Vivemos tempos incertos. Os últimos meses têm sido marcados por diversas catástrofes naturais (causadas pela natureza, como terramotos, tsunamis) e humanas (causadas pelo ser humano, como a guerra), desde a pandemia, guerra, cheias e inundações, ao recente e impactante sismo na Turquia e Síria. 

A exposição constante a este tipo de notícias e acontecimentos pode levar a respostas e sentimentos difíceis de gerir, tais como irritabilidade, choque, medo, ansiedade e tristeza, podendo também surgir outro tipo de reações, como sintomas somáticos (sintomas físicos associados ao sofrimento psicológico), desregulação do sono, e sensação de falta de controlo.

Importa assim perceber de que forma pode gerir o stress associado a este tipo de contextos. Para isso pode:

  1. Manter uma rotina de autocuidado. Um passo relevante para manter um bem-estar psicológico, em qualquer contexto, é cuidarmos de nós. Esta rotina passa não só por comportamentos saudáveis a nível da alimentação, do exercício físico, do sono, mas também por outras atividades relaxantes e prazerosas (meditação, estar com amigos, ler um livro, tomar um banho de água quente, entre outras). É importante que, no fundo, seja capaz de compreender «o que preciso neste momento?» e agir em concordância.
  2. Dosear o consumo de notícias/ media. Uma das causas de stress associado a este contexto é a o excesso de exposição a notícias emocionalmente dolorosas. Esta redução poderá passar por uma restrição parcial e regrada das notícias consumidas (por exemplo, defina dois momentos do seu dia para se manter informado, mas não constantemente exposto a conteúdos traumáticos), preferencialmente através de fontes credíveis e não sensacionalistas. Em casos de stress mais intenso, pondere mesmo uma restrição temporária, mas total deste tipo de conteúdo.
  3. Procurar uma forma produtiva de ajudar. Muitas vezes, torna-se difícil de gerir a sensação de falta de controlo associada a catástrofes e outras notícias assustadoras. A verdade é que fingir que nada está a acontecer pode demonstrar-se pouco eficaz, não sendo de todo o caminho. Assim, é positivo ingressar em atividades que nos devolvam e transmitam alguma sensação de controlo. Algumas formas de ajudar podem passar por fazer doações ou voluntariado junto de instituições de apoio, que ajudam a fazer diferença na vida dos envolvidos. Outra forma de reestabelecer a sensação de controlo é o foco em outras tarefas quotidianas (como o trabalho, escola e outras atividades).
  4. Ser compassivo consigo mesmo. Ao observar os efeitos nefastos de alguns acontecimentos, podem surgir sentimentos de alívio por não ter acontecido consigo, ou sentimentos de culpa por poder ter conforto, enquanto as vítimas sofrem tanto. Sejam estas, ou outras, as suas reações internas, deve compreender que elas são comuns e não fazem de si culpado.
  5. Manter a esperança acesa. Face a toda a desgraça inerente a situações desastrosas, podem surgir pensamentos de grande desespero. Muitas vezes, as pessoas que vivenciam este tipo de tragédias acabam por desenvolver uma força redobrada¸ assim como uma maior apreciação pela vida. É importante manter em mente a capacidade de resiliência intrínseca ao ser humano.

Para além das reações indicadas, é importante referir que podem surgir sintomas mais incapacitantes, resultantes da exposição ao incidente traumático. Assim, pode ser comum experienciar mal-estar psicológico e reações de stress traumático que, geralmente, com o passar do tempo tendem a dissipar-se. Caso estes sintomas persistam, ou esteja sob um sofrimento psicológico significativo, é essencial procurar ajuda psicológica e não adiar essa decisão.

Um artigo dos psicólogos Samuel Silva e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.