Ao longo da vida, em vários momentos e situações diferentes, é normal sentir ansiedade. São momentos onde a nossa mente sente mais pressão para lidar com o desafio que lhe foi apresentado do que recursos para o resolver, pedindo a nossa ajuda para o solucionar através da ansiedade.
A ansiedade apresenta-se como um conjunto de sintomas físicos e psicológicos, que nos orientam para a ação com a intenção de nos tornar, naquele momento, mais adaptados ao que nos rodeia. Ficamos orientados para agir, lutar ou fugir, com recursos cognitivos diminuídos, mas com o corpo mais do que ativado. O pensamento fica acelerado e afunilado para perigos e medos, criando mais focos de ansiedade pela ativação involuntária de imagens mentais. Absorve a nossa energia enquanto nos alerta para criar mudança.
O que é certo é que, a maioria das vezes, esta ansiedade impede-nos de atuar no que seria o nosso melhor desempenho dentro do que achamos ser o melhor para nós. Aqui, temos a mente a correr. A pensar em milhentas coisas ao mesmo tempo e a não conseguir planear ou escolher alguma. A ansiedade vai aumentando por não estar a ser ouvida e nós, que estamos a pensar que não queremos estar assim, ficamos mais ansiosos por estarmos a tentar, muito, não ter ansiedade! Temos de parar. Parar de pensar e começar a sentir.
É fulcral partir do princípio de que a ansiedade não está presente por acaso. Há algum estímulo, interno ou externo, percebido por nós ou não, que a ativou. É preciso dar-lhe um nome, uma função, uma emoção associada a nós e uma expectativa que temos para ela. Respirar sobre ela e senti-la. Este é o primeiro passo para a nossa mente perceber que já estamos a tomar conta de nós, permitindo-lhe, assim, a diminuir a intensidade da ansiedade.
Pensar é criar processos e a ansiedade já os tem. Sentir é desconstruir em significados emocionais a experiência interna. Este será o verdadeiro propósito com que se tem de lidar. Assim, faça perguntas emocionais à sua ansiedade. Quem ela é? Porque aqui está? Como ela se sente? Como é que se sente com a sua ansiedade? Não deixe de ter respostas. Fazer perguntas apenas sem as respostas é criar ansiedade também. Sinta as respostas e, com isso, sinta a sua ansiedade. É importante falar com ela para lhe fazer perceber que sabe que ela é importante, tem o seu papel e que, em momentos, não sabe qual é e precisa de respostas.
Sem medo, dê-lhe palco para atuar e permita-se a levá-la de volta aos bastidores quando esta terminar. Isto significa que deve deixar a sua ansiedade realizar o seu propósito, sem a bloquear ou contornar, como algo natural dentro de si que o está a alertar, devendo criar mudanças para que esta termine a sua função. Só assim ela desaparece, sentindo-a.
Quando apenas pensamos na ansiedade e no que a causa, procurando incessantemente uma origem, não a estamos a ouvir. Ela multiplicar-se-á pelos sintomas parecidos que a projetam e a nossa mente passa a estar alerta para muitos estímulos diferentes, alguns nada perigosos, mas que no nosso caminho de boicote à ansiedade fomos acumulando. Exemplos fáceis disto são a tendência que as pessoas que sentem ansiedade têm a deixar de beber café ou a deixar de fazer exercício físico por lhes parecer, a certo ponto, que estas atividades são geradoras de ansiedade, quando apenas alguns sintomas são idênticos, como o aumento do batimento cardíaco. Sentindo, poderia perceber que são coisas distintas. Provavelmente até, com planeamento adequado, podem ajudar a baixar sintomas de ansiedade por nos permitirmos a senti-los de forma saudável.
As nossas emoções são o centro da nossa experiência interna. Quando não ouvimos alguma, a nossa mente adquire caminhos mentais que não nos são tão aprazíveis ou adaptativos, potenciando o aparecimento da ansiedade para algumas situações. Cuide das suas emoções, sinta-as. Cuide da sua ansiedade, sinta-a. É uma amiga valiosa se a deixarmos fazer o seu trabalho e se nos permitirmos a cuidar de nós.
Tiago A. G. Fonseca - Psicólogo clínico
Comentários