Todos procuramos de forma afincada a felicidade, todos tentamos evitar os episódios mais dolorosos e garantir que quem está à nossa volta também não os vive. Mas, a verdade é que, apesar de todos desejarmos a felicidade, ela é absolutamente impossível de alcançar se não nos permitirmos a vivenciar a tristeza, se não nos permitirmos a expressar e a lidar com tudo aquilo que vive dentro de nós.
É precisamente quando não aceitamos a tristeza dentro de nós, que nos vamos tornando aos poucos menos felizes e que vamos criando condições ao nosso adoecer emocional e, no limite, à depressão.
Aquilo que acontece é que todas as nossas emoções precisam de lugar para existir, precisam que olhemos para elas, que percebamos o que nos estão a transmitir, que sejamos capazes de as expressar, de as colocar para fora de nós e, só depois disso, que sejamos capazes de as gerir. Quando todos estes passos acontecem - identificar, expressar e gerir as emoções - garantimos o nosso bom funcionamento emocional e, por consequência, a nossa saúde mental.
Sempre que vivenciamos uma emoção e a reprimimos vamos contribuir para o nosso mal estar e para o empolar de quadros de adoecimento psicológico ou até mesmo físico.
Esta situação ganha magnitude porque socialmente somos levados a acreditar na ideia de que apenas devemos expressar o nosso melhor lado, apenas devemos expressar as nossas alegrias. E, perante esta ideia, se temos uma raiva, contemo-la, se temos uma tristeza fingimos que está tudo bem e guardamos para dentro de nós.
É aqui que a sociedade precisa urgentemente ganhar consciência e deixar cair o mito de que a felicidade é alcançada se estivermos bem o tempo todo, só quando esta ideia deixar de vigorar passaremos a, de forma fluída, deixar de exercer força de contenção a todo o nosso mundo emocional.
O processo é simples e natural, se vivenciarmos alegrias e, ao mesmo tempo, nos permitirmos a vivenciar todas as outras emoções no momento certo, temos espaço para a felicidade. Se, por outro lado, bloquearmos por exemplo a tristeza, nunca teremos plenitude, logo nunca teremos espaço à felicidade e criamos condições para o sofrimento interno se exponenciar. E, aos poucos, deixa de ser uma tristeza contida e passa a ganhar contornos de sintomatologia depressiva.
No fundo, que nunca nos esqueçamos que temos dentro de nós um sem fim de emoções e, sempre que tentamos bloquear umas das emoções que vivenciamos, não só bloqueamos essa emoção, como bloqueamos todas as outras. Isto é, o nosso interior precisa de encontrar espaço de expressão para todas as emoções, e a felicidade só pode ser alcançada, se quando existem todas as outras emoções, elas tiverem espaço para existir.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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