Este tipo de violência emocional remete, maioritariamente, para situações, de divórcio conflituoso e/ou partilha das responsabilidades parentais dos descendentes, em que alguns progenitores (e, às vezes, não só) usam os filhos como armas de arremesso para atacar e humilhar o outro, como troféus que importa ganhar a todo o custo (mesmo que para isso aniquilem o desenvolvimento dos filhos).

A título de exemplo, a violência emocional é exercida na criança pelos adultos de referência, como forma de atingir ou vingar-se do outro progenitor, destacando-se as seguintes condutas:

  1. Cultivar uma relação de dependência com o descendente (por exemplo, dormir com a criança, não promover a autonomia na rotina de higiene).
  2. Limitar, contaminar ou excluir o contato da criança com o outro progenitor e respetiva família alargada.
  3. Criar conflitos de lealdade, como se o afeto por ambos os pais fosse incompatível. Para isso, o progenitor instigador da rejeição manifesta desagrado perante a alegria da criança em estar com o outro progenitor, sugere à criança que deve optar entre a mãe ou o pai e/ou induz sentimentos de culpa por a criança ter uma boa relação com o outro progenitor (por exemplo, dizer “quando dizes que gostas da mãe, o pai fica mesmo muito triste” ou “quando estás com o pai, a mãe fica sozinha em casa a chorar” ou até mesmo retirar o afeto à criança depois desta ter tido uma agradável conversa telefónica com o outro progenitor).
  4. Levar a criança a pensar que foi abandonada ou que não é amada pelo outro progenitor (por exemplo, perguntar “porque achas que o teu pai não está aqui? Ele não gosta da mãe e muito menos de ti” ou “ela só gosta do teu irmão”).
  5. Interferir nas visitas (nos casos em que existem), sabotando os momentos de bem-estar e/ou pedir à criança para contar tudo o que acontece na casa do outro progenitor, ou pelo contrário colocar um peso enorme na criança para que nada conte sobre o que fez, mesmo atividades mais banais.
  6. Proibir a criança de brincar com prendas ou de usar as roupas e/ou objetos comprados pelo outro progenitor.
  7. Recordar e/ou distorcer episódios ocorridos no passado, com elevada frequência e insistência, levando a criança a sentir-se chateada, triste ou zangada com o outro progenitor.
  8. Fazer a criança acreditar que o outro progenitor é perigoso (por exemplo, dizer “a mãe é má, ela bate-te sem motivo”) e, em situações mais graves, alegar falsas acusações sob o outro progenitor (por exemplo, de violência física ou de abuso sexual).

É importante que se tenha presente que a relação emocional com os pais é, na grande maioria das vezes, “a primeira relação” da criança e, por isso, serve como um importante modelo de referência para o futuro. Consequentemente, quando esta relação não transmite segurança, proteção e estabilidade, todo o desenvolvimento emocional saudável da criança é ameaçado.

Por outras palavras, a negligência do bem-estar e das necessidades emocionais criança, que quando nada o impede envolve um contacto equilibrado com ambos os progenitores e referências familiares, deixará marcas psicológicas mais duradouras e profundas. Neste sentido, a literatura da especialidade aponta para consequências graves para a saúde mental não somente na infância e adolescência, mas para toda a vida.

A curto-prazo, o stresse que envolve o dia-a-dia da criança facilita a existência de dificuldades em regular as emoções, pedir ajuda e/ou confiar nas figuras de referência que a rodeiam. Por sua vez, a longo- prazo, o stresse crónico da infância encontra-se associado a um risco elevado de depressão, ansiedade, perturbação de stresse pós-traumático, ideação suicida, perturbações alimentares (anorexia, bulimia, obesidade) e outras patologias associadas ao consumo de álcool e drogas, na vida adulta.

Relativamente ao domínio das relações, é importante refletir sobre o elevado risco de consequências como a instabilidade, a insegurança e dificuldades em confiar e estabelecer uma relação de intimidade emocional com o(a) parceiro(a). Estudos apontam que existe um risco particularmente elevado de crianças vítimas de abusos emocionais na infância virem a ser vítimas de violência física, psicológica e/ou sexual no contexto de uma relação amorosa na vida adulta.

Este é um tema sensível, particularmente para as crianças, mas também para os adultos que o vivem, vendo a infância dos filhos passar e as respostas dos Tribunais, não raras vezes, a demorarem demasiado tempo. Os meios que devem ser utilizados por um progenitor é, de forma infundada, rejeitado para conseguir recuperar o afeto dos seus filhos passam por um adequado acompanhamento jurídico, por advogado especializado, bem como por consultoria técnica de psicologia.

É imperativo impedir que o futuro dos seus filhos seja definido pelas situações traumáticas que os pais (ou um dos progenitores) o envolveram e perante as quais a criança não tem qualquer tipo de culpa ou responsabilidade. As generalizações são também aqui perigosas, mas é importante que fique claro que esta violência emocional pode ser exercida por um dos pais, ou ambos num registo cruzado, às vezes até mesmo ainda durante o matrimónio; ou por outros familiares. E para que não subsistam dúvidas para os mais incautos ou que tendem a meter tudo no mesmo saco: perante uma experiência anterior negativa, como violência doméstica, se a criança temer e rejeitar o contacto com o outro progenitor não devemos abordar como se de uma manipulação ou instrumentalização da criança se tratasse, pois nestas circunstâncias há uma experiência adversa real que motiva a rejeição.

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.