"Não somos o que comemos, somos o que o intestino decide absorver", começa por dizer Maria Inês Antunes, nutricionista pós-graduada em Nutrição em Pediatria, no sexto episódio do Podcast "O importante é ter saúde" do SAPO Lifestyle.
"O intestino é a barreira que separa aquilo que comemos daquilo que absorvemos. É constituído por várias bactérias naturais e importantes para todo o sistema imunitário, metabolismo e absorção dos nutrientes", acrescenta a convidada. "Essas bactérias formam a tal microbiota ou microbioma intestinal", refere.
"São dois quilos de bactérias no nosso intestino. Há mais bactérias no nosso intestino do que seres humanos no planeta Terra", afirma a médica pediatra Joana Martins, convidada residente do Podcast conduzido pelo jornalista Nuno de Noronha. "Todo este ecossistema funciona a nosso favor porque elas interferem - e muito - com o nosso estado de saúde", sublinha a médica.
"Sabemos hoje que o intestino corresponde a dois terços do nosso sistema imunitário e que tem um sistema endócrino próprio, ou seja, produz hormonas que se retroalimentam e geram respostas locais. Provavelmente o intestino foi muito ignorado pela investigação médica anos a fio", adverte a especialista em Pediatria.
Segundo a nutricionista Maria Inês Antunes, o intestino do ser humano difere de indivíduo para indivíduo em cerca de 90% das bactérias intestinais. "O tipo de bactérias é tão vasto e tão diferente que nos faz quase dizer que cada intestino tem a sua personalidade, daí haver muitas vezes dificuldades no diagnóstico e tratamento de manifestações relacionadas com as doenças intestinais", indica.
O microbiota do bebé começa a desenvolver-se logo durante a gestação, na barriga da mãe, e a partir do momento do nascimento da criança. "O tipo de parto influencia muito o tipo de bactérias que vão colonizar o bebé", adianta Joana Martins.
"É completamente diferente ter um bebé que nasce por via vaginal e um bebé que nasce por cesariana. O primeiro vai passar por um canal de parto e vai ser primariamente colonizado por lactobacilos que são conhecidos por produzir ácido lático que baixa imediatamente o pH da pele para 5.5, o que confere logo à partida proteção contra bactérias que são patogénicas", explica a pediatra.
"No caso da cesariana, o bebé sai diretamente do abdómen, é manipulado com luvas e é posto em cima da mãe", indica. "A primeira colonização que vai ter vai ser, em princípio, da pele da mãe. Os microorganismos da pele da mãe não produzem ácido lático, por isso vai ser colonizado por um conjunto de bactérias completemente diferentes", frisa.
"Se o bebé nascer por cesariana ou por parto normal, o conjunto de bactérias que uma criança tem no seu intestino, a microbiota, é diferente e essa diferença vai-se fazer notar até aos três anos de vida", descreve a pediatra.
O aleitamento materno, a diversificação alimentar, a utilização de antibióticos e o tipo de alimentação são outros dos fatores preponderantes no desenvolvimento e manutenção da microbiota intestinal das crianças e mais tarde na idade adulta.
O jornalista Nuno de Noronha falou ainda com as convidadas sobre a importância de uma dieta variada, das escolhas informadas em saúde, do consumo controlado de açúcar, do consumo de proteína animal, das fibras prebióticas e da importância da higiene dos produtos hortícolas.
O sexto episódio do Podcast "O importante é ter saúde" do SAPO Lifestyle, sobre "Superintestino", pode ser ouvido no Spotify.
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