Atualmente contactamos com uma taxa muito elevada de jovens adultos com dificuldades do foro emocional sem rumo e sem uma perspetiva de vida que lhes pareça razoável e satisfatória. Seja porque não se encontram na profissão que escolheram - ou que têm oportunidade de exercer - seja porque não se sintonizam nas relações românticas ou, simplesmente porque mesmo tudo estando aparentemente tudo bem, parece existir um vazio que lhes comanda a vida, mais do que uma vida preenchida e plena.
Quando olhamos para este fenómeno que está a crescer a passos acelerados, percebemos que não é alheio às elevadas taxas de suicídio e ao ritmo crescente de diagnósticos como a ansiedade e depressão.
Mas, afinal, o que acontece para que os jovens adultos parecem estar sem rumo?
Ao pensarmos sobre tudo isto, deparamo-nos com a conjuntura económica que todos vivemos atualmente e que contribui em grande parte para que os jovens adultos sintam uma falta do controlo da sua vida e das suas conquistas, o que por si só é absolutamente ‘castrador’ e, naturalmente, gerador de um profundo mal-estar.
A isto acresce as expectativas e os padrões sociais, a verdade é que os muitos jovens adultos vivem na dualidade, entre aquilo que desejam e que querem para si e tudo aquilo que os outros imaginam que seria o expectável. Esta dualidade é tendencialmente vista de forma mais marcada na forma como se vive a vida profissional e a vida relacional. Quando isto acontece, ou se sentem a corresponder a si próprios, ou se sentem a corresponder aos outros, fazendo com que, no limite, vivam em fratura. Esta dinâmica interna dificilmente será capaz de dar lugar ao bem-estar psicológico.
Para além disso, não nos podemos esquecer que há por parte destes jovens adultos uma grande dificuldade em gerir emoções, particularmente em tolerar a frustração. Ora, seja qual for o processo, nunca correrá sempre tudo bem, haverá sempre falhas e imperfeições e para lidar com elas, é preciso robustez emocional. Muitas vezes, perante a falha a opção é a fuga, no entanto, esta opção raramente é eficaz, porque por muito que se fuja, o nosso interior, as nossas fragilidades e as nossas dores, irão sempre connosco para onde quer que vamos.
Perante tudo isto, não nos podemos esquecer que há fatores externos que não podemos controlar, mas que a fonte de bem-estar precisa de vir de dentro de cada um de nós. Só quando internamente estamos plenos com as nossas emoções, ações e decisões podemos desejar sentirmo-nos no rumo certo, alinhados com tudo aquilo que desejamos para nós próprios, independentemente, de tudo aquilo que os outros possam desejar. Sendo certo que é da sintonia do mundo interno que se chega, por fim, à sintonia do mundo externo e ao bem-estar global.
Um artigo das psicólogas clínicas Cátia Lopo e Sara Almeida, da Escola do Sentir.
Comentários