Se procura uma resposta rígida e inflexível para esta questão (que atormenta vários casais), não a vai encontrar neste texto, porque não existem, na investigação científica atual, soluções fechadas sobre este tópico. Contudo, vai encontrar vários estudos e potenciais explicações que o podem ajudar a chegar à sua resposta, à estratégia mais benéfica para si, em função da sua relação e dinâmicas com o outro – as quais são únicas.
Por um lado, existem evidências que apoiam uma associação entre o casal partilhar uma conta bancária e a satisfação conjugal. A título de exemplo, um estudo publicado em 2022, no Journal of Personality and Social Psychology, da autoria de Joe Gladstone, da University College London (Reino Unido), aponta que os casais que mantêm contas conjuntas são mais felizes nos seus relacionamentos e apresentam um risco menor de vir a sofrer uma rotura/término.
E porquê? Qual o impacto positivo desta partilha nos casais?
Segundo a Psicologia das Relações, existe uma tendência para predominar uma sensação de conexão, confiança e sintonia, a qual facilita o diálogo e o respeito (por exemplo, um diálogo transparente acerca dos gastos, ter em consideração o impacto financeiro, para ambos, da aquisição de alguns bens). Em poucas palavras, as pessoas sentem que, enquanto casal, se encontram alinhados e movidos em torno de um objetivo comum.
Em oposição, existem estudos que apontam para maiores níveis de satisfação conjugal em casais que tomam a decisão de ter contas bancárias separadas.
Inclusive, no estudo de 2017 de Yvonne Lott, When My Money Becomes Our Money: Changes in Couples’ Money Management é apontado como comum o recurso à estratégia das contas separadas entre os casais, particularmente durante o período de coabitação e, inclusive, após alguns eventos relacionais significativos, como o casamento. Em parte, este fenómeno pode ser resultado de mudanças nos papeis de género, em que o homem era o “homem da casa” e suportava a maioria das financeiras, enquanto a mulher tinha um papel secundário nas responsabilidades financeiras e primário em tarefas domésticas.
Desta forma, as investigações referem que o fator que impacta positivamente a satisfação conjugal não é a existência de uma conta partilhada ou de contas separadas, mas sim o casal estar em sintonia quanto ao que é mais benéfico para ambos – independentemente de qual for a decisão.
No estudo de 2021, “The Budget and the Bedroom”, por investigadores da Brigham Young University, foi revelado que os casais que apresentam uma gestão financeira ausente de conflitos apresentam maiores níveis de satisfação conjugal e, inclusivamente, uma vida sexual mais satisfatória. Este estudo enaltece, como apontado por outros, que o stress financeiro, no casal, tende a causar instabilidade nas dinâmicas e bem-estar.
Tendo em conta os estudos consultados, podemos admitir que a resposta à questão sobre o que é mais benéfico para os casais assenta em três pilares, concretamente: comunicação, flexibilidade e responsabilidade – emocional e financeira.
No que diz respeito à conta comum, a qual serve para as despesas do casal, ambos podem contribuir mensalmente na proporção daquilo que ganham – no sentido de ser, tendencialmente, mais justo. Ou, por exemplo, repartir as despesas de forma proporcional àquilo que cada um ganha, de modo a equilibrar o esforço financeiro de cada um dos membros do casal ao final do mês.
A opção de ter três contas (conta para as despesas comuns e outras duas contas individuais para uso pessoal de cada membro do casal) parece ser uma estratégia a evitar, de acordo com o que é apontado por um estudo italiano, publicado em 2020 na revista Journal of Family Issues. Aqui é possível ler que, não raras vezes, quando um dos membros do casal tem uma maior liberdade financeira, ganha um maior controlo e poder aquando de decisões que envolvem dinheiro – sendo que, não raras vezes, esta desigualdade de papéis pode levar a conflitos e fragilidades em outras dinâmicas da relação.
Como mencionado, para além da flexibilidade e da responsabilidade, surge a comunicação como elemento-chave para o bem-estar. Por exemplo, dialogar abertamente sobre dinheiro, preocupações, planos, evitando assuntos pendentes, mal-estar ou desgaste emocional entre o casal.
Ainda sobre a comunicação, no caso de contas separadas, é importante que a gestão financeira não seja feita com secretismo, ou seja, às escondidas do parceiro, pois continua a ser importante planear o futuro em casal (comprar uma casa, viagens, gerir um imprevisto financeiro). Caso contrário, pode abrir-se espaço para desconfianças que contaminem a relação. E o mesmo se aplica a uma conta comum: ir partilhando os gastos, não no sentido do controlo, mas da sintonia e gestão conjunta, enquanto casal.
Quanto ao pilar “respeito”, não menos importante que os anteriores, é importante respeitar a liberdade financeira do outro, desde que exercida de forma responsável para não comprometer a estabilidade financeira do casal, e dialogar aquando da vivência de sentimentos de desconforto associados aos gastos do seu companheiro de vida.
Se sente que a gestão financeira, enquanto casal, é um problema, recorra a ajuda especializada. Não se encontra(m) sozinhos(as).
As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, psicólogos clínicos na MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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