As nossas emoções e a nossa realidade interna precisam de espaço para se expressar, no entanto, é comum escolhermos ignorá-las e optarmos por fingir que não ouvimos os nossos apelos internos. Esta dinâmica é possível num primeiro momento e permite-nos uma ilusão de equilíbrio interno, mas a longo prazo torna-se incompatível com o nosso bem-estar e com a nossa saúde, quer mental, quer física. 

Desta forma, fica claro que todas as emoções que vivem dentro de nós e que não encontram lugar ao nível do pensamento e da palavra para se expressar, terão de - obrigatoriamente! - encontrar um outro lugar para se expressar e, muitas vezes, esse lugar é o corpo. 

É neste cenário que se instalam muitas doenças físicas, sendo que algumas delas têm uma carga psicossomática superior, como é o caso das doenças autoimunes. 

As doenças autoimunes são crónicas e, regra geral, resultam de processos inflamatórios e que oscilam entre períodos de maior erupção e períodos de remissão.  

A verdade é que uma doença autoimune é sempre uma espécie de proteção do nosso corpo contra ele próprio. No fundo, o nosso sistema imunitário, por influência de distorções emocionais, em vez de se defender dos agentes agressores do nosso corpo, defende-se daquilo que em geral nos protege. 

 A nível psicológico, isto resulta de uma dificuldade na comunicação entre o corpo e a mente, sendo que, estas dificuldades e as doenças autoimunes surgem, por norma, em pessoas que tendem a racionalizar e a fugir daquilo que sentem. Como se a capacidade de racionalizar as suas experiências funcionasse como uma ‘bengala’ para não pensar de verdade e não sentir. 

Assim a racionalização vem de mãos dadas com o controlo emocional, mais racionalização e mais controlo, abrem sempre espaço a mais doenças autoimunes. Estamos assim perante pessoas que tendem a ser excessivamente exigentes consigo próprias e que, regra geral, não se permitem a falhar e ser flexíveis com elas e com os outros.   

É, por tudo isto, fundamental, olhar para as doenças autoimunes como um pedido de ajuda do nosso corpo, não só para darmos atenção à parte física, mas para privilegiarmos a parte mental. Porque se almejamos uma melhoria ao nível das doenças autoimunes, não nos podemos esquecer que o corpo e a mente estão sempre a comunicar entre si e que a melhoria da doença física - ou a existência de maiores períodos de remissão - só acontecem à medida que a comunicação corpo e mente se for tornando cada vez mais fluída e que a racionalização e o controlo se forem esbatendo.

Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.