Fatores de risco da doença coronária. Uma lista incompleta. Tradicionalmente, são dados como os principais fatores de risco para o desenvolvimento da doença coronária (e.a. angina, insuficiência cardíaca, paragem cardíaca súbita), idade, colesterol elevado, hipertensão arterial, diabetes, tabagismo, obesidade, inatividade física e história familiar de doença coronária.
Há um fator de risco que é conhecido, já há muitos anos, e que continua a não fazer parte desta lista: stress emocional. Esta omissão é irresponsável e custa vidas.
Um grande número de estudos científicos demonstrou que: em populações adultas inicialmente saudáveis, as perturbações depressivas e de ansiedade contribuem para o desenvolvimento da doença coronária incidente.
Além disso, pessoas com Perturbação Depressiva Maior ou Perturbação de Ansiedade Generalizada, são muito vulneráveis a fatores de risco cardiovascular, como sedentarismo, tabagismo, alcoolismo, diabetes mellitus, dislipidemia e hipertensão.
Não menos importante é o facto de a presença simultânea (comorbidade) destas duas perturbações, que interagem entre si, agravar o risco de a doença coronária se desenvolver.
Estes dados científicos têm pouquíssima redundância junto dos profissionais de saúde e da sociedade, em geral.
Tratar a Perturbação Depressiva Maior e a Perturbação de Ansiedade Generalizada
Pouco conhecido, embora bastante relevante, é se o risco da doença coronária permanece elevado se as perturbações depressivas e de ansiedade remitirem ou desaparecerem.
Uma equipa de investigadores de diversas faculdades de medicina (Universidade de Harbin, China e Universidade de Calgary, Canadá) investigou este assunto numa população representativa, nos Estados Unidos. No seu relatório publicado em 2019 a equipa conclui que: “mudanças positivas na Perturbação Depressiva Maior e na Perturbação de Ansiedade Generalizada estão associadas a um risco reduzido de doença coronária incidente, o que destaca a importância do tratamento de Perturbação Depressiva Maior e da Perturbação de Ansiedade Generalizada na prevenção do desenvolvimento e no tratamento da doença coronária.”
Uma cirurgia por 20 mil euros
Encontrei P. na rua. Estava com um excelente aspeto, forte e saudável. P. é um amigo bem-disposto que já não via há semanas.
Começou por me dizer que ia ser aberto, e explicou que tinha passado a semana a consultar médicos, ir a hospitais e a fazer exames. Aqui há dez dias aconselharam-no a ser operado, com urgência.
Há cerca de cinco semanas começou a sentir umas pontadas no peito e como estas se repetissem, resolveu ir às urgências de um hospital privado.
Porquê privado?
Não se podia sujeitar a marcações e a esperar por consultas, exames e análises.
Assim fui atendido imediatamente e os primeiros exames foram feitos na hora. O cardiologista fez-me um desenho, explicou-me a gravidade da situação e disse-me que não havia outra alternativa se não operar, sem demora. Perguntei ao cirurgião como é que isto me pôde acontecer. Estou reformado, mas tenho uma vida muito ativa, não fumo, nem bebo, a não ser às refeições e praticamente não como carne vermelha.
Acabei por escolher um cirurgião que é também professor na universidade, cuja explicação do trabalho que faz e da experiência que tem, me inspirou confiança.
A intervenção fica por cerca de 20 mil euros, mas a comparticipação é de cerca de 16 mil euros, pelo que eu teria de depositar quatro mil euros para que a cirurgia pudesse ser agendada. Quatro mil euros é muito dinheiro, mas não há alternativa.
Quando cheguei a casa fiz a transferência.
Conhecer antecedentes relevantes, permite contextualizar e assim, melhorar a intervenção
Há já bastantes anos tive um período longo em que estive muito depressivo. Fui ao médico de família, consultei especialistas, fui a clínicas. Fartei-me de fazer exames e de tomar medicamentos. Todos me passavam receitas.
Eu já não sabia o que fazer. Só sabia que me sentia muito mal. Felizmente que a família me segurava. Soube que em Espanha havia um médico que resolvia os problemas das pessoas.
O médico disse-me para parar com a medicação, e que aquilo me dava cabo da próstata.
Disse-me que me tinha de divertir, de distrair…
Também há uns anos comecei a sentir dores no estômago e aqui á volta do ouvido, na cabeça. As dores eram muito intensas.
Fui ao Centro de Saúde, consultei outros médicos, fui a diversos especialistas, fui a clínicas privadas, fiz exames e análises, mas tudo sem resultado. As dores eram por vezes muito intensas. Lembro-me que fui a uma clínica com instalações de um enorme luxo. A especialista em gastrenterologia examinou-me, mandou-me fazer mais análises e exames, medicou-me, mas não encontrou qualquer explicação para as minhas dores. Fez, no entanto, observações desagradáveis. “Pois … o vinho tinto, e os cozidos à portuguesa, etc., etc.” Irritado, conclui que estava a perder o meu tempo.
Mais tarde fui a um amigo para uma limpeza de dentes. Ele examinou-me a boca, disse-me que tinha bruxismo e que tinha de usar uma goteira para dormir. O diagnóstico foi confirmado e o meu problema ficou resolvido.
Eu sei que tudo isto são nervos, e que os medicamentos que me andaram a dar, todos estes anos, têm consequências. O meu problema do coração é provavelmente uma delas.
Em pé, na rua, este meu amigo, falou mais de uma hora, sobre a sua saúde, praticamente sem parar.
Passado um mês, P. diz que se sente bem, embora tenha o peito dorido. Anda alguns quilómetros todos os dias e não se sente cansado. Dorme pouco, mas já antes da operação era assim. Para a semana, vai fazer exames ao estômago e aos intestinos, exames que já estavam marcados antes da intervenção cirúrgica.
Nem antes, nem depois da intervenção cirúrgica, nenhum médico aconselhou o meu amigo a consultar um psicólogo da saúde/clínico, embora esteja medicado com antidepressivos e ansiolíticos. Deduz-se ter sido diagnosticado com perturbações emocionais graves, mas não estar a ser tratado.
Um artigo de M. F. Menezes e Cunha, Psicólogo da Saúde e Economista do Desenvolvimento.
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