Ser adolescente implica estar a contas com um turbilhão de hormonas, com um corpo que cresce rápido -  que, às vezes, um adolescente parece nem o reconhecer - implica ainda  sentir-se autónomo e dependente ao mesmo tempo, relacionar-se com os outros, viver os primeiros amores e as primeiras experiências - tudo isto em catadupa. No fundo, ser adolescente é um turbilhão difícil de gerir e, ainda mais difícil, quando um adolescente tem a sensação que não há ninguém à sua volta que o pareça compreender.

E isto acontece porque, muitas vezes ficamos quase que “contagiados” com a adolescência dos nossos adolescentes e afastamo-nos deles mais facilmente do que todos desejaríamos. Afastamos-nos porque nos esquecemos facilmente das nossas adolescências, porque a azáfama dos dias muitas vezes nos atrapalha, porque a irreverência características dos adolescentes tantas vezes nos assusta e nos faz confrontar com todos os sonhos que tivemos e parecemos ter deixado num lugar bem distante, ou apenas porque, muitas, vezes os vemos percorrer caminhos que não são aquilo que sonhamos para eles. Assim, acabamos por não criar uma ponte que nos ligue aos adolescentes e muitas vezes por os deixar à beira de uma certa sensação de vazio e - não fossem os amigos - solidão.

Aquilo que é essencial percebermos é que o afastamento que muitas vezes se gera entre os pais e os adolescentes é também muito difícil de gerir para um adolescente que, até então, tinha a certeza que era o centro do mundo para os pais e que, de repente, tem a sensação que faça o que fizer parece nunca corresponder às expectativas, parece nunca fazer nada bem feito.

Por muito que, os adolescentes, por vezes, pareçam uma espécie de “ouriço” a afastar os pais, na verdade, só querem conquistar o seu espaço, a sua independência e, a par disso, querem muito que os pais continuem lá a alavancar os seus sonhos, a confiar neles e amá-los como só um pai e uma mãe conseguem.

Quando se tem um filho adolescente, o grande desafio é ser-se capaz de não se deixar contagiar pelo turbilhão da adolescência e conseguir manter os pés na terra e o coração no lugar certo. E, sempre que houver a dúvida quanto a alguma ação que um adolescente tenha tido, um pai, ou uma mãe, devem colocar-se no lugar do adolescente - perceber a sua perspectiva e ver como as circunstâncias o podem estar a impactar. Se o fizermos, conseguiremos ter mais clareza em relação às atitudes que um adolescente é capaz de ter e que, à primeira vista, tendemos a rejeitar.

Assim, conseguimos ligar-nos a um adolescente e continuar a exigir-lhe tudo aquilo que  consideramos razoável, abrindo espaço ao mundo exterior e aos seus sonhos, sempre com limites e com a almofada do amor a balizar todos os nossos movimentos em direção a ele

Em paralelo, devemos manter presente dentro de nós que a adolescência é sempre um tempo incerto, um tempo de experiência e de crescimento e que tudo isto não acontece à margem do erro e à margem do conflito.

Nesta sequência, também não nos podemos esquecer que, ao mesmo tempo que um adolescente deseja saltar do colo dos pais, quer muito permanecer lá, por isso, está numa espécie de híbrido entre a criança que foi e o adulto que virá a Ser. E neste híbrido, aquilo que é mais importante é que, com sabedoria, os pais lhes consigam dar a liberdade e a autonomia de quem confia neles e o colo de quem nunca deixará de estar lá aconteça o que acontecer.