E se lhe dissessem que ao comer um espargo, uma rodela de pepino ou um gomo de toranja vai gastar mais calorias do que as que este alimento contém? É certo que não é o mesmo que comer uma fatia do seu bolo ou do seu pudim favorito mas, ainda assim, podemos assegurar-lhe que é muito mais saudável e animador. Porquê? Porque pode comer sem remorsos e, ao fim de algum tempo, a balança irá recompensá-lo!

Como nos explicou Teresa Branco, diretora do Instituto Prof. Teresa Branco e especialista em gestão de peso, "existe uma teoria que defende a existência de alimentos com calorias negativas. Os seus autores consideram que determinados alimentos possuem tão poucas calorias que o nosso organismo gasta mais energia a digeri-los do que as que esses alimentos fornecem". No mínimo, curioso. Fomos investigar...

O poder da fórmula invertida

Na verdade, todos os alimentos obrigam o organismo a queimar calorias. Cerca de 10% a 15% das calorias que ingerimos são automaticamente utilizadas pelo organismo durante o processo de digestão. No entanto, certos alimentos, como a cenoura, a couve-flor ou o ananás, devido às suas características, requerem uma quantidade superior de energia para serem assimilados, gerando assim as tais calorias negativas.

A rugosidade, provocada pelo elevado teor de fibras, é o maior obstáculo que o organismo enfrenta para processar os alimentos que ingerimos no nosso processo de nutrição quotidiano. Quanto maior for a quantidade de fibras contida nos alimentos, mais ásperos se tornam e, consequentemente, mais energia o organismo terá de despender durante a mastigação e nas etapas seguintes do processo digestivo.

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Alguns frutos e legumes, ricos em fibra, vitaminas e sais minerais essenciais, que concentram por norma poucas calorias, estimulam o organismo a ter de recorrer às suas reservas energéticas de forma a concluir o processo de digestão, o que acaba por ser vantajoso.

"Não é possível contabilizar com exatidão o número de calorias necessárias para digerir os alimentos, porque os processos de digestão e armazenamento de nutrientes são demasiado complexos e variam de organismo para organismo", revela a especialista em emagracimento Teresa Branco.

Contudo, para que fique com uma ideia, podemos dizer-lhe que, por exemplo, se um croissant folhado tiver 350 calorias e forem necessárias cem para o digerir, na prática irá adicionar duzentas e cinquenta calorias às suas reservas energéticas. Inversamente, se uma maçã tiver 65 calorias e exigir igualmente cem calorias para ser digerida, o organismo terá de retirar trinta e cinco, diretamente dos depósitos de gordura.

Os aliados naturais da(s) dieta(s)

A teoria das calorias negativas está largamente difundida na internet e até já deu origem à Dieta das Calorias Negativas que promete a perda de mais de seis quilos em apenas sete dias. De facto, uma dieta que inclua apenas este tipo de alimentos vai, certamente, conduzir a uma perda de peso muito significativa. O problema é que dificilmente alguém conseguirá manter um regime tão restritivo durante mais de dois ou três dias.

E o mais certo é que, em pouco tempo, não só recupere o peso inicialmente perdido, como ganhe mais alguns quilos extra. Além disso, estes alimentos, como contêm pequenas quantidades de hidratos de carbono e são praticamente nulos em proteínas e gordura, não fornecem ao organismo todos os nutrientes necessários para nos mantermos saudáveis. É preciso aproveitar este potencial de outra forma.

As receitas variadas a que pode recorrer

O truque passa então por associar este tipo de alimentos às suas refeições habituais, de forma a obter nas mesmas porções, um número inferior de calorias. "Se, em vez de ingerir uma porção de arroz branco, optar pela mesma quantidade em arroz de pimentos estará a consumir um valor calórico inferior nesta segunda opção, uma vez que acaba por comer menos arroz em substituição dos pimentos", exemplifica Teresa Branco.

Convém, ainda, salientar que alimentos como estes prolongam o processo de digestão, resultando numa diminuição do índice glicémico. "Impossibilitam uma subida rápida da glicose [açúcar] no sangue, contribuindo para a prevenção da diabetes e de outras doenças", explica a especialista em nutrição. Além disso, como têm um enorme poder saciante, são excelentes alternativas para um snack entre as principais refeições.

As razões para o sucesso da dieta

A ideia de perder peso comendo é bastante animadora para quem pretende emagrecer sem esforço, daí o sucesso da dieta inspirada nesta teoria e que, segundo o seu site, já ajudou milhares de pessoas a fazer as pazes com a balança. "Todos estes pressupostos estão, ainda, a ser objeto de investigação científica, não sendo possível comprovar de forma fundamentada a veracidade desta teoria", afirma Teresa Branco.

No entanto, "o consumo de alimentos de grande densidade nutricional, ou seja, a ingestão de alimentos com poucas calorias e muito ricos do ponto vista nutricional é sempre uma boa opção quer em termos de perda de peso, quer em termos de prevenção de doenças", realça a especialista em filosofia e gestão do peso, doutorada em saúde e condição física, autora de livros como "Emagreça comigo", publicado pela editora Lua de Papel.

Alimentos que pode consumir sem culpa

Estes são os que, segundo Teresa Branco, deve privilegiar para perder peso mais facilmente:

Vegetais

- Espargos
- Brócolos
- Repolho
- Couve-flor
- Pepino
- Feijão-verde
- Cebola
- Espinafre
- Pimento
- Beterraba
- Cenoura
- Nabo

Fruta

- Maçã
- Toranja
- Tangerina
- Melão
- Limão
- Lima
- Laranja
- Ananás
- Morango
- Melancia
- Manga
- Framboesa

Texto: Vanda Oliveira com Teresa Branco (diretora do Instituto Prof. Teresa Branco)