No último artigo sobre tiques, foi referido que a Gilles de la Tourette (perturbação neurodesenvolvimental caracterizada pela presença de tiques motores e verbais) afeta diferencialmente crianças e adultos, pelo que as crianças sofrem dificuldades a nível interpessoal e de desempenho escolar devido à presença de tiques frequentes e, muitas vezes, socialmente desadequados.

Os adultos, de igual modo, são afetados, não só a nível social, como também a nível laboral. Muitas vezes, pessoas com tiques tentam lidar com estes sem compreender a sua causa, sentindo-se diferentes e alienados do grupo de pares. Ao tentar suprimir os tiques, sentem tensão interna, levando a um aumento de autoconsciência, a uma pior autoestima e a níveis elevados de ansiedade e evitamento social. 

A nível laboral, adultos com Gilles de la Tourette têm maior probabilidade de serem desempregados ou de terem menores rendimentos. Adicionalmente, tendem a reportar maiores dificuldades a nível da memória e da atenção, o que poderá explicar, não só as maiores dificuldades académicas, como as subsequentes piores oportunidades de emprego. Por esta razão, sujeitos adultos com esta síndrome encontram-se, tipicamente, num estrato socioeconómico inferior ao da sua família de origem e apresentam uma pior qualidade de vida que sujeitos sem esta síndrome. 

De igual modo, estudos revelam que cerca de 90% dos sujeitos com esta síndrome detêm, simultaneamente, outras perturbações psicológicas, sendo as mais frequentes a Perturbação de Défice de Atenção e Hiperatividade, a Perturbação Obsessivo-Compulsiva e a Depressão. Deste modo, a intervenção psicológica dever-se-á focar, não só nos tiques, mas também no tratamento de outras perturbações possivelmente presentes.

A nível de soluções práticas, para os familiares, é importante compreender que respostas negativas, como repreender as pessoas pelos seus tiques ou chamar a atenção para estes, tende a aumentar a sua frequência. A existência de um ambiente familiar saudável e funcional é integral à estabilidade da síndrome e a existência de discussões familiares focadas nos tiques podem levar ao evitamento das interações com os membros da família e à perpetuação dos sintomas.

O tratamento clínico da síndrome abrange o recurso a psicofármacos, assim como à intervenção psicológica. Técnicas de relaxamento e de mindfulness revelam-se igualmente eficazes, não só pois reduzem os níveis de stress que, muitas vezes, exacerbam a frequência dos tiques, como permitem uma maior consciência do próprio corpo, emoções e pensamentos, enquanto reduzem a ativação fisiológica associada aos tiques. 

Nos últimos anos, o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), intervenção baseada no reprocessamento e dessensibilização de informação através do movimento ocular, tem revelado resultados promissores na redução de tiques e outras perturbações motoras associadas a comportamentos obsessivos e compulsivos. Por exemplo, numa investigação dos investigadores Charles Scelles e Luis Carlo Bulnes, em 2021, em que técnicas de EMDR foram aplicadas a uma criança com tiques motores e vocais, os resultados apontaram para uma diminuição da severidade dos tiques e de outras perturbações motoras existentes.

Procure ajuda. Não está sozinho(a). 

Um artigo dos psicólogos clínicos Mariana Moniz e Mauro Paulino, da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.