A prevalência de problemas de saúde mental em Portugal foi descrita, com dados de 2013, pela DGS. Um quinto da população portuguesa é afetada anualmente por um problema de âmbito psicológico, sendo que os mais frequentes são as perturbações ansiosas e depressivas.

Para além de todos os problemas, a inúmeros níveis, que esta situação acarreta, existe um impacto evidente, que não deve ser posto em segundo plano, na família da pessoa doente. A preocupação vivida pelas famílias pode mesmo ser causadora, por si só, de outros desequilíbrios que em nada contribuem para lidar com a situação de forma adaptativa. Os vários elementos da família sentem este impacto com intensidades, formas e vivências diferenciadas de acordo, por exemplo, com a sua posição na família ou a idade da pessoa doente.

Inúmeros estudos têm mostrado que a forma como as famílias vivenciam e partilham as emoções é muito importante em situações de sofrimento psicológico. A expressão emocional adequada parece ser um fator crucial quando se tenta perceber a resiliência e capacidade de adaptação e suporte das famílias.

Expressão emocional: sim, mas...

O nível de expressão emocional tem impacto direto no bem-estar da família e situações como tensão, sobrecarga ou mesmo o padrão habitual de comunicação podem conduzir a uma tendência de alta expressão emocional negativa.

Será fácil de compreender que, por exemplo, um pai ansioso por resultados escolares positivos do seu filho, afastado da escola há algum tempo por um problema depressivo, possa dizer: “Tu não te esforças o suficiente” ou “Se tu quisesses conseguias”. No entanto, este género de afirmações, com alto teor crítico ou de desvalorização, poderão ser avassaladoras para alguém em sofrimento. O excesso de criticismo é, por isso, uma das tendências a evitar.

A hostilidade é outra das formas de expressão emocional negativa nas famílias. A tendência para considerar que todos os problemas da família estão a ser causados pela pessoa doente será também um elemento desestabilizador da recuperação.

A culpa da família, a ideia de que a doença poderia ter sido evitada por esta, conduz facilmente a situações de sobre-envolvimento em que o foco da família passa a ser a doença do seu familiar, ao invés de ser a pessoa do familiar. Este circuito de culpa – sobre-envolvimento – frustração, em que a família tenta controlar a doença controlando a pessoa, será também um dos obstáculos ao processo de recuperação da pessoa doente.

A contribuição da família é fundamental para o suporte e recuperação da pessoa doente. No entanto, é muitas vezes necessário que a família também receba ajuda para melhor conseguir ajudar o seu elemento em sofrimento.

Catarina Janeiro
Psicóloga Clínica