Brincar 30 minutos por semana com o seu filho pode ser suficiente para resolver problemas de comportamento.
Basta aprender a brincar. Da próxima vez que chegar a casa, por muito stressado que esteja com os problemas do trabalho, respire fundo e olhe para o seu filho.
Já está a dormir ou a brincar sozinho? Então faça um esforço e tente reservar 30 minutos por semana só para brincarem os dois. Os especialistas acreditam que bastam 30 minutos semanais para conseguir mudar a sua vida e a do seu filho. Não é muito, pois não?
Poderá pensar «mas já brinco diariamente com ele e não noto mudanças no seu comportamento». A questão reside no tipo de brincadeiras que têm durante esse tempo. «Investigadores de várias universidades confirmaram que, quando os pais passam 30 minutos por semana a brincar com os filhos, muitos dos problemas de comportamento dos mais novos são corrigidos. A autoestima aumenta e aprendem a ser mais auto-controlados e disciplinados» refere Garry Landreth, diretor do Centro de ludoterapia da Universidade de North Texas, nos Estados Unidos da América.
Segundo os seus colegas, alunos e pacientes, Garry Landreth é um dos responsáveis por tornar o mundo um lugar mais seguro para as crianças, graças ao trabalho pioneiro com a ludoterapia, um método que faz uso dos brinquedos para criar situações seguras para as crianças expressarem os seus sentimentos, pensamentos e experiências.
Aprender a brincar
Segundo o especialista norteamericano, a ludoterapia pode ser definida como «um relacionamento dinâmico interpessoal entre uma criança e o terapeuta especialista em procedimentos de ludoterapia, que fornece brinquedos especiais e facilita o desenvolvimento de uma relação segura para a criança, de forma a que esta explore e expresse ao máximo os seus pensamentos, emoções, experiências e comportamentos através da brincadeira (a forma mais natural da criança comunicar) para um bom crescimento e desenvolvimento».
Diálogo figurado
A maior parte dos adultos consegue expressar os seus sentimentos, frustrações, ansiedades e problemas pessoais através da fala. Para as crianças, o ato de brincar assume essa forma de expressão. «Os brinquedos são usados como palavras e o ato de brincar é a sua linguagem» explica Garry Landreth. «Através da manipulação dos brinquedos, a criança consegue expressar melhor os sentimentos, assim como o significado das pessoas e dos acontecimentos à sua volta», acrescenta.
Está demonstrado que a ludoterapia pode ser uma terapêutica eficaz para diminuição da agressividade, de distúrbios em crianças de pais divorciados.
Esta também tem apresentado resultados satisfatórios em crianças negligenciadas ou vítimas de abusos, redução do stresse em crianças hospitalizadas, correção de problemas da fala ou redução dos sintomas de depressão.
Quem utiliza a ludoterapia?
Esta terapia é utilizada por psicólogos e assistentes sociais com especialização em ludoterapia. Normalmente aplica-se em crianças dos dois aos 10 anos e pode assemelhar-se ao efeito que a psicoterapia tem nos adultos. O primeiro caso descrito de uma terapia que recorreu ao ato de brincar e a uma abordagem psicológica a uma criança foi conduzido por Sigmund Freud num relatório datado de 1909 sobre uma criança de cinco anos com uma fobia. «Little Hans» é o primeiro caso registado em que as dificuldades da criança foram atribuídas a causas emocionais.
Pôr em prática
«O meu filho está diferente desde que começámos a ter momentos especiais para brincar. Não está tão exigente e já não discute tanto. Acho que já não sente que tem de recorrer a esses truques para chamar a minha atenção», refere Kathy, uma das mães que se submeteu às brincadeiras especiais defendidas por Garry Landreth. Outra mãe reconhece que não é fácil tirar tempo todas as semanas para estes momentos especiais pois «existem outras dez coisas que tenho de fazer. Mas estou tão contente por o ter feito», desabafa.
«Passados dois minutos a brincar fico completamente relaxada. Quando chegamos ao fim já não me sinto tão cansada como ao início. Aprendi tanto com a minha filha. Ela é capaz de fazer muita coisa sozinha», confessa Janet, outra das mães que optaram por seguir os conselhos do especialista americano. Mas quais as regras para estes momentos especiais que pais e filhos passam a brincar?
As regras para brincar
Deixe que seja a criança a conduzir as brincadeiras e tome decisões em relação ao que estão a brincar, participando como seguidor. Deve descrever verbalmente o que está a observar, assim como os sentimentos da criança, afirmando «Estás orgulhoso com o resultado final», por exemplo.
Também é importante que estabeleça limites, usando frases como «Sei que gostavas de pintar na mesa, mas não é o local mais indicado para pintares. Deves pintar no papel», por exemplo.
Finalmente, não se esqueça de reconhecer o esforço e as habilidades do seu filho.
Por outro lado, eis aquilo que não deve fazer.
As sessões de brincadeira nunca devem ser interrompidas, não faça perguntas diretas, não critique qualquer tipo de comportamento, não sugira novas atividades e, por último, não ensine ou ofereça informação.
Tenha cuidado!
Não use brinquedos mecânicos nestas sessões especiais de brincadeira. Faça deste um momento especial ao usar brinquedos que costumam ficar esquecidos noutras ocasiões.
As ferramentas essenciais:
- Área para brincar
- Tesouras de pontas redondas
- Boneca com uma figura familiar
- Soldadinhos
- Dinheiro de brincar
- Boneco insuflável
- Lápis
- Biberão
- Carro
- Kit de médico
- Papel
- Corda
- Ligaduras
- Máscara de Zorro
- Animais
Texto: Sónia Ramalho com Garry Landreth (especialista em ludoterapia)
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