Com o aproximar do final de mais um ano letivo, são muitas as famílias que ficam preocupadas e até assustadas com o rendimento escolar das crianças. Algumas pelas oscilações no rendimento — isto é, de tão depressa uma criança ter boa nota, como uma quebra significativa —, outras pelas notas permanentemente em défice.
As dificuldades escolares, representam um fenómeno muito complexo e geralmente assente em várias causas, de entre as quais se destacam as dificuldades cognitivas, familiares, emocionais e sociais.
Quando as dificuldades são de ordem cognitiva, regra geral, os sinais de alerta começam a aparecer desde cedo, o que leva os adultos à volta da criança a adoptar um conjunto de estratégias facilitadoras da aprendizagem e a compreenderem de forma mais clara o que pode estar a ocorrer.
No entanto, são muitas as crianças que nunca evidenciaram sinais de alerta, que nunca apresentaram fragilidades cognitivas e que, sem que nada o fizesse prever, começam a apresentar dificuldades de aquisição de conteúdos escolares, falta de motivação e falta de ligação à escola. Cenário este que se expressa num desempenho escolar mais baixo e menos consistente.
Quando estamos perante estas circunstâncias, regra geral, as dificuldades são mais do foro emocional do que do foro cognitivo e refletem o mal-estar da criança em alguma das áreas da sua vida, seja na relação com os colegas seja na dinâmica familiar, ou até na relação consigo própria, com o seu corpo ou com tudo aquilo que vivencia dentro de si.
Quando assim é, é muito importante que os adultos à sua volta não adotem uma postura mais desligada da criança e da sua fragilidade, recorrendo à ideia de que “é uma fase e vai passar", ou à ideia de “está apenas distraído, mas passou de ano!”.
Sempre que o fazemos deixamos de valorizar um sinal importante acerca do bem-estar emocional e da saúde mental da criança e corremos o risco de fazer com que uma dificuldade simples que se está a expressar, se comece a consolidar de forma cada vez mais permanente e a contaminar não só o rendimento escolar, mas todas as restantes áreas de vida de uma criança.
Desta forma, nunca nos podemos esquecer que se olharmos bem para o dia a dia de uma criança, fica muito claro que o rendimento escolar é um ótimo barómetro do equilíbrio global da criança e que, se estivermos atentos aos seus desempenhos teremos, regra geral, sinais evidentes da sua realidade interna. Apesar disto, tenhamos sempre consciência que a escola não deve ser o mais importante na vida de uma criança, mas reflete muito daquilo que a criança vivencia.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
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