O cancro da mama é um dos cancros mais frequentes. Na maioria dos casos o diagnóstico é feito em estadios precoces. Nestes casos a doença apresenta-se exclusivamente na mama ou na mama e em gânglios axilares (na axila) e/ou supraclaviculares (por cima do osso da clavícula). Neste contexto, os tratamentos são realizados com intuito curativo, com o objetivo de reduzir o risco da doença poder voltar e aumentar o tempo de vida.
Em algumas situações, a doença pode voltar. Noutros casos o diagnóstico é feito em estadio avançado, isto é, a doença apresenta-se disseminada em outros órgãos. Alguns autores denominam esta situação clínica de cancro da mama metastático. No cancro da mama, os locais, mais frequentes, de metástases, isto é, para onde a doença se desloca e se fixa, são os gânglios linfáticos, ossos, pulmões e fígado. Nestes casos, o principal objetivo do tratamento é fazer com que as pessoas vivam mais e melhor. Numa minoria dos casos de doença avançada, quando a doença se apresenta oligometastática, isto é, de pequeno volume, e se prevê boa resposta aos tratamentos disponíveis, pode equacionar-se um tratamento com intuito curativo.
Terapêutica
Em qualquer um dos cenários, o tratamento multidisciplinar é muito importante. O cancro da mama é uma doença heterogénea pelo que o tratamento que é proposto a uma pessoa poderá ser diferente do que é proposta a outra. O tratamento depende de múltiplos fatores que incluem o subtipo e volume de doença, os sintomas, a resposta e os efeitos adversos a tratamentos previamente realizados e, claro, a vontade da pessoa que vive com esta situação clínica.
No caso de doença avançada, o tratamento médico oncológico dirigido é fundamental. Nos últimos tempos, cada vez mais tratamentos inovadores têm vindo a entrar na prática clínica. Dependendo de cada situação, poderá ser possível propor a utilização de diferentes tratamentos. Em casos em que se prevê que a principal via de crescimento da doença seja hormonal, o tratamento baseado em hormonoterapia, em geral, é uma opção. Nestas situações, a maioria dos tratamentos são orais e bem tolerados não sendo esperado queda do cabelo. Quando a doença expressa HER2, opções terapêuticas baseadas em terapêutica antiHER2, em geral, associada a quimioterapia, mas eventualmente também a hormonoterapia, são a base do tratamento. Nos casos de doença da mama que não expressa recetores hormonais nem HER2, o tratamento baseado em quimioterapia é o mais utilizado, sendo que a imunoterapia tem vindo a ganhar importância neste cenário. A maioria dos carcinomas invasivos da mama são esporádicos, ou seja, não têm na sua génese uma causa genética ou hereditária. Ainda assim, na presença de mutações germinais conferidoras de aumento de risco para cancro da mama, como seja mutações nos genes BRCA, existem, agora, opções terapêuticas dirigidas.
As terapêuticas loco-regionais como seja a Radioterapia e Cirurgia têm, também, o seu papel. A radioterapia é muitas vezes utilizada para controlar sintomas como a dor assim como metástases para o sistema nervoso central. A cirurgia pode ter um papel importante para remoção de lesões em casos particulares, definidas, caso-a-caso, em sede de reunião multidisciplinar.
As equipas de cuidados paliativos são fulcrais no seguimento conjunto proporcionando os melhores cuidados de suporte ao longo de todo o trajeto de doença avançada. As equipas de Enfermagem, Psicologia, Nutrição, Medicina Física e Reabilitação, Serviço Social, entre outras, são parte integrante do modelo integrado de cuidados.
As associações de doentes são importantes na representação dos direitos e vontades das pessoas com Cancro. São, muitas vezes, também lugar de acolhimento e de força.
Desafios diários para quem vive com o diagnóstico
As pessoas com diagnóstico de Cancro da Mama são, na sua larga maioria, mulheres. Os desafios do dia-a-dia passam também pela vivência da doença. São mulheres multifacetadas. São profissionais inseridas no universo laboral ou escolar. São avós, mães, filhas. São amantes e amigas. São tantas vezes exemplos de força e de superação.
Manter uma vida ativa adaptada à sua situação clínica. Traçar objetivos realistas e celebrá-los. Viver uma vida plena com momentos de prazer. Aceitar as notícias menos boas que podem ir surgindo. Nos momentos difíceis pedir ajuda. São estas algumas das lições que nos transmitem os nossos doentes.
Para além das equipas de profissionais de saúde, a família e amigos muito podem acrescentar para que a vida do doente com cancro seja melhor.
Com as opções terapêuticas atuais é possível viver mais e melhor. É essa a missão de todos os que trabalham com pessoas com cancro da mama. São as pessoas de quem cuidamos que mais nos ensinam a cumpri-la.
Um artigo de Sónia Duarte de Oliveira, Médica Oncologista no Hospital Santo António dos Capuchos – Centro Hospitalar de Lisboa Central, em Lisboa
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