Os problemas de saúde mental são, nas sociedades atuais, uma preocupação crescente em termos de saúde pública, com a ansiedade e a depressão a serem as perturbações mais frequentes na população em geral e nos jovens, em particular. Estudos recentes alertam cada vez mais para a necessidade de olharmos com mais atenção para a saúde mental dos jovens, sensibilizando para a necessidade de serem adotadas mais medidas preventivas.
De acordo com um estudo apresentado no ano passado pela Universidade de Évora, um quinto dos estudantes universitários sofre de algum tipo de doença mental, como depressão ou ansiedade. Um outro estudo, realizado pela associação juvenil RYSE (Raising Youth for Sustainable Evolution) e pela Associação Nacional de Estudantes de Psicologia, também apresentado em 2023, sublinha que quase metade dos inquiridos (48%) demonstra ter sintomatologia grave do foro psicológico, como depressão, ansiedade ou perda de controlo. Uma conclusão recorrente na pesquisa mais recente é que a pandemia contribuiu ativamente para o aumento e consequente agravamento destes casos.
Os jovens adultos, em particular, são pessoas com necessidades muito especiais em termos de saúde mental
Vivemos numa sociedade em alta velocidade, com inúmeras solicitações e a necessidade de resposta imediata. Os desafios que esta quase ditadura do “imediato” impõe são sentidos como nunca por todos nós: há maior expectativa em responder rápido e bem às várias solicitações que recebemos, tendo em conta a conexão constante às redes sociais e plataformas de comunicação. Este modo sempre “online” gera elevados níveis de stress e frustração que são, muitas vezes, difíceis de gerir. É precisamente o acumular destes sentimentos, acompanhados da falta de ferramentas para lidar com eles, que origina situações de mal-estar e doença mental.
Os jovens adultos, em particular, são pessoas com necessidades muito especiais em termos de saúde mental. Além do ritmo da sociedade atual, as várias mudanças que acontecem nesta fase da vida são propícias a uma maior instabilidade emocional que, em simultâneo com a procura da sua afirmação junto dos seus pares, levantam grandes desafios na promoção e prevenção da saúde mental.
Combater a doença mental já instalada é fundamental. No entanto, a prevenção e deteção precoce de situações limite é ainda mais importante, por forma a fornecer aos jovens as ferramentas necessárias para poderem cuidar da sua saúde mental, tornarem-se mais resilientes e, assim, evitar consequências mais graves, como é o caso do burnout, por exemplo.
Neste aspeto, a recente medida anunciada pelo Governo dos “Cheques Psicólogo”, que teve uma resposta muito positiva por parte das instituições de ensino superior, permite democratizar o acesso a estes cuidados de saúde especializados junto dos jovens estudantes no ensino superior. Além disso, a importância que tem sido dada a este problema de saúde pública, gerando maior discussão de ideias sobre, por exemplo, quadros de depressão e ansiedade nos jovens, potencia a uma maior aceitação. Um estudo lançado no início deste ano por investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) sublinhava que os estudantes com sintomas de depressão e ansiedade não procuram ajuda devido ao estigma associado a estas patologias.
A implementação de políticas de saúde mental em ambientes académicos, assim como o desenvolvimento de projetos e atividades de sensibilização para estas questões revelam-se, cada vez mais, cruciais para que haja uma inversão do número de jovens a sofrer com estes problemas. Neste sentido, é de salutar o esforço da maioria das instituições de ensino superior, que estão cada vez mais atentas a este fenómeno e têm-se adaptado e procurado responder às necessidades dos seus alunos, através da criação e desenvolvimento de gabinetes de apoio psicológico. Além disso, é ainda importante mencionar a crescente consciência para os benefícios de um ensino de maior proximidade, com metodologias mais ativas e adequadas à realidade contemporânea, e fomentando, em conjunto com os próprios estudantes, atividades de promoção de bem-estar como a prática desportiva e cultural.
É, por isso, muito importante que os estabelecimentos de ensino fomentem, entre outras medidas, programas como a criação de clubes desportivos e culturais, contando com a contribuição ativa dos estudantes e das associações académicas, passando ainda pelo desenvolvimento e promoção de estratégias de desenvolvimento pessoal, focados no mindfulness e autoconhecimento, devidamente enquadrados por profissionais capacitados (psicólogos, enfermeiros especialistas em Saúde Mental, entre outros). Medidas como estas permitem aumentar a resiliência, melhorar a resposta à frustração e, em suma, aumentar os níveis de bem-estar percecionados pelos estudantes.
Embora o Dia Mundial da Saúde Mental – 10 de outubro – nos possa lembrar de forma mais efetiva destes problemas, é muito importante alertar que a saúde mental é um direito e imperativo de todos. Ajudar os jovens a proteger e promover a sua saúde mental, enquanto se combatem os problemas mentais através do aumento da acessibilidade e redução do estigma, é um dos maiores contributos que as instituições de ensino superior podem trazer à sociedade e ao futuro do nosso país.
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