
Alguma vez ouviu dizer que as nossas emoções são como bússolas e que é importante ouvi-las? Talvez já se tenha questionado sobre a complexidade do lado emocional do ser humano. Afinal, o que são e para que servem as emoções?
A definição de emoção tem sido bastante elaborada e discutida entre diferentes autores. No entanto, estas definições partem da ideia de que a emoção é uma reação transitória a um estímulo ou situação, composta por pensamentos, sensações subjetivas, alterações fisiológicas e comportamentos.
Ao estudar e visitar diversas culturas, o psicólogo americano Paul Ekman constatou que existem seis emoções primárias (alegria, raiva, medo, nojo, tristeza e surpresa), nucleares e universais à experiência humana. Estas são inatas e automáticas, integrando a nossa espécie há séculos. Tendo a raça humana milhares de anos, e permanecendo estas emoções connosco, faz sentido concluir que têm e tiveram funções relevantes para a sobrevivência da espécie. Para tornar mais claro, podemos refletir as funções básicas de cada uma delas individualmente:
Alegria – procura sinalizar que algo é bom para nós, fazendo sentir-nos bem, para que nos sintamos motivados a repeti-lo.
Raiva – serve para nos defendermos a nós e de quem gostamos, de ameaças e injustiças, de forma a proteger o nosso bem-estar, interesses e direitos. É uma emoção que nos dá energia para podermos impor limites nas nossas relações e enfrentar desafios.
Medo – ativa o nosso instinto primitivo de proteção de um possível perigo, de “fuga ou luta”, para podermos evitar ou lidar com uma possível ameaça.
Nojo – provoca vontade de afastar algo que faz mal, ou que pode ser nocivo, incluindo também, por exemplo, transgressões a valores sociais e morais.
Tristeza – incentiva o indivíduo a resguardar-se com vista a ajudar a processar e adaptar face a situações difíceis e perdas. Por isso mesmo, quando estamos tristes isolamo-nos, procurando apoio social apenas em pessoas de confiança e somos estimulados a refletir sobre dada situação. Tem também uma forte componente social, visto que a sua expressão pode estimular nas outras pessoas empatia.
Surpresa – redireciona e foca a nossa atenção em algo novo e inesperado, para que possamos compreender e lidar com esse algo de forma mais rápida e eficaz.
Na sua origem, todas as emoções têm funções saudáveis para o nosso funcionamento, adaptação e sobrevivência. Se acha que as emoções desagradáveis (ditas “negativas”, como a tristeza, raiva, medo) são más, pode dar-se que esteja a contemplar apenas cenários extremos destas emoções, e não o funcionamento natural das mesmas, ou talvez tenha aprendido, socialmente, que são erradas ou que não devem ser expressas.
Repare, no entanto, que à semelhança destas emoções, também a alegria descontextualizada e desmedida se pode tornar em algo negativo (por exemplo, estar extremamente feliz num funeral, ou, num momento de euforia fazer algo irrefletido e arriscado). Todas as emoções têm funções boas para nós e todas podem trazer perigos aquando de uma grande desregulação.
Ao contrário do que muitos pensam, as emoções estão longe de ser fenómenos puramente psicológicos. Um estudo de Nummenmaa, Glerean, Hari e Hietanen publicado, em 2014, na revista norteamericana Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) mapeou a temperatura do corpo de pessoas em diferentes estados emocionais. Note como as emoções provocam reações fisiológicas associadas também às suas funções e expressões (por exemplo, o aumento de temperatura da raiva, providenciando energia para agir contra uma fonte de perigo; ou a ausência de temperatura na tristeza, espelhando a ausência de energia e por isso também de atividade).
Quando sente uma emoção, todo o seu corpo reage, porque se prepara para reagir e ajudá-lo a lidar com uma situação. Para tirar o melhor proveito das suas emoções, a solução não é fugir delas, mas sim procurar estar atento às mesmas e relacionar-se com elas. Caso não consiga perceber, lidar com e regular as suas emoções, procure ajuda psicológica. É natural não saber fazer algo que nunca aprendeu. Não tem de o fazer sozinho/a.
Um artigo dos psicólogos clínicos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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