As emoções não são boas nem más, nem positivas ou negativas. Podem ser agradáveis ou desagradáveis mas são todas adaptativas, isto é, orientam-nos para a nossa sobrevivência.

Na nossa cultura e sociedade está de alguma forma implícito que sentir algumas emoções é mau. Não devemos mostrar-nos tristes e o choro deve ser evitado, existindo uma pressão social para estarmos sempre bem dispostos e sorridentes. Fomos educados a não expressar raiva e quanto ao medo é só para os mais fracos ou para os “mariquinhas”. Expressões como “Homem que é homem não chora” ou “Não tens motivos para estar triste” é o mesmo que dizer: “Não expresses os teus sentimentos”. A falta de permissão e apoio para sentir e expressar as emoções e o desconforto experienciado leva a que muitas pessoas as anulem ou neguem, em vez de as regularem e expressarem adequadamente.

Porque ficamos tristes, com raiva, com medo ou desesperados? Para que servem as emoções? Compreender os propósitos e as funções das emoções, pode ajudar-nos a entender como podemos ter “saúde” emocional e como mantê-la ou recuperá-la.

Tomemos como exemplo a tristeza, uma resposta a uma perda de algo ou de alguém, habitualmente relacionada a uma situação passada.

Por que sentimos tristeza? Tente pensar nos resultados de um bom choro, ou da quietude e descanso que acompanham esta emoção. A maioria das pessoas, depois de um período de tristeza intenso, fica com uma sensação de alívio, de limpeza, de se terem desprendido de algo. Este é um dos propósitos desta emoção: ajudar-nos a deixar ir o que já perdemos, o que já acabou e abrir espaço para o crescimento, para novas pessoas ou novas “coisas”. A tristeza também nos predispõe a descansar, a recuperar as energias, da mesma forma que descansaríamos e nos recuperaríamos depois de uma lesão física. Se a expressarmos adequadamente, entregamos o passado ao passado e mais facilmente nos movimentamos para o presente, prontos e abertos para novas possibilidades. Assim, processar a tristeza é potencialmente reparador, não esquecendo também  a sua função de despertar a empatia nos outros, provocar o cuidado, convidar ao consolo e à ajuda.

Agora imagine uma situação em que sentiu raiva, que se sentiu injustiçado ou enganado.

Tente lembrar-se das sensações no seu corpo. Os punhos e os maxilares tendem a fechar-se, há uma tensão geral nos ombros, braços e pernas e o corpo fica mais quente. É a raiva, que nos faz “ferver” e mudar aquilo que acreditamos estar errado. Torna-nos mais fortes, mobiliza a nossa energia e cria em nós um impulso para a acção que visa superar um obstáculo. A sua expressão, adequada, tem como propósito defender os nossos direitos.

Examinemos o medo.

Diferentemente da raiva e da tristeza, está habitualmente relacionado com o futuro. É uma espécie de aviso sobre a possibilidade de alguma ameaça. O medo prepara-nos para o perigo, real ou imaginado. Ficamos alerta para algo que está prestes a acontecer. É uma reação de luta ou fuga que leva a modificações fisiológicas: os músculos ficam tensos (o que nos deixa prontos a lutar ou fugir), a respiração acelerada e superficial, os batimentos cardíacos aumentam, sentimos o frio no estômago e os olhos ficam abertos e alerta, o que nos deixa mais despertos e conscientes. Estas modificações fisicas preparam-nos para enfrentar o perigo, para detectá-lo adequadamente, para eliminá-lo ou para fugir. Este é o propósito do medo, no entanto é uma emoção desvalorizada socialmente. Tornou-se comum para muitos homens a tentativa de negar as reações naturais associadas a esta emoção (“um homem não deve ter medo”), resultando daí uma série de distorções (esconder o medo com outras emoções) e de consequências devastadoras (por exemplo, comportamentos inapropriados ou disfuncionais).

Quando o medo nos paralisa, incapacitando-nos para uma acção adequada, podemos estar perante traumas ou interferências anteriores. Nestes casos, não só o medo, como qualquer outra emoção passa a ter um efeito desadaptativo e desorganizador sobre a personalidade.

As emoções têm funções cruciais para nossa sobrevivência. O corpo responde com reações fisiológicas por algum motivo. Se a raiva, não tivesse um propósito biológico, nós viveríamos sempre calmos. Se a tristeza não tivesse um propósito biológico, nós nunca derramaríamos uma lágrima.

Os exemplos anteriores foram lembrados para introduzir um princípio psicológico que me parece essencial: não existem emoções inúteis, prejudiciais ou negativas. Todas têm um propósito útil. Se forem negadas, suprimidas ou distorcidas, terão um efeito desastroso a curto ou a longo prazo sobre nós e sobre aqueles que nos rodeiam.

A tristeza ou a raiva não processada adequadamente pode levar a uma depressão. Sentir tristeza é natural, faz parte da nossa biologia, a depressão é patologia. O mesmo acontece com o medo, se o negarmos corremos o risco de sofrermos de alguma perturbação de ansiedade.

O conceito de emoções negativas, tem um significado de inútil ou prejudicial, que se refere ao facto de certas emoções serem sentidas como desagradáveis. Mesmo estas que sentimos subjetivamente como desagradáveis (tristeza, medo, raiva, etc.) são úteis, têm uma função precisa e devem ser experienciadas e expressadas adequadamente para que sejam potencialmente reparadoras.


Pense nisto. Aceite as suas emoções e perceba as “mensagens” que o seu corpo lhe dá. Não só é licito sentir dor, raiva, medo ou tristeza, como é uma boa forma de prevenir o aparecimento de perturbações psicológicas.

Se sentir dificuldade em entrar em contacto com as suas emoções e expressa-las apropriadamente não hesite em procurar ajuda de psicoterapia.

Catarina de Castro Lopes
Directora Clínica de Psicologia da White