A Macrobiótica é uma filosofia de vida ancestral, baseada na observação da natureza que enfatiza a importância da alimentação por ter esta uma forte influência na definição do nosso carácter e na gestão das nossas emoções. e do equilíbrio. Partido desta premissa, conversamos com Sónia Dias, consultora de macrobiótica certificada pelo Instituto Macrobiótico de Portugal e autora do “Livro base da Macrobiótica” (editora Influência).

Não obstante enfatizar a alimentação, a Macrobiótica não se reduz a um regime alimentar saudável. “Este é um começo”, como sublinha a professora na área do desenvolvimento pessoal, salientando que há, também, que alimentar “a qualidade dos nossos pensamentos ou a gestão das nossas emoções”. Uma ecologia humana, a “grande vida”, como preconiza Sónia Dias. Para tal, “há que cuidar paralelamente de todas as nossas dimensões: corpo, mente e espírito”.

A “ferramenta de gestão da saúde mais eficaz que conheço porque toca todos os aspetos da vida”, adianta-nos a consultora de macrobiótica.

No que toca em particular aos alimentos, a macrobiótica apoia-se em produtos locais, sazonais, menos processados, na sua forma inteira/integral.

“Assenta na compreensão de que os alimentos têm a sua própria energia, yin (expansiva) e yang (contrativa)”, diz-nos Sónia Dias.

Alimentos que, de acordo com a sua origem, “interferem de forma menos positiva na nossa capacidade de expressar emoções”. Entre outros, nesta conversa, Sónia Dias, sublinha os alimentos tropicais (banana, coco), alimentos gelados (iogurtes), e adoçantes artificiais. Outros alimentos, por seu turno, à base de plantas, locais e não refinados, propiciam “um caráter mais harmonioso, calmo e alegre”.

Sónia Dias é, ainda, a mentora do Orinam, plataforma de criação de uma consciência de ser que integra abordagens, às plantas medicinais, meditação, desenvolvimento pessoal e com oferta formativa.

“A Macrobiótica é a ferramenta de gestão da saúde mais eficaz que conheço”- Sónia Dias, consultora de macrobiótica
Sónia Dias, autora do "Livro base da macrobiótica". créditos: Editora Influência/Mariana Sabido

Sónia, como entrou a macrobiótica na sua vida?

A Macrobiótica entrou oficialmente na minha vida em setembro de 2018 quando iniciei os meus estudos no Instituto Macrobiótico. Mas antes disso já tinha frequentado um workshop de iniciação à Macrobiótica, em 2015, e acompanhava o trabalho do Francisco Varatojo há alguns anos.

Em síntese, como nos pode apresentar a Macrobiótica?

A Macrobiótica é uma filosofia de vida ancestral, baseada na observação da natureza, que nos suporta no desenvolvimento do nosso potencial, enfatizando a importância da alimentação e do equilíbrio dos alimentos para alcançar saúde e uma vida plena.

A Macrobiótica é muita mais do que um regime alimentar?

Sim, mais do que um regime alimentar saudável, é um modo de vida, um conjunto de princípios que nos inspiram a viver uma vida mais saudável e em equilíbrio. Os principais ensinamentos da macrobiótica falam-nos da importância do desenvolvimento de uma ecologia humana que respeite as nossas necessidades individuais, da sociedade e do mundo em que vivemos, oferecendo-nos um caminho para o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável, sustentável e equilibrada.

macrobiótica
"Para abraçar a vida no seu sentido mais amplo, a “grande vida” que a macrobiótica preconiza, é importante cuidar de todas as nossas dimensões: corpo, mente e espírito", refere a autora. créditos: Simon Rae/Unsplash

Porque é que a Macrobiótica nos traz maior liberdade e controlo sobre o destino pessoal?

Mais do que um regime alimentar, a macrobiótica é uma ferramenta de desenvolvimento pessoal com uma essência holística, que atua paralelamente nas dimensões corpo, mente e espírito. O nosso corpo, a comida e o meio ambiente são feitos de energia, que está em constante mutação. O objetivo da macrobiótica é compreender a dinâmica da mudança e aplicá-la a todos os aspetos da vida, otimizando a nossa saúde e felicidade. Desta forma, tornamo-nos seres mais flexíveis, mais capazes de responder a qualquer mudança e de abraçar a vida em todas as suas manifestações de uma forma mais positiva.

O objetivo da macrobiótica é compreender a dinâmica da mudança e aplicá-la a todos os aspetos da vida, otimizando a nossa saúde e felicidade.

Em termos alimentares, o que distingue a Macrobiótica de outras dietas?

Em termos alimentares, a Macrobiótica assenta em algumas premissas que a distinguem de outras dietas: os alimentos são locais e sazonais que se equilibram de maneira a nos oferecer uma energia mais estável e consistente para viver uma vida mais harmoniosa; os ingredientes são menos processados e apresentam-se na sua forma inteira/ integral tanto quanto possível, enfatizando os nutrientes dos alimentos no seu estado natural.

Podemos ter uma alimentação saudável sem assumirmos uma vida realmente saudável, por exemplo conectada com a natureza?

Poder podemos, mas não seria a mesma coisa [risos]. Para abraçar a vida no seu sentido mais amplo, a “grande vida” que a macrobiótica preconiza, é importante cuidar de todas as nossas dimensões: corpo, mente e espírito. A alimentação pode ser o começo, mas para mim é essencial cuidar também da saúde mental e emocional, para que possamos viver uma vida em equilíbrio.

Muitos dos nossos hábitos advêm de condicionamento que recebemos. Como iniciar um processo que rompa com estes condicionamentos?

Com a macrobiótica, a ferramenta de gestão da saúde mais eficaz que conheço porque toca todos os aspetos da vida. Costumo dizer que a alimentação é o ponto de partida para a transformação, pois reajustando hábitos de vida permitimos que os padrões de alimentação e de estilo de vida se desenvolvam, mas com isso acontece também uma natural expansão de consciência e a desconstrução de muitos dos condicionamentos.

“A Macrobiótica é a ferramenta de gestão da saúde mais eficaz que conheço”- Sónia Dias, consultora de macrobiótica
"Mais do que um regime alimentar saudável, é um modo de vida, um conjunto de princípios que nos inspiram a viver uma vida mais saudável e em equilíbrio", diz-nos Sónia Dias. créditos: Editora Influência/Mariana Sabido

Diz-nos a Sónia no seu livro “a nutrição é muito mais do que aquilo que comemos”. Gostaria que comentasse.

Os alimentos são a nossa fonte de nutrição primária, mas considerando que somos seres feitos de corpo, mente e espírito, devemos considerar outras formas de nutrição como, por exemplo, a qualidade dos nossos pensamentos ou a gestão das nossas emoções, que é determinante em muitos processos de doença.

Quais são os alimentos basilares para a Macrobiótica?

A dieta macrobiótica enfatiza alimentos naturais e orgânicos, livres de produtos químicos e outros ingredientes artificiais. Geralmente, a dieta é composta de cereais integrais, como o arroz integral, cevada, aveia e trigo sarraceno, frutas e vegetais cultivados localmente, sopas feitas com vegetais, algas marinhas e leguminosas. Ocasionalmente pode incluir pequenas porções de frutos secos e oleaginosas.

Sopa portuguesa
Sopa portuguesa
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Como podemos ter uma alimentação que respeita a natureza?

A Natureza fornece-nos os alimentos que são apropriados para o nosso corpo, e a saúde alcança-se conhecendo quais são esses alimentos e com o seu consumo numa base diária. De um modo geral, falamos dos alimentos típicos de cada estação e da região onde moramos.

Uma má alimentação influencia o nosso carácter e emoções?

Sim, pois as emoções estão diretamente ligadas à nossa saúde. A alimentação tem uma forte influência na definição do nosso caráter e na gestão das nossas emoções. A filosofia macrobiótica divide os alimentos em categorias yin e yang e procura um equilíbrio entre elas. Certos alimentos interferem de forma menos positiva na nossa capacidade de expressar emoções, como os alimentos tropicais, alimentos gelados e produtos químicos, como a banana, coco, gelados, iogurtes, bebidas geladas, adoçantes artificiais e alimentos altamente processados.

O consumo de alimentos excessivamente yang (quentes e contrativos) como a carne, ovos ou laticínios também leva as nossas emoções até ao seu limite, exacerbando ou estagnando-as. Por outro lado, os alimentos à base de plantas, locais e não refinados, preparados com amor e cuidado, vão criar um caráter mais harmonioso, calmo e alegre. Emoções saudáveis permitem-nos fazer face a todos os aspetos da vida de uma forma mais positiva.

O consumo de alimentos excessivamente yang (quentes e contrativos) como a carne, ovos ou laticínios também leva as nossas emoções até ao seu limite, exacerbando ou estagnando-as

O que é a energia contida nos alimentos?

É a mesma energia contida em nós e em tudo aquilo que nos rodeia, a expressão do campo eletromagnético de energia do céu (yang) e da terra (yin) que se manifesta em todas as coisas, flui em todos os sistemas do nosso corpo e manifesta-se no ar, na água e nos alimentos que ingerimos. É a energia sutil, também chamada ki ou prana, a força vital que influencia a forma como nos sentimos, o nosso estado de espírito e a nossa saúde.

A prática macrobiótica assenta na compreensão de que os alimentos têm a sua própria energia, yin (expansiva) e yang (contrativa), sendo constituídos por diferentes graus das duas forças. Através da alimentação, absorvemos a energia dos alimentos, influenciando a nossa energia vital. A escolha dos alimentos é feita pela sua qualidade de energia e pelo efeito que procuramos, sendo o equilíbrio criado através da combinação de ingredientes. Podemos recorrer à energia dos alimentos para criar a vida que desejamos.

O sistema médico “convencional” com o qual crescemos não responde aos equilíbrios que procuramos?

A minha opinião, que é muito pessoal, é a de que em muitos casos, a medicina convencional, ou “tradicional”, tem-se demonstrado insuficiente, ineficaz ou envolve contraindicações. Encaro a intervenção da medicina convencional essencial em situações extremas, e defendo que a medicina alternativa deve suportar a manutenção da saúde e atuar na prevenção, no tratamento de desequilíbrios e na promoção de um estilo de vida mais equilibrado.

Creme de arroz
Creme de arroz
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Quer partilhar algumas das receitas que mais lhe agradam e que inclui no seu livro?

Sim. O pequeno-almoço é uma das refeições que considero mais importantes para definir a energia do resto do nosso dia, por isso partilho a receita do Creme de Arroz (ver caixa), que pode ser feito com qualquer outro cereal integral, como a cevada ou a aveia. É muito importante que tenhamos uma rotina matinal que nos nutra e que nos ajude a abraçar o dia com leveza, alegria e energia. Os cremes de cereais são sempre a minha escolha de eleição para um pequeno-almoço energizante e reconfortante.

A Sónia Dias é fundadora do Orinam. Quer falar-nos desta plataforma?

O Orinam é uma plataforma de criação de uma consciência de ser. Para mim, tornou-se claro, desde muito cedo, que para alcançar uma vida mais saudável, consciente e vibrante, muito além da alimentação, é essencial abraçar outras práticas complementares de cura, ancestrais e contemporâneas.

No Orinam, para além da alimentação natural de inspiração macrobiótica, integro diferentes vertentes que fazem parte do meu percurso, como as plantas medicinais, a meditação e o desenvolvimento pessoal. Temos disponível uma oferta de cursos e programas divididos em práticas de alinhamento corpo, mente e alma que oferecem a base para o desenvolvimento da autoconsciência e para um processo de crescimento pessoal. Desde os programas de mentoring individual, sessões de meditação semanal ou cursos de alimentação natural.