Pode ser uma situação de desemprego ou o divórcio dos pais. Uma doença grave ou a perda do animal de estimação. Ou mesmo a morte de uma pessoa querida e próxima. Se der uma má notícia a um adulto pode ser complicado, a dificuldade aumenta quando se trata de uma criança.

 

Em primeiro lugar, porque os pais e outros adultos tentam habitualmente resguardá-la de acontecimentos que a magoem, a confundam ou entristeçam. E, em segundo lugar, porque a idade e a maturidade são outro aspetos a levar em conta.

 

Não é possível, nem sequer conveniente, contar, por exemplo, a morte do avô ou da avó da mesma maneira a uma criança de quatro anos ou a uma de dez. A forma como elas entendem o mundo e a sua capacidade de compreensão são totalmente diferentes e devem ser respeitadas.

 

Isto não significa “dourar a pílula” sobre a realidade ou mentir. Por muito complexas e pesadas que sejam as notícias, há sempre modo de as transmitir de forma correta.

 

A grande vantagem desta atitude é que a criança aprende que pode confiar nos adultos para que sejam sempre honestos com ela.

 

 

História completa

 

Para começar, procure esperar que a situação esteja terminada e de contornos esclarecidos. As crianças têm uma grande capacidade para usar a imaginação e preencher os espaços em branco deixados pelo discurso dos adultos, e isso pode levar a sentimentos de grande angústia.

 

Saber o maior número de contornos permite apresentar a notícia de forma coerente e facilita a resposta às eventuais perguntas. De qualquer forma, também não é desejável esperar demasiado até à partilha das notícias, já que a criança pode aperceber-se de que nem tudo está bem: cabe aos adultos procurarem determinar qual é o momento certo, avaliando a situação, os seus contornos e o estado emocional de toda a família.

 

 

Palavras simples

 

É essencial ajudar a criança a perceber o assunto e a processá-lo na sua mente. Por isso se torna tão importante que o discurso dos adultos seja simples. Usar palavras ou termos que ela não ainda não compreende pode resultar numa grande confusão.

 

A melhor receita, seja qual for a idade, é usar expressões simples e claras e evitar comentários acessórios. Estes podem transmitir mensagens contraditórias e confusas. E não se furte a responder a todas as perguntas que a criança fizer, mesmo as mais difíceis. Nem que seja com a admissão da sua própria incapacidade. Exemplo: “a mãe também não percebe isso agora, mas vai tentar perceber e depois diz-te logo, está bem?”

 

 

Sem invenções

 

A tentação de omitir, nem que seja em parte, a verdade – ou dar-lhe contornos menos pesados – é grande, mas deve ser combatida. Os factos correctos são sempre de mais confiança.

 

Por exemplo, dizer que o cão fugiu de casa, quando na realidade o animal morreu, pode levar a que a criança se angustie quanto ao destino do amigo. É bem melhor dizer simplesmente que o cão estava doente, que morreu e que assim deixou de ter dores.

 

O pequeno dono ficará muito provavelmente triste, pode até chorar durante algum tempo, mas terá um sentimento de finalização, que afasta a incerteza.

 

Em contrapartida, há-que dosear o nível de pormenores que se dão sobre o que se está a passar. Será que a criança precisa mesmo de saber já que a mãe e o pai se vão divorciar porque, entretanto, surgiu uma terceira pessoa na equação? Ou detalhes sobre o acidente de viação que vitimou alguém próximo?

 

À medida que ela vai ficando mais crescida, poderá vir a conhecer pormenores mais precisos, o que a ajudará a compreender melhor a situação. Mas é de importância capital que o núcleo da notícia seja verdadeiro, desde o início, para que tudo faça sentido no final.

 

 

Maria Cristina Rodrigues