, seja pela educação que tivemos, pelas experiências de vida diferentes, ou pelos nossos próprios sistemas de crenças e valores. Lembre-se que não está numa discussão, mas sim, a tentar ajudar uma pessoa que lhe é querida relativamente a determinadas experiências que tiveram um impacto negativo. Não tente desconstruir crenças ou ideias dos outros, porque ficará frustrado e deixará a outra pessoa com a sensação que ela é que está errada. Haverá uma quebra na comunicação e até na relação estabelecida. Não precisa de dar a sua opinião, a menos que ela seja expressamente pedida.
- Estabeleça os seus próprios limites. Lembre-se de que você não é e não pode ser o terapeuta da pessoa. Há uma diferença entre ouvir para mostrar apoio e ser colocado no papel de salvador ou "consertador", o que é não só inadequado como também inatingível. Há uma razão pela qual os psicólogos são impedidos de fazer terapia com amigos e familiares, pois esse é um limite essencial para a segurança de ambas as partes e para não haver melindres e jogos de expectativas não correspondidos. Se a outra pessoa exigir de si mais do que aquilo que lhe pode dar, não há problema em sugerir que se procure a ajuda de um profissional. Pode, inclusivamente, estar disposto(a) a auxiliar na procura de um profissional habilitado e respetiva marcação, caso ela seja significativa para si e necessite também de outras estratégias para lidar com a situação, por forma a que se sinta emocionalmente equilibrado e capaz de ajudar o outro.
Um artigo da psicóloga clínica Laura Alho, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.
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