Conhecida pelo seu trabalho como repórter do programa Só Visto e como apresentadora do Hora da Sorte: Sorteio do Joker, ambos na RTP, Dália Madruga sofre de psoríase, uma doença crónica de pele hereditária, desde os 14 anos.
Com 31 anos, há muito que aprendeu a lidar com uma patologia que se vê na pele, exposta aos olhos de toda a gente, e que pode interferir na auto-estima. Sobretudo, quando esta doença surge na adolescência, uma idade muito particular no crescimento feminino. «Tinha 14 anos quando descobri a primeira manchinha avermelhada. No meu caso, apareceu-me no joelho e dava-me imensa comichão», conta Dália Madruga.
Na verdade, a psoríase não lhe era completamente desconhecida, uma vez que o pai também é portador.«É uma doença hereditária mas, até me confrontar com ela, acho que nunca tinha prestado muita atenção ao caso do meu pai», admite.
A primeira reacção não foi tão má como se podia imaginar numa adolescente de 14 anos, o que não significa que não tenha trazido sofrimento e raiva.
«De início reagi bem, era apenas uma mancha no joelho. Depois, com o conviver da doença e quando se começou a manifestar no corpo todo, fiquei triste e sem perceber bem o porquê de ter de viver com esta doença», assume.
No entanto, apesar de estar em plena adolescência não se deixou abater. «Tinha apenas 14 anos e esta é uma idade em que passamos por várias transformações mas sempre fui muito extrovertida e sempre tive muito apoio em casa. E talvez isso tenha sido fundamental para lidar bem com uma doença que não mata, não é contagiosa, mas chateia e com a qual temos de viver o resto da vida», conta. Dália Madruga, que é mãe de um menino que, felizmente, até agora, não teve qualquer sinal da doença.
«Aprendi cedo que quanto mais revoltada ficava, mais a doença se manifestava e tive de aprender a ignorá-la. Se bem que, durante a adolescência, não fui muito afectada pela doença, que era controlável», explica.
No seu caso, a psoríase manifesta-se pelo corpo todo, mas com mais incidência nas pernas. E numa fase em que as crianças e os adolescentes podem ser muito cruéis, outra das suas defesas durante a adolescência foi, sem dúvida, o seu carácter.
«Não me recordo de episódios que me tenham marcado negativamente porque sempre fui muito menina do meu nariz. Mas ainda na escola secundária senti necessidade de pedir ao médico, que me assistiu na altura, que escrevesse uma declaração sobre a doença e exigi ao meu professor de educação física que a lesse em voz alta na aula.», relembra.
Hoje, já adulta, encontrou o equilíbrio perfeito para lidar com a doença. «Quase que me esqueço que a tenho, apenas quando ela resolve fazer das suas é que me irrita... Normalmente, tento conviver com ela sem lhe dar muita importância. Mas em momentos de stress é impossível esquecer que se tem psoríase», revela.
No que toca à sua auto-estima e trabalhando numa área na qual a imagem é muito importante, Dália Madruga também sabe como contornar a questão: «Aprendi a viver com a doença. Mas, ainda hoje, na altura de ir para a praia, tenho de fazer o exercício de não me preocupar demasiado com o facto de estar a ser observada. Ainda por cima porque sei que quanto mais sol apanhar mais tempo fico livre da psoríase», admite.
Para a apresentadora da RTP, esta doença hereditária, crónica e sem cura, também nunca foi um entrave na sua vida profissional. E isso talvez seja resultado da maneira como Dália Madruga convive com a mesma. «Talvez porque nunca escondi que tenho psoríase. Comecei a ser manequim aos 17 anos e só por volta dos 21 é que a doença começou a atrapalhar alguns trabalhos. Claro que, por vezes, tenho de optar por calças em vez de saias, mas já faço isso naturalmente», explica.
Sendo uma doença que não tem cura, o que se pode fazer para controlá-la e atenuá-la?
«Existem muitos tratamentos, uns mais eficazes que outros. Loções, pomadas, comprimidos, injecções. É essencial ser acompanhado por um médico e agora já existem consultas da especialidade em alguns hospitais públicos, como é o caso dos Capuchos e Santa Maria», explica.
«Em 16 anos informei-me sobre tudo aquilo que consideravam novidade nos tratamentos para a psoríase e já experimentei tudo», revela com um sorriso.
«Neste momento, sou seguida pela dermatologista Ana Ferreira e faço um tratamento com injecções», acrescenta.
A importância de dar a cara
Enquanto figura pública, Dália Madruga acredita que partilhar a sua história pode ajudar outras pessoas que sofram da mesma doença, que não escolhe sexo, nem idade.
«Acima de, tudo, enquanto figuras públicas, devia ser um dever nosso não escondermos que temos a doença. Faz parte da nossa vida, assim como da de mais de 250 000 portugueses. Esconder facilita, melhora? Não! Mas pode fazer a diferença numa pessoa que descobriu agora que padece da mesma doença? Acredito que sim e é por isso que aceitei ser madrinha da PsoPortugal, uma associação que pretende esclarecer e lutar pelos direitos dos doentes com psoríase», afirma.
Segredos para viver melhor o dia-a-dia com esta doença
Para Dália Madruga parece simples: «O segredo é estar sempre rodeada de pessoas que gostam de mim pelo que sou e não por aquilo que pareço! E hidratante, muito hidratante», revela com o sorriso e a alegria que a caracterizam.
Conhecer a psoríase
Ana Ferreira, a dermatologista que se Dália Madruga, explica o essencial sobre a doença.
«É um distúrbio cutâneo comum que afecta cerca de 2 a 3% da população mundial. É uma doença inflamatória cutânea crónica que se caracteriza pelo aparecimento de placas vermelhas cobertas por escamas. As lesões podem localizar-se em qualquer zona do corpo, sendo mais frequentes nos cotovelos, joelhos e couro cabeludo.»
É uma doença hereditária? E contagiosa?
«É uma doença parcialmente genética, ou seja, tem mais probabilidade de a desenvolver se alguém da família a tiver. Há uma história familiar positiva em 30% dos doentes. Não é uma doença contagiosa, não há problema em tocar nas lesões.»
Quem afecta?
«Manifesta-se sem grandes diferenças em ambos os sexos. Pode aparecer em qualquer idade, sendo no entanto mais frequente o seu aparecimento em dois picos etários: 20/35 anos e 50/65.»
Como se trata?
«A psoríase é uma doença crónica, o que significa que não há cura. No entanto, evolui por surtos (fases de agravamento e de remissão), havendo actualmente um grande número de tratamentos que permitem controlar as crises e manter os doentes sem lesões.»
Como afecta os doentes?
«A extensão da doença obviamente que é importante mas, sobretudo, quando esta doença se localiza nas zonas visíveis (face, mãos, couro cabeludo) é muito mais determinante na limitação da auto-estima. É, sem dúvida, uma doença que influencia a vida de relação social/profissional/ sexual, limitando em muito algumas das actividades mais básicas como um simples aperto de mão, ou uma ida ao cabeleireiro.»
O que deve fazer um doente com psoríase?
«O doente deverá ser acompanhado por um dermatologista, para que tenha a terapêutica mais adequada a cada fase da sua doença.»
E o que nunca deve fazer?
«Automedicar-se ou copiar a terapêutica do “vizinho”, pois cada doente tem uma psoríase com determinada história/evolução/ localização. Além disso, o próprio doente pode ser portador de outras patologias que interfiram na doença ou tratamento.»
Os tratamentos com peixes, sanguessugas... Resultam?
«Como em todas as doenças crónicas (sobretudo nas que afectam a pele, zonas visíveis, interferindo na vida de relação) existem sempre sites/cremes milagrosos etc. que oferecem a cura. Nem todas com aspectos negativos mas a grande maioria das vezes com pouca eficácia e precário espírito científico.»
Texto: Ana Mendonça da Fonseca com Dália Madruga (apresentadora) e Ana Ferreira (dermatologista)
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