Estar apaixonado é uma experiência inevitável, considerada uma parte integrante do ciclo da vida do ser humano, uma vez que, segundo a neurocientista Stephanie Cacioppo, o amor é uma necessidade biológica tão importante para o nosso bem-estar como a água, a alimentação ou o exercício físico.
Stephanie Cacioppo, autora do livro “Wired for love: lessons from neuroscience on love, loss, loneliness and living happily ever after” (Conectados pelo amor: lições da neurociência sobre o amor, perda, solidão e viver feliz para sempre), explica que quando o ser humano está apaixonado, os níveis de oxitocina (hormona associada ao bem-estar e tranquilidade) aumentam.
Uma evidência interessante é que baixos níveis de serotonina (hormona associada à felicidade e à excitação) se encontram associados à Perturbação Obsessiva-Compulsiva, o que parece explicar, em parte, a preocupação excessiva que existe numa fase precoce das relações com os pequenos detalhes, como é exemplo o tempo que a pessoa amada demora a responder a uma mensagem (o que, por vezes, por si só, causa ansiedade ou inquietação à pessoa que aguarda por uma resposta).
A mencionada oxitocina, comumente designada por “hormona do amor”, é responsável por facilitar a construção de vínculos de proximidade emocional entre os seres humanos (inclusive, é libertada no cérebro da mãe, enquanto amamenta o seu bebé), assim como contribui para aumentar o desejo e excitação sexual e acentuar a sensação de relaxamento, plenitude e bem-estar.
Neste sentido, de acordo com Lucy Brown, neurocientista e professora americana, o amor ativa o designado Sistema de Recompensa. Este sistema encontra-se associado à procura de excitação, à sensação de desejo e à satisfação das necessidades básicas. É também este sistema que integra as nossas motivações e que, por isso, nos orienta para os nossos objetivos de vida, sendo igualmente responsável pela ativação da sensação de energia, vitalidade e entusiasmo.
As evidências anteriores explicam o porquê de, não raras vezes, as pessoas apaixonadas parecerem mais felizes e com uma visão positiva e esperançosa do futuro.
Mas surge ainda outra questão: e nas relações a longo-prazo? Em que a sensação de estar apaixonado pode já não se encontrar tão intensa como numa fase precoce da relação?
Numa investigação americana, publicada há mais de uma década, foi revelado que casais que estavam numa relação há mais de 20 anos, quando apresentada uma fotografia da pessoa amada, era evidenciada uma ativação do cérebro na área tegmental ventral - área responsável pela libertação de dopamina (hormona associada ao prazer e felicidade) e com um papel ativo na gestão de comportamentos aditivos.
Stephanie Cacioppo acrescenta que, nas relações a longo-prazo, a sensação de estar apaixonado ativa áreas do cérebro que se encontram associadas ao Sistema dos Neurónios-Espelho (neurónios associados à visão e ao movimento, facilitadores da aprendizagem por observação e consequente imitação) e que esta evidência explica, em parte, o porquê de os casais conseguirem antecipar o comportamento do outro e completar a frase que a outra pessoa ainda não acabou de dizer.
Segundo a neurocientista, as pessoas apaixonadas nutrem uma conexão impossível de encontrar em outro tipo de relações (por exemplo, relações familiares e/ou de amizade) e é por isso que o amor é tão importante: a sensação de conexão é essencial para o nosso bem-estar e sobrevivência, enquanto seres humanos.
Estas investigações sobre o amor justificam as reações intensas de perda e sensação de rejeição aquando do término de uma relação. A revista Monitor on Pyschology, da Associação Americana de Psicologia, publicou que os efeitos do amor no cérebro são semelhantes aos do consumo de cocaína (as hormonas libertadas são, tendencialmente, as mesmas), pelo que a gestão do término de uma relação pode provocar sintomas semelhantes a uma reação de abstinência desta droga (por exemplo, flutuações entre a tristeza e a raiva, dificuldade em dormir, elevada irritabilidade, ideação suicida).
Se estiver a vivenciar um processo de luto por uma relação, peça ajuda psicológica. Não está sozinho(a)!
As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.
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