O conceito de FOMO (Fear of Missing Out ou, em português, medo de ficar de fora) é usado para descrever as desvantagens e consequências de uma utilização intensiva e dependente das redes sociais digitais, com impacto significativo na funcionalidade da pessoa, podendo dar origem a sintomas ansiosos e/ou depressivos.

Este conceito já vem a ser debatido há algum tempo, bem antes de todo o cenário pandémico se instalar e modificar uma parte significativa das nossas vidas. No entanto, a necessidade de distanciamento físico nas nossas relações sociais (familiares, amizade, profissionais e outras) intensificou bastante a nossa relação com os ecrãs e, consequentemente, as consequências mais nefastas dessa utilização intensiva.

As circunstâncias conduziram-nos a recorrer frequentemente ao ecrã para acontecimentos que, há poucos meses, faziam parte das nossas tarefas presenciais. Estou a falar da festa de aniversário de um familiar ou amigo, da consulta no médico ou do treino no ginásio. Em janeiro, a não ser por circunstâncias muito específicas, não nos passaria pela cabeça vivenciar este género de situações através de um ecrã. É agora uma realidade muito frequente.

Para além de todas as vantagens, fáceis de apontar a esta utilização da tecnologia e dos ecrãs, existe também um lado lunar, um lado que acarreta algumas consequências que temos de atentar. Poder aceder a um vasto mundo (social, profissional), de quase todo lado, a qualquer altura, é fantástico, mas pode também levar-nos à exaustão. Estar sempre contactável, sempre a contactar, sempre a receber informação (nem sempre a melhor ou mais fidedigna), pode não ser compatível com uma vida em que a capacidade de discernimento, reflexão e aceitação funcionam em prol da nossa saúde mental. Podemos ainda acrescentar que o ecrã pode também significar estar sempre em contacto com o lado solar da vida de algumas pessoas, com a pressão de mostrar ao mundo que, do lado de cá do ecrã, também brilha o sol. Mesmo quando não brilha, ou quando a comparação com as vidas digitais conduz à insatisfação e ao vazio.

É, por isso, muito importante conseguirmos encarar estas consequências do uso da tecnologia, implementando estratégias que nos permitam manter a saúde mental e o bem-estar diário. Deixo algumas sugestões:

1. Estabeleça uma hora para abandonar os ecrãs. Está descrito cientificamente o impacto negativo que a luz dos ecrãs tem na indução do sono. Além disso, é importante que deixe a sua atividade mental reduzir significativamente para poder entrar num sono tranquilo e reparador. Seja criativo, pensando em atividades novas para o final do seu dia, ou recorra a atividades que fazia no seu passado. Desligue as notificações, pelo menos, quando está a dormir para não permitir que o seu sono seja interrompido.

2. Não passe o seu tempo livre exclusivamente em ecrãs. Sobretudo se o passar a fazer “scroll down”, sem objetivo, nas redes sociais. Muitas vezes iniciamos essa atividade como forma de relaxamento, mas na maioria das vezes, essa estratégia revela-se pouco eficaz. Opte por outras que diversifiquem aquela que é a sua atividade na maior parte do dia.

3. Tome contacto com o mundo ao seu redor, pois quando estamos demasiado tempo fixos no ecrã tendemos a não prestar atenção ao que se passa ao nosso redor. Em casa ou no exterior, seja intencional na utilização dos seus sentidos: por uns minutos concentre-se em cada um dos sentidos, experienciando a realidade física.

4. Relacione-se com pessoas reais: ligue ao seu amigo de longa data ou combine um passeio com um familiar. Focar-se excessivamente nas relações exclusivamente digitais pode contribuir para uma sensação de isolamento e solidão.

5. Use a tecnologia a seu favor. Se tiver dificuldade em implementar estas estratégias, já existem aplicações que o ajudam a saber quando parar. Recorra a elas se forem uma ajuda importante para atingir um equilíbrio que potencie o seu bem-estar.

A tecnologia é fundamental na nossa sociedade e tem contribuído infinitamente para a melhoria das nossas vidas. Mas a nossa saúde mental exige que continue a ser um meio e não um fim.

Catarina Janeiro - Psicóloga Clínica