Não foi a primeira pergunta que lançámos, mas as respostas que obtivemos foram muito curiosas. Quisemos saber como definiam os nossos entrevistados um adolescente «bem sucedido».

Tinham a resposta na ponta da língua. «Significa ter um namorado bonito (de preferência mais velho), ter boas notas para não haver problemas em casa, liberdade para se sair quando se quer, ter bom gosto, ser magro e não se ser facilmente influenciável», descreveu-nos Angélica, de quinze anos.

Já João Pedro, dois anos mais velho, dá outra versão à mesma história: «é alguém que se consegue divertir, tem um bom desempenho escolar, aproveita os momentos que são únicos».

Há também quem, já aos quinze anos, não seja capaz de dissociar o sucesso da conta bancária. Segundo Paulo – cujo pai está desempregado e a mãe é doméstica – «o adolescente bem sucedido é aquele que tem dinheiro, que não tem de fazer nada para ter o que quer».

E há ainda a questão da imagem que conta e muito. «É importante a forma como nos vestimos. Somos avaliados por isso. Se alguém usar mais de três ou quatro cores já é motivo de gozo. Se fôr feia para escola vou incomodar os outros», diz Angélica.

Cábulas tecnológicas

Sejam alunos médios ou excelentes, o que os adolescentes mais gostam na escola é dos amigos.

Estudam porque sabem que esta é a única forma garantir o futuro que ambicionam ou porque não querem que os seus pares os apontem como alguém que ficou para trás.

A competição que existe marca alguns deles. «Tenho amigos que por serem preguiçosos ou precisarem de mais apoio são gozados. Faltam às aulas, desistem, têm vergonha», conta Angélica que vive perto de um bairro degradado.

Diana, aluna de um colégio privado, tem outras queixas. Na escola, sente-se controlada, tratada como se «tivesse dez anos». Por isso gostaria de frequentar o ensino público, onde imagina que «haverá maior liberdade e o ensino será diferente e, portanto, o choque da entrada na faculdade menor».

As cábulas, essas, continuam a existir. Mas hoje são mais sofisticadas: o telemóvel tornou-se um meio para tentar «driblar» os professores. Seja através de mensagens escritas (que consultam fingindo que estão a ver a horas), ou gravadas em voicemail, que ouvem, dizendo, por exemplo, que é uma chamada importante da mãe.

Esfera íntima

A sexualidade é um mundo que os adolescentes tendem a não partilhar com os pais. Encaram-no como um assunto só deles. E podem iniciar-se cedo neste campo. «É comum as raparigas perderem a virgindade até antes dos quinze anos», conta Angélica.

No grupo de amigos de Paulo, «perde-se a virgindade a partir dos treze anos» e segundo Diana, a motivação para o início da vida sexual varia: «há, por exemplo, quem ache que tem de encontrar a tal pessoa ou que o momento tem de ser perfeito. Mas isso não existe».

João Pedro ainda não passou por essa experiência: «Não tive a pessoa certa, uma relação que durasse muito tempo. E amar? «Já estive apaixonado mas nunca amei. Imagino que amar é ser capaz de dar a vida por outra pessoa», responde.

Alertados para as doenças sexualmente transmissíveis e para o risco de uma gravidez indesejada, segundo os nossos testemunhos, os jovens geralmente usam métodos contraceptivos, a que têm acesso, por exemplo, nos centros de saúde. 

O futuro

Casos problemáticos, contudo, também acontecem. «Os pais andam muito iludidos. Tenho duas colegas, com catorze e quinze anos, grávidas. Nem elas sabem como engravidaram quanto mais os pais. E conheço muita gente que abortou, assim como há quem venda comprimidos para isso», conta Angélica.

O contacto com as drogas também é uma realidade. «Na minha idade, não há praticamente ninguém que não tenha experimentado ou que não fume haxixe. Isso há em todo o sítio e cada vez é mais fácil ter-se acesso», refere Diana.

Quanto ao futuro – assombrado pelo receio de não seguirem o curso que desejam ou de não se realizarem profissionalmente – os jovens que ouvimos têm uma certeza: há comportamentos da nossa geração que não querem reproduzir. «Gastar dinheiro em tabaco, beber e engordar», diz Angélica; «ter uma vida sedentária, rotineira. Quero viajar muito, conhecer o mundo», projecta João Pedro.

E há quem simplesmente espera que os anos não esbatam as memórias da sua adolescência, como Diana: «Os pais esquecem-se por aquilo que passaram quando tinham a nossa idade. Nunca farei isso. Vou tratar os meus filhos como sei que gostava que me tratassem agora».

Erros a evitar com o seu filho adolescente

Intolerância

Tente compreender, ser tolerante e aceitar que esta é uma fase de transição e de busca de autonomia. Lembre-se que quando era adolescente, provavelmente também desejava marcar a diferença em relação aos adultos.

Não orientar

 «As pesquisas mostram que nesta fase o acompanhamento é fundamental. O adolescente quer voar, mas ainda não está pronto. Os pais devem orientar e supervisionar, saber quem são os amigos, onde e o quê o seu filho está a fazer e estabelecer limites», diz Lidia Weber, psicóloga.  

Generalizar

Resista, por exemplo, em dizer-lhe que ele «nunca ajuda em nada», que é «sempre egoísta» ou que se continuar a estudar pouco «não vai ser ninguém na vida». Mostre-lhe – de forma clara, afirmativa e sem exagerar nos argumentos – onde está a errar e o que pode fazer para melhorar.

Exagerar

«Diga o que tem a dizer face a uma situação negativa, mas não faça sermões nem o relembre de como você era perfeito “no seu tempo”», recomenda a especialista. Evite entrar em conflito por tudo e por nada, «Devemos escolher as batalhas certas, mas ambos estão do mesmo lado!», sublinha.

Texto: Nazaré Tocha com Lídia Weber (psicóloga)