O mais conhecido bodybuilder do mundo. A estrela de cinema mais bem paga. O governador da sexta maior economia do planeta, a do estado da Califórnia. Arnold Schwarzenegger, austríaco, nascido em 1947, emigrado para os Estados Unidos, atingiu todos estas metas no país que o acolheu.

O sucesso resultou no caso de Schwarzenegger, de acordo com o próprio, “numa visão clara dos objetivos”. O homem que nasceu numa pequena localidade, Thal, sempre pensou em grande e também nos EUA como confidencia no livro que chega agora aos escaparates portugueses, Faz-te Útil – 7 Regras Para a Vida (edição Lua de Papel): “A primeira visão que tive para a minha vida foi muito geral. Foi uma visão da América, dos Estados Unidos da América. Só isso, nada mais específico. Eu tinha dez anos, começara as aulas em Graz, a grande cidade a leste da aldeia onde cresci. Nesse tempo, parecia que, para onde quer que me voltasse vias as coisas mais extraordinárias na América. Nas aulas, nas capas de revistas, nos documentários exibidos nos cinemas antes dos filmes”.Em setembro de 1968, Arnold Schwarzenegger mudou-se para os Estados Unidos. Pouco falava inglês. Aquele que viria a ser o mais novo Mr. Olympia, em 1970, iniciara os treinos de fisiculturismo ainda aos 15 anos no seu país natal. No cinema, o austríaco após alguns filmes de menor sucesso, alcançou o estrelato com a película Conan e os Bárbaros (1982). Seguiu-se-lhe uma carreira de décadas com inúmeros blockbusters, incluindo cinco capítulos da série Exterminador Implacável, filmes de culto como Predador ou Comando e ainda comédias.

Em 2003, foi eleito Governador da Califórnia, cargo que ocupou durante dois mandatos, até 2011. No exercício de funções de governação, destacou-se na defesa das questões ambientais. Regressou posteriormente à carreira de ator, que concilia na atualidade com o empreendedorismo e filantropia.

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Em Faz-te Útil – 7 Regras Para a Vida, o autor mescla este seu percurso de vida com os conselhos que inclui na obra. Um livro que conta com histórias pessoais marcantes, dos problemas familiares ao modo como se impôs no país que o acolheu.

“Chamei a este livro Faz-te Útil porque é esse o melhor conselho que o meu pai me deu. Ele ficou guardado para sempre na minha mente, nunca saiu, e espero que suceda o mesmo com os conselhos que vos proponho (...) Ser útil também foi a força motivadora por trás de todas as decisões que tomei – e a força organizadora em redor das ferramentas que usei para as tomar. Ser campeão de culturismo, ser um milionário influente, ser um funcionário público – essas foram as minhas metas, mas não foram aquilo que me motivou (...) Acima de tudo, escrevi este livro porque todos precisam de ser úteis”, escreve Arnold Schwarzenegger na introdução que faz à obra.

De Faz-te Útil – 7 Regras Para a Vida, publicamos o excerto abaixo.

Dar tudo a trabalhar

Aposto que eu e vocês temos imenso em comum. Não somos as pessoas mais fortes, mais inteligentes ou mais ricas que conhecemos. Nem os mais rápidos nem os que têm mais contactos. Nem os mais bem parecidos ou os mais talentosos. Não temos a melhor genética. Mas temos uma coisa que muitas dessas outras pessoas nunca terão: a vontade de trabalhar.

Se há uma verdade incontornável no mundo é que nada substitui o trabalho. Não há atalho, truque ou comprimido mágico que evite a necessidade de trabalho árduo e bem feito para atingir um objetivo importante, para concretizar sonhos. Desde que existe trabalho pesado que as pessoas experimentam enveredar por atalhos e saltar etapas. E o que lhes acontece é inevitável: ou se atrasam ou ficam a apanhar o pó que nós levantamos, porque dar tudo a trabalhar é a única coisa que funciona a 100 por cento para 100 por cento daquilo que vale a pena alcançar.

Pensemos numa coisa com que a maioria das pessoas se identifica: enriquecer. É bastante incrível perceber que algumas das pessoas menos felizes que iremos encontrar na vida ganharam a lotaria e herdaram fortunas. Algumas estimativas dizem que 70 por cento dos vencedores de lotarias entram em bancarrota ao fim de cinco anos. entre os ricos por herança, as taxas de depressão, suicídio e consumo excessivo de álcool e drogas tendem a ser mais elevadas do que na classe média ou em pessoas que trabalharam muito para juntar riqueza.

Há muitas razões para ser assim, mas uma extremamente importante é que os que ganharam a lotaria e os herdeiros de fortunas nunca tiveram nenhum dos benefícios associados ao facto de trabalhar para atingir uma meta importante. Nunca experimentaram como é bom fazer dinheiro; só sabem o que é ter dinheiro. Nunca aprenderam as lições importantes ditadas pelo esforço e pelo fracasso. E, em absoluto, não colheram as recompensas de aplicarem com sucesso essas lições para chegarem ao sonho.

Imaginem que Sir Edmund Hillary tinha sido largado no topo do Evereste por um helicóptero, em vez de fazer uma escalada de dois meses na primavera de 1953. O panorama lá do alto ter-lhe-ia parecido tão belo? Ele teria dado alguma importância àquela outra montanha mais pequena que distinguiu ao longe quando se encontrava no cimo? Claro que não! Sem a experiência do que é levar-se ao limite, de fazer mais do que se julgava possível, e de saber que a dor por que se passa levará a um crescimento pelo qual se é o único responsável, nunca se apreciará o que se tem da mesma maneira que essa coisa é desfrutada por alguém que a ganhou, que trabalhou para ela.

A conclusão é esta: trabalhar funciona. Seja o que for que fizeram. Sejam quem forem. Toda a minha vida tem sido moldada por esta ideia única.

No percurso para me tornar o maior culturista de sempre, treinei cinco horas por dia ao longo de 15 anos. Quando cheguei aos Estados Unidos, elevei o nível dos meus treinos e inventei o processo de divisão dupla, em que me exercitava duas horas e meia de manhã e outras duas e meia à tarde, para assim fazer todos os dias dois ciclos completos de treino. Para isso, e porque ninguém queria treinar assim tanto, precisava de dois parceiros de exercício – Franco de manhã, Ed Corney ou Dave Draper à tarde. Não eram loucos como eu.

Faz-te útil
créditos: Lua de Papel/Rui Rosa e Ana Sarmento

No meu auge, nos dias mais intensos, movimentava por treino cerca de 18 mil quilos. É um camião TIR com meia carga. Quase ninguém queria treinar assim. Doía muito. Mas eu adorava as repetições de exercícios. Queria toda a dor. De tal modo que o meu primeiro treinador, ainda na Áustria, pensava que eu era maluco. Provavelmente, tinha razão.

Quando me retirei do culturismo e fiz a transição para o cinema, peguei nessas cinco horas diárias de treino e dediquei-as ao trabalho de me tornar ator principal. Tive aulas de representação, de inglês e de dicção, para eliminar o sotaque (ainda penso que me deviam devolver o dinheiro que paguei por essas). Assisti a reuniões sem fim e li centenas de guiões – os que me enviavam para eu avaliar e outros a que deitava a mão –, para poder aprender a diferença entre um mau guião, um bom guião e um guião fantástico.

E depois havia o trabalho específico de cada filme, para além da simples leitura do guião e de saber os diálogos. Em Gémeos, foram aulas de dança e improviso. Em O Exterminador Implacável, foram exercícios para me tornar uma máquina: vendava-me até conseguir fazer de olhos fechados cada cena em que tinha de manejar uma arma. No segundo Exterminador pratiquei tantas vezes o disparar e rolar a arma que fiquei com os nós dos dedos em sangue – e o resultado foram dois segundos de tempo de ecrã. Não me queixei. Fazia tudo parte do trabalho necessário para quebrar a norma e tornar-me um novo tipo de protagonista: um herói de ação.

A seguir levei para a política essa mesma filosofia. Na campanha de 2003, devorei relatórios sobre todos os assuntos importantes para o estado da Califórnia. Cada um estava repleto de memorandos pormenorizados escritos por especialistas de topo sobre temas obscuros nos quais nunca imaginei ter alguma vez de pensar, quanto mais ter de tomar decisões sobre o assunto. Por exemplo, a micromarcação de munições ou os rácios de enfermeiro-doente nos hospitais locais. Após os meus exercícios físicos matinais em Venice, abria a porta de casa a quem estivesse disposto a ensinar-me sobre governação, sobre política, sobre tudo o que era importante para os californianos. Eu estava comprometido a viver de acordo com a promessa feita aos eleitores em campanha – e a cumpri-la: ser um político diferente. Por isso, usei essas cinco horas que antes dedicava aos treinos de culturismo e depois à preparação como ator, e tornei-as uma espécie de programa de imersão na linguagem da política e da governação. Todos os dias, estudei e treinei como se fosse um aluno estrangeiro a tentar aprender a linguagem local; revia os apontamentos vezes sem conta e falava de memória até as palavras me surgirem naturalmente.

Em todas as fases da minha carreira, o objetivo de todo este trabalho árduo – todas as repetições, toda a dor, todo o acompanhamento, todas as horas sem fim – foi o mesmo.  E é o mesmo para qualquer coisa especial que queiram fazer com as vossas vidas, seja gerir um negócio, casar, serem agricultores, tornarem-se relojoeiros, viajar pelo mundo, conseguir um aumento e uma promoção, ir aos Jogos Olímpicos, organizar uma linha de montagem ou lançar uma organização sem fins lucrativos. Seja o que for. O objetivo é estarem preparados. É estarem prontos para quando os holofotes se acendem, quando a oportunidade bate à porta, quando as câmaras começam a rodar, quando surge uma crise. Não me entendam mal: o trabalho árduo, em si, tem valor e é importante, mas a sua verdadeira razão de ser é não vacilarmos nem recuarmos quando chega o momento de o nosso sonho se tornar realidade e de a nossa visão se concretizar.