25 de julho de 2013 - 14h55
O coordenador do Colégio de Hepatologia da Ordem dos Médicos defendeu hoje a criação de um plano nacional de prevenção e diagnóstico das doenças do fígado e a introdução do teste da hepatite C nas análises de rotina.
“A doença do fígado mata de várias maneiras”, através da cirrose, que tem várias causas, sendo a principal o álcool, seguida das hepatites B e C e do cancro do fígado, que tem vindo a aumentar em Portugal”, disse Rui Tato Marinho, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Mundial das Hepatites, que se assinala no domingo.
O facto de ser uma doença “muito complexa” e das que “mais mata” - constitui a sétima causa de morte em Portugal - necessita de um “planeamento estratégico”, que integre os profissionais de saúde e os decisores políticos, sustentou o hepatologista, observando que já existem vários programas nacionais de saúde para diversas áreas, como o VIH e a tuberculose.
Para Rui Tato Marinho, as doenças do fígado têm de ser abordadas de uma forma global: saber se é um doente com sida, alcoólico, com hepatite C, com cancro ou se precisa de um transplante hepático.
Dados apresentados em abril numa reunião da Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado (APEF) estimam que existam entre 100 a 150 mil portadores de hepatite C, sendo que apenas 30% sabem que estão infetados, e que morram cerca de 984 doentes devido à infeção pelo vírus da hepatite C (VHC) anualmente em Portugal.
O especialista defendeu a necessidade de se melhorar a taxa de diagnóstico e a gestão eficiente das várias formas da doença para evitar que evolua para “estadios mais avançados e maisOrdem Médicos onerosos”, nomeadamente cirrose e carcinoma hepatocelular.
Lembrou que a hepatite C é passível de cura em cerca de 70% dos casos e com os novos medicamentos que vão estar disponíveis atingirá quase 90% dos casos.
Contudo, há pessoas que vivem vários anos com hepatite C sem saberem, porque é “uma doença silenciosa, sem sintomas”.
“Aparecem-nos doentes com cancros muito avançados que tinham a doença há 30 ou 40 anos sem saberem”, contou Tato Marinho, defendendo que, para evitar estas situações, o teste à hepatite C devia fazer parte da avaliação de rotina do doente.
“Quem faz um hemograma, uma análise ao açúcar no sangue, ao colesterol devia também fazer uma análise ao fígado”, sustentou, acrescentando que se evitaria complicações mais graves da doença e o Estado pouparia muito dinheiro em tratamento.
O especialista deu como exemplo um transplante de fígado, que custa 100 mil euros, e o tratamento de cancro do fígado 35 mil euros.
“Há uma evolução da eficácia do tratamento e diagnóstico, que precisa que as pessoas se sentem à mesa e planeiem as coisas”, sublinhou
Para Tato Marinho, o plano estratégico devia incluir obrigatoriamente os médicos de família: “A doença mudou muito, há muitos aspetos novos e as doenças do fígado deviam fazer parte da formação destes médicos no sentido de aumentar a capacidade de diagnóstico destas doenças”.
Lusa