Muitas vezes, na maioria delas sem querer, acabamos por derrapar e ter discussões carregadas de efeitos especiais em frente às crianças. Nessas discussões, temos tendência não só a mal-tratar a pessoa que amamos, como acabamos por nos deixar contaminar por uma avalanche de insegurança. Aí, desligamos o nosso cérebro e parecemos incapazes de nos controlar.
Se nos colocarmos no lugar das crianças, ou simplesmente, fizermos o exercício de revisitar a nossa infância, sabemos que, em condições normais, no mais íntimo de todos nós está o pai e a mãe, e, é nessas figuras que vamos buscar o combustível que nos faz sentir tranquilos, seguros e confiantes.
Haver estas discussões, embora ninguém as deseje e não sejam a melhor estratégia, não é particularmente dramático entre casais, porque muitas vezes, estas discussões permitem reciclar um conjunto de coisas que tínhamos guardado, que não conseguimos dizer na altura certa e libertamos na discussão. As discussões passam, a seguir chegam as pazes, regra geral, carregadas de amor e leveza e muitas vezes a discussão representa um passo atrás na relação, para que depois se consigam dar dois passos à frente.
No entanto, se isto fica claro para os adultos, isto não é claro para uma criança, que sempre que vê uma discussão à seria entre os pais, treme por dentro e imagina que é agora que o seu mundo vai acabar. E, de repente, oscila entre o amor do dia anterior e a guerra que está a assistir e, ainda mais de repente, todas as suas verdades se abalam e uma criança fica sem chão.
Não sendo fundamentalistas, claro que haverá sempre momentos em que os pais se zangam em frente às crianças, mas o essencial é tomarmos consciência que as discussões com efeitos especiais que, por vezes, todos os casais saudáveis têm, não devem ser tidas perante o olhar e o ouvido atento de uma criança. Porque para uma criança, representa violência e confusão, e de alguma forma, estamos a ensinar-lhe que apesar de amarmos muito alguém , se ‘nos passarmos’ temos carta verde para magoar a outra pessoa.
O lugar dos filhos quando os pais se zangam é o lugar que eles merecem ter todos os dias, o lugar do amor e da protecção. Por isso, uma das coisas bonitas que podemos fazer por um filho é protegê-lo das nossas discussões com efeitos especiais, permitindo-lhe assim, na sua infância garantir uma base segura e uma imagem protegida de ambos os pais. Porque, no limite, mesmo que um pai, ou uma mãe, tenham um conjunto de características que, por algum motivo, um dos pais reprova, um filho tem sempre direito a uma imagem protegida das suas figuras parentais. Essa protecção é possível com o amor, o afeto e a sabedoria que, quando os pais olham os filhos com o coração, conseguem ter.
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