Gostemos ou não, ao hambúrguer dificilmente lhe tiramos o estatuto de ser prato residente num não quantificável número de ementas de restaurantes de vários estatutos, em quase todas as latitudes. Atualmente está gasto o argumento de que hambúrguer é apenas sinónimo de comida rápida, sem graça e para satisfazer apetites menos delicados ou gourmet. Vale por isso dizer que cem gramas de carne entre duas fatias de pão pode ser um momento de cozinha aprazível com garfo e faca, capacidade criativa e engenho. Nisto mesmo cogitava o autor da presente peça ao acercar-se do número 26 da Rua Mouzinho da Silveira, bem próximo ao Marquês de Pombal. Lisboa, agora também tornada capital gastronómica, experimenta um pouco do mundo à mesa. E neste frenesim de convidar locais e visitantes a sentar-se e a dar prova da capacidade de servir, os restaurantes de hotel não querem perder o jogo. No caso vertente o restaurante do Turim Marquês Hotel que se lança numa carta de nove hambúrgueres mais um extra, um “preguinho”, com a assinatura do chefe Hugo Ambrósio. O restaurante Mouzinho, a funcionar desde fevereiro deste ano, é espaço luminoso com decoração discreta e confortável, acomodando 36 comensais.
Sento-me à mesa com Alexandra Martins, diretora de marketing e comunicação do Grupo Turim. De momento são-nos apresentados uns croquetes de vitela (quentinhos), um entretém para os principais. Junta-se ao elenco de abertura uma “limanada”. Leu, bem, com “a”, pois aqui não há limão, mas sim lima. Adiciona-lhe gengibre, água e hortelã e tente resistir à tentação de verter o açúcar. “A ´limanada` está presente na carta todos os dias. De resto, diariamente, recebemos fruta fresca e, de acordo com isso o chefe sugere um sumo natural. Tanto pode encontrar um sumo de laranja com maracujá e extrato de baunilha, como um de maçã e cenoura ou de abacaxi e hortelã”, sublinha a diretora.
Alexandra Martins confidencia-me que esta nova carta de hambúrgueres tem, entre outros objetivos, o de contrariar a tendência para uma sala com menos ocupação no período do almoço. Neste caso com uma ementa capaz de atrair nacionais e estrangeiros e com um preço bastante convidativo. Senão veja-se: Prato principal, sobremesa e bebida ficam nos 15,00 euros por pessoa.
Uma carta que se estreia em palco com muitos ensaios de bastidores. Hambúrguer pede acompanhamento e o chefe Hugo Ambrósio não quis deixar órfãos as suas dez criações. “Durante semanas testámos vários tipos de batata-doce para encontrar uns chips estaladiços, que não amolecessem volvidos pouco minutos”, explica-me Alexandra Martins frente a uma tacinha com batata-doce laranja, laminada, com os bordos enrolando-se sobre si mesmos. Batatas-doces que fazem par com umas batatas-palito em modo rústico, ou seja, sem se darem ares de fritura industrial.
Uma abordagem ao estilo caseiro que salta para os pratos de hambúrguer à prova. No caso vertente degusto a versão marinha do velhinho hambúrguer, o petisco que no século XIX atravessou o Atlântico com emigrantes alemães (de Hamburgo), tornou-se sinónimo de comida rápida por terras do tio Sam, foi devolvido à Europa onde, agora, é embalado com mãos gourmet. Isto é, o que o chefe Hugo nos apresenta é a sua interpretação de um hambúrguer de salmão. Um capricho do mar que nos chega ao prato com amigos da terra. Cobre-o um ovo escalfado, tomate desidratado e molho holandês. Não falta um pãozinho com bom crocante. O que pede este ovo? Que o entreguemos à faca, deixando que e gema verta e ligue todos os elementos.
“O chefe Hugo Ambrósio conseguiu uma série de variações sobre o mesmo tema. A exceção as propostas cárnicas é este hambúrguer de salmão”, sublinha a responsável de comunicação. Uma carta que inclui um Hambúrguer Serra, em pão-de-leite, com o queijo da nossa Estrela, uns cornichons (picles), bacon e a cebola caramelizada com Porto, esta última, uma gulodice a casar muito bem com tudo o mais.
Quem estiver virado para a rusticidade encontra um hambúrguer com o feijão, o ovo e a morcela. Um pouco a recordar que por terras de Sua Majestade o pequeno-almoço é encorpado e inclui estes ingredientes. Explorando outros hemisférios geográficos e gustativas, encontramos na carta do Mouzinho, o Hambúrguer Picanha e o Hambúrguer Mediterrânico. Há mais e, sem abandonarmos a carne, serve-se o “Preguinho no Bolo do Caco”, com carne da vazia na chapa, bacon, rúcula, tomate, ceboletes e manteiga de alho. Por hoje dispenso este “Preguinho” versão XL. Um trio de mini hambúrgueres, a “Tábua Mouzinho” (Picanha, Serra e “Preguinho”), atira ao tapete a minha capacidade de ingerir mais proteína. Resta-me olhar para a carta para constatar que ao Ambrósio não faltam argumentos gustativos: Francesinha, Preguinho na Frigideira com molho de mostarda e ovo, Salmão com batatinha, brócolos e cogumelos e saladas Caesar e espinafres e chévre com pesto.
E como a gula fala sempre diretamente ao coração e ao que sobra de espaço a nível estomacal, acabo por aceitar a sugestão de Alexandra Martins no tocante à sobremesa. “Tem de provar este cheesecake feito a partir de leite de cabra, por isso mais intenso”. Provo-o, sente-se essa intensidade sem ofender o palato. Fresco, com a densidade certa e uma base que se mastiga bem, quebradiça e não muito doce. Ainda debico no gelado de tangerina, no crumble de maçã com gelado de creme inglês. Mas, nestes casos, só uma colherinha, apesar de serem sobremesas para nos afoitarmos à colher cheia.
Restaurante Mouzinho
Turim Marquês Hotel,
Rua Mouzinho da Silveira, 26, Marquês de Pombal
Tel. 210 495 690; Email: mouzinho@turimhoteis.com
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