Ao longo dos últimos anos, este conceito tem vindo a ser estudado predominantemente no âmbito do contexto laboral (https://lifestyle.sapo.pt/saude/fitness-e-bem-estar/artigos/burnout-um-virus-que-pode-contaminar-todo-o-sistema), apesar do reconhecimento pela ciência psicológica de que este fenómeno também pode acontecer no contexto doméstico. Tomem-se como exemplo o burnout dos cuidadores informais de idosos e dos progenitores, cujas dinâmicas familiares e/ou características individuais dos adultos potenciam níveis mais elevados de exaustão.

A literatura define o burnout parental como o estado de cansaço profundo que leva os pais a sentir que não possuem capacidades físicas e psicológicas para responder às responsabilidades e desafios da parentalidade, como ajudar na rotina de higiene, auxiliar nos trabalhos de casa, proporcionar alimentações saudáveis, encontrar atividades familiares educativas, controlar o tempo e conteúdos visualizados na internet, consolidar o horário da escola e atividades extracurriculares com o horário de trabalho.

Na maioria das vezes, estas tarefas são acompanhadas por uma ansiedade, provocada pelas expectativas impostas pelos próprios pais e/ou pela sociedade de que têm de ser perfeitos (e será isso humanamente possível?). A vontade de “ser perfeito” traz uma enorme responsabilidade e “fardo emocional”: cada vez que uma determinada expetativa (elevada e irrealista) não é cumprida, os pais são invadidos por uma enorme frustração, impotência, tristeza e zanga. Sentir isto todos os dias é cansativo.

Mas, então, quais são os principais sintomas do burnout parental?

  1. Sensação de cansaço extremo: os pais sentem uma fadiga intensa associada à rotina diária de cuidados, a qual é sentida como penosa e cansativa.
  1. Reduzida disponibilidade para os filhos: baixa tolerância à frustração e irritabilidade perante pedidos banais da criança; dificuldades em regular as próprias emoções e, por sua vez, de controlar os impulsos. Em casos mais extremos, existe recurso à violência física (punições físicas) e psicológica (ameaças, insultos à criança).
  2. Sentimentos de vergonha, culpa e desespero, associados a pensamentos negativos automáticos como “não sirvo para ser mãe” ou “sou o pior pai do mundo”.
  3. Inseguranças acerca das práticas parentais mais adequadas e positivas, recorrendo frequentemente ao questionamento de outros pais e a comparações constantes (“ela é melhor mãe que eu”, “ele tem tanta paciência com o filho”, “o meu filho pensa que eu não gosto dele”)
  4. Dificuldades em sentir bem-estar, felicidade ou prazer no papel de “pai” e “mãe”, sendo tudo percecionado como cansativo e negativo, deixando de haver espaço para momentos de tranquilidade e brincadeira. Para alguns pais, o refúgio é o contexto laboral (e, em alguns casos, o único sítio onde se sentem realizados e competentes). 
  5. Sentimento de distanciamento emocional relativamente à criança, potenciando que a rotina de cuidados seja cumprida sem qualquer tipo de afeto ou carinho.

A literatura aponta para algumas características do seio familiar em que existe um risco superior de o burnout se apoderar do bem-estar dos pais.

Tomem-se como exemplos:

  1. O desejo do perfecionismo: desejar cumprir, de forma rigorosa e inflexível, com uma parentalidade exigente e meticulosa, de acordo com padrões impostos pela sociedade e/ou pelos próprios pais;
  2. A perceção de não estar preparado emocionalmente para a parentalidade;
  3. A inexistência de suporte co-parental, familiar ou social;
  4. A existência de dificuldades financeiras, desemprego ou o cuidador ter um trabalho a part-time (dado que o menor tempo laboral coloca uma pressão adicional ao progenitor para desempenhar uma parentalidade de excelência);
  5. A tomada de decisão de ficar em casa a assumir o papel de cuidador (principalmente, quando o progenitor prescindiu da carreira profissional para assumir o papel de “pai” ou “mãe”, o que tende a aumentar os sentimentos de zanga, frustração e injustiça por não estar a desempenhar o papel de cuidador de acordo como desejado);
  6. Ter filhos pequenos (mais dependentes dos cuidados dos pais), sendo que o risco de burnout aumenta quanto maior for o número de descendentes.

É importante referir que o burnout parental se encontra associado a um elevado risco de divórcio, resultado do stress vivenciado no seio familiar e menor disponibilidade para as dinâmicas de casal. Por acréscimo, existe também um risco elevado destes pais sofrerem outras patologias, como a depressão e as perturbações da ansiedade.

Ser pai ou ser mãe pode ser “o melhor do mundo”, mas isso não invalida que existam momentos de cansaço, desespero e sofrimento e, não raras vezes, os pais tendem a isolar-se e a esconder o que sentem, pois temem o julgamento social dos familiares e amigos que os rodeiam.

Contudo, não está sozinho(a). Ao recorrer a ajuda psicológica, irá encontrar um lugar seguro, totalmente ausente de julgamentos ou críticas, no qual serão providencias as estratégias para recuperar o seu bem-estar individual, conjugal e familiar. Peça ajuda!

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Cínica e Forense.