Na nossa cultura, o sentimento de raiva ainda permanece em negação. Oiço com muita frequência, nas consultas: “Raiva? Eu?! Raiva têm os cães…” ou tendencialmente, negamos a raiva procurando culpados (bode expiatório) evitando assim assumir a responsabilidade pelos sentimentos.

Na comunicação, a raiva serve um argumento muito em voga: “A melhor defesa é o ataque”. Na realidade, todos nós sentimentos raiva, algumas vezes conseguimos justifica-la, outras vezes não, isto é, agimos por impulsos (pensamentos automáticos), e só após os incidentes conseguimos avaliar o impacto dos comportamentos.

É Ok sentir raiva, a questão que se coloca aqui são os comportamentos inapropriados, a sua frequência, a sua intensidade e o impacto – agressividade, a violência e a ameaça.

Alguns comportamentos associados à raiva: hostilidade, irritabilidade, impulsividade, ofensa (vingança), tensão/alerta. Alguns estudos referem que estes tipos de comportamento estão associados a níveis reduzidos de serotonina no cérebro, neurotransmissor que regula o humor, o sono, o apetite, ritmo cardíaco e é fundamental para a percepção e avaliação do meio e para a capacidade de resposta aos estímulos ambientais. Conduz o individuo ao comportamento impulsivo e agir nos sentimentos – ataque (agressividade e violência - perda de controlo).

Outros estudos referem que indivíduos com características da personalidade egocentristas possuem a tendência para agir agressivamente. Também existe uma ligação entre a depressão, a ansiedade e a raiva.

A raiva pode ser utilizada de forma violenta cujo objetivo é magoar as outras pessoas, e em último caso, pode conduzir à agressão – física. Nesta situação, podemos considerar a existência de um problema sério. Os tribunais estão cheios de processos de pessoas, com boas intenções, mas que a dada altura a agressividade atirou-os para uma cela, divórcio, solidão, desespero, violência domestica, quezílias, etc.

A agressividade é um fenómeno que se vai desenvolvendo gradualmente no individuo, não é um comportamento isolado. A raiva e a agressividade (violência) podem afetar e comprometer seriamente os relacionamentos interpessoais. A raiva e a agressividade estão associadas à solidão, à baixa auto estima, à vergonha e ao sentimento de culpa. Quando avaliamos a raiva centramo-nos nos factos e no impacto: situação e comportamento.

Importante: Numa escala de 1 (reduzida) a 10 (elevada – perda de controlo) qual é o nível da sua agressividade perante uma crise? Ou uma situação típica de conflito? Por exemplo, quando se sente ameaçado/a e/ou injustiçado/a?

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Considera o nível da sua agressividade elevado, tipo 8 ou mais?

- Monitorize as oscilações de humor entre depressão e ansiedade, a fim de evitar agir durante os  sentimentos dolorosos – ataque (perda de controlo).

- Evite consumos de bebidas alcoólicas e/ou outras drogas. Reduzem o seu estado de vigilância e alerta perante comportamentos problemáticos – agressividade e violência. Sabia que a violência doméstica está associada ao consumo/abuso de álcool e/ou outras drogas?

- Mantenha um registo dos episódios de hostilidade, irritabilidade, impulsividade, ofensa (vingança), sobressalto – situação, comportamento e impacto.

- Identifique situações (pessoas, lugares e coisas) que despoletam a violência e a agressividade.

- Numa situação de conflito com outra pessoa, caso identifique níveis de raiva elevados, peça um intervalo e abandone o local. Questione os seus pensamentos automáticos que justifiquem e legitimem a agressividade e a violência.

- Desenvolva novas e diferenças competências na gestão do conflito agressividade vs assertividade. Agressividade não é assertividade. Agressividade é intimidação, manipulação e controlo.

- Assuma o compromisso de mudar de comportamento problemático. Faça planos e trace objetivos específicos e auto motivacionais.

- Sentir raiva é OK, evite reprimir os sentimentos, questione os pensamentos automáticos que reforçam a agressividade e a violência – ofensa, castigo, injustiça.

- Caso considere a hipótese de aconselhamento, envie-nos um email. Pedir ajuda, para a perda do controlo, é um ato de coragem.

Há palavras que mudam as pessoas. Votos de uma excelente semana.

João Alexandre Rodrigues

Addiction Counselor

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