Zayin Malik, 23 anos, ex-membro do grupo One Direction, cancelou uma série de espetáculos alegando "ansiedade extrema". A cantora Selena Gómez anunciou uma pausa na carreira em setembro devido a crises de depressão e ansiedade. Bruce Springsteen escreveu na sua biografia lançada em setembro, Born to Run, sobre a sua luta de há anos contra a depressão. A modelo Cara Delevigne confessou que chegou a pensar em suicidar-se para pôr fim a uma depressão. Demi Lovato revelou que sofre de transtorno bipolar. Estes são apenas alguns exemplos recentes de celebridades que decidiram abrir as portas de um dos seus lados mais íntimos: a sua saúde mental.

Para trás parecem ter ficado as desculpas recorrentes dos agentes e assessores: "está desidratado" ou "precisa de descanso porque está exausto". A estratégia para muitas celebridades parece passar agora por ser "mais transparente" e "acabar com o preconceito" sobre os problemas de saúde mental, escreve a BBC.

"Uma das coisas que mudaram foram as expectativas que as pessoas têm em relação às celebridades. Agora os fãs (e até aqueles que não são fãs) estão mais habituados a ver o seu quotidiano nas redes sociais", disse à referida estação de televisão britânica Mark Brown, investigador especialista em temas de saúde mental.

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Quando Britney Spears rabou o cabelo em 2007, o mundo acompanhou o caso através das fotos de paparazzi, publicadas em centenas de jornais e revistas. Hoje, o mesmo caso causaria ruído, mas de forma mais direta e momentânea.

"Antes, essas coisas aconteciam por acaso à frente dos fotógrafos, mas não era de uma forma tão aberta. Agora há um diálogo com as celebridades, que tiraram os intermediários do caminho", explica Seaneen Molloy-Vaughan, escritora britânica que ficou famosa com o blogue "The Secret Life of a Manic Depressive" (A Vida Secreta de um Maníaco Depressivo, em tradução livre).

Mais seguidores

Outros especialistas defendem que a sensação de proximidade com as celebridades é uma ficção alimentada pelas próprias redes sociais e que esta familiaridade determina o tom do diálogo. "As celebridades sacrificam sua privacidade em troca de mais seguidores e de mais fama, e, como consequência, a saúde mental segue (esta tendência)", afirma o investigador e especialista Mark Brown.

No entanto, há também quem defenda que o que está a acontecer é a mudança na percepção da saúde mental. "Estamos no fim de uma década onde estamos a falar da saúde mental dos famosos de uma outra maneira", explica Brown.

Nos anos 1950 e 1960, por exemplo, seria difícil imaginar Marilyn Monroe ou Gregory Peck a falar sobre os seus problemas pessoas. Hoje os famosos conseguem dezenas de milhares de "gostos" e "seguidores" apenas minutos depois de publicar algo no Facebook, Twitter ou Instagram.

"Quando entendemos que são pessoas e não apenas um rosto famoso, começamos a perceber quando elas estão bem e quando não estão", acrescenta o investigador.

Benefícios para a sociedade

Segundo a BBC, os psicólogos concordam que abrir o diálogo sobre a saúde mental para milhões de pessoas - jovens, na sua maioria - apresenta benefícios para a saúde pública.

Uma investigação de 2014 da Mind, uma organização britânica que trabalha temas de saúde mental, sugere que 28% dos dois mil entrevistados conseguiu falar de um problema psiquiátrico com um ente querido como consequência direta de uma declaração pública feita por uma celebridade.

Além disso, outros 25% que ouviram uma celebridade a falar das suas dificuldades começaram a pensar nos seus próprios problemas e acabaram por pedir ajuda.