Numa primeira consulta os pais relatam a exaustão e frustração ao responder diariamente às mesmas dez questões, recordam que a filha Joana (nome fictício), “inicialmente fazia uma pergunta ao deitar e depois de respondermos adormecia. Hoje respondemos a dez diferentes, que todas as noites se repetem e fica totalmente perturbada se falharmos uma resposta, recomeçando todo o questionário novamente: “Eu não vou morrer? Não vou ficar doente? Não vai entrar ninguém na nossa casa?...”.

Se inicialmente a dúvida da filha parecia legítima e a resposta dos pais era tranquilizadora, percebemos com o exemplo acima a natureza obsessiva e patológica das dúvidas excessivas, intensas e repetitivas que podem caracterizar a Perturbação Obsessivo-Compulsiva (POC).

A POC é expressa pela presença de obsessões, como pensamentos e/ou imagens mentais invasivos, involuntários e persistentes. A presença destas é extremamente incapacitante para a criança, que procura nos pais a tentativa de diminuição do desconforto e da ansiedade gerados.

Deste modo, surgem as compulsões ou rituais/compulsões – comportamentos repetitivos ou atos mentais, que parecem primeiramente funcionar, cumprindo uma função, ainda que de forma inadequada, de controlo de ansiedade e de diminuição do desconforto. Esta sensação de controlo do mau-estar é a razão pela qual, numa nova situação, a criança tenderá a repetir o mesmo comportamento com o objetivo de obter o mesmo efeito que anteriormente.

Como é que a POC afeta a criança e a família?

A POC é uma perturbação grave, cujos efeitos interferem acentuadamente no funcionamento no dia-a-dia da criança e da família. Com o tempo, os rituais podem tornar-se tão debilitantes e exigentes, que todos os membros da família se veem envolvidos na sua realização e com prejuízo nas rotinas familiares (imagineo seu filho demorar 2h a escolher entre dois pares de calças para ir para a escola e quando está para sair de casa volta atrás para trocar ou por exemplo, recusar comer com os talheres com medo de terem sido contaminados por quem os pôs na mesa).

Nestes períodos, pais e irmãos tendem a ter comportamentos de facilitação dos rituais num fenómeno descrito como “Acomodação Familiar”.Por exemplo, os pais poderão começar a escolher a roupa para a criança vestir ou a tentar tranquilizá-la respondendo a perguntas de preocupação acerca de doenças, contaminação de germes e micróbios ou medo da morte como no exemplo da Joana. Na base destes comportamentos, está uma tentativa de reduzir o desconforto dos filhos e também a esperança de reduzir o tempo gasto no dia-a-dia com as compulsões. Estes comportamentos associados a sobre-proteção e auto-sacrifício pelos filhos, embora bem-intencionados, tendem a ter o efeito contrário e a manter e/ou aumentar a problemática.

A importância dos pais e o seu papel na terapia

Dada a implicação da POC em toda a dinâmica familiar é de extrema importância um processo terapêutico que considere todo o sistema familiar. Estudos demonstramque a forma como a família lida com os sintomas tem um grande impacto no curso da perturbação e que a sua participação na terapia não só beneficia o tratamento como aponta para um melhor prognóstico da perturbação. Assim, é importante o envolvimento dos pais ao longo das sessões de terapia, para que compreendam a perturbação (em sessões de psicoeducação) e a experiência vivenciada pela criança, para que possam reconhecer e trabalhar a acomodação familiar aos sintomas, e para que, ao longo da terapia possam apoiar e motivar a criança para trabalhar sobre os rituais (através por exemplo de exposições).

Por todos estes motivos, a intervenção psicológica na POC deve assentar num trabalho de equipa entre criança, família e psicólogo, que se alicerce numa ligação de segurança e confiança tão firme como o lema dos três mosqueteiros de Alexandre Dumas, “um por todos e todos por um”.

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