Após os longos meses de confinamento vivenciados no passado e a crescente conexão às redes sociais (e desconexão ao mundo real), será que estamos a vivenciar uma pandemia de solidão? Esta é uma das questões colocadas pela investigadora e psicóloga Louise Hawkley, da Universidade de Chicago, a qual tem vindo a estudar os efeitos negativos da solidão na saúde física e mental do ser humano.

É importante esclarecer que, segundo Louise Hawkley, estar sozinho é totalmente diferente da sensação de estar só, uma vez que, mesmo rodeados de pessoas, podemos ser invadidos pela sensação de estarmos sós, pois sentimo-nos distantes emocionalmente de todos os que nos rodeiam. Por oposição, podemos estar sozinhos, na nossa própria companhia e sentirmo-nos conectados com o mundo, preenchidos, distantes do vazio e do silêncio ensurdecedor que define a solidão.

E porque pode a solidão ser tão negativa para o nosso bem-estar? A resposta envolve entender o ser humano como um ser social e que, por isso, necessita de relações e da consequente sensação de ser amado por terceiros, de pertença a uma comunidade ou grupo para se sentir valorizado, feliz, integrado.

Desta forma, os riscos para a saúde mental associados à solidão remetem para um risco elevado de depressão e de ansiedade. Na saúde física, destaca-se um risco acentuado de problemas cardiovasculares (por exemplo, hipertensão, paragem cardíaca), dada a tendência a um estilo de vida mais sedentário, na medida em que o risco de dar uma caminhada com um amigo é reduzido. Pelos motivos mencionados, as investigações têm vindo a identificar uma associação entre a solidão e níveis de mortalidade mais elevados.

Ainda assim, é importante recordar que cada um de nós é um ser humano único e, por isso, tem necessidades emocionais e sociais diferentes (cada um de nós necessita de forma distinta do outro, da interação social).

Contudo, as investigações destacam a necessidade de se implementar mudanças na rotina, que sejam facilitadoras do auto-cuidado e que integrem maiores momentos de interação social. A título de exemplo, pode ser importante uma gestão do tempo e dos limites entre a vida social e laboral mais rigorosa, para mais momentos de interação social – individualmente ou com a sua família, ambos são importantes para o bem-estar. Outro exemplo, se for uma tomada de decisão baseada na responsabilidade e amor, é adotar um animal de companhia. Os estudos apontam para um aumento da interação social, dada a tendência a dialogar com outros tutores nas caminhadas ou passeios higiénicos com o seu animal, sendo que pode também começar um desporto coletivo ou aulas de grupo, respeitando sempre o seu tempo e espaço para a mudança.

Pode recorrer a ajuda psicológica para aprender a lidar com a solidão e compreender o porquê de se sentir tão sozinho. Aprender a desfrutar da sua própria companhia e a cuidar de si é o primeiro passo para iniciar o processo de desenvolvimento pessoal e auto-conhecimento que necessita para alcançar a serenidade e o bem-estar. Não está sozinho(a), procure ajuda.

As explicações são de Sofia Gabriel e de Mauro Paulino da MIND | Instituto de Psicologia Clínica e Forense.