A depressão é uma perturbação mental que causa sintomas que afetam diretamente a relação. Falamos em tristeza, irritabilidade, perda de interesse por pessoas e até atividades, perda de interesse sexual, desmotivação geral, desinvestimento em si mesmo, ao ponto de, muitas vezes, a pessoa descuidar das próprias necessidades básicas, como higiene e alimentação.

A pessoa que amo está com depressão. E agora?

E como pode lidar com tudo isto dentro de uma relação? Como é sentir que a pessoa que ama está “assim”? É muito doloroso e é muito exigente. Além de sofrer por ver a pessoa que ama a sofrer, sofre também por tudo o que esta “relação a três” acarreta. Aqui é muito importante conseguir compreender e aceitar, por muito difícil que seja, que a pessoa que ama está “assim” pelo sofrimento que sente e em que está.

Muitas vezes está distante (só quer estar sozinha ou parece que só está bem sozinha), ou irritada (irrita-se por tudo e por nada), ou chora sem parar (pelas coisas, aparentemente, mais simples), ou grita (porque está sem vontade de ser, sentir ou fazer nada), ou tem pensamentos negativos (tantas vezes assustadores e angustiantes). Nesse momento, é muito importante que pense: “Não é por mim, é pelo sofrimento em que esta pessoa, que eu tanto amo, está”.

A depressão impede-nos de receber amor

Fazendo este exercício (que não é nada fácil) é possível não tornar pessoal toda esta mudança na relação e na forma como a pessoa amada se relaciona consigo. Só assim, é possível aceitar que a pessoa que amo está irritada comigo sem que eu tenha culpa; ou que se afaste quando quero simplesmente abraçá-la ou dar-lhe um beijo. Não se trata de não querer ou não precisar desse afeto, não se trata de desprezo nem de rejeição, mas sim de não conseguir aceitar esse abraço, esse beijo, esse colo... Aqui, o mal-estar interno é tão grande, a inquietação é de tal ordem, que não estando em paz consigo, a pessoa que sofre de depressão, torna-se incapaz de estar bem com o outro. Não por ter deixado de amar, não por não querer esse amor (que aqui precisa tanto ou mais dele), mas porque não consegue receber.

O amor vence sempre

Surgem tanto sentimentos negativos – impotência, frustração, injustiça, ingratidão; a sensação de que faço tudo e a outra pessoa não fica feliz – que tendemos a esquecer algo essencial, perguntar ao outro como posso ajudar. Afinal, como posso ajudar a que te sintas melhor? O que posso eu fazer?

Podemos e devemos sempre pedir à pessoa que amamos que nos ajude a ajudá-la. E isso é como? Como ela sentir que faz mais sentido e como se sentir mais confortável. Deste modo, conseguimos passar a mensagem de que estamos a seu lado e que queremos ajudar.

Ainda assim, e por muito que tentemos ajudar, na maioria dos casos, quem sofre de Depressão precisa de conversar com um profissional, com um psicoterapeuta, que a possa ajudar a navegar pelas razões pelas quais se sente assim. Saber ouvir também é estar ao lado no momento de tomar decisões tão importantes como a de pedir ajuda profissional, e acima de tudo, durante todo o processo de recuperação. São aqueles que mais amamos que nos ajudam a seguir em frente e das formas mais simples. Às vezes, basta “só” estar ali, sem que seja preciso fazer ou dizer algo. A nossa tendência é agir conforme aquilo que eu acho que vai ajudar ou fazer-lhe bem. Mas esqueço-me de que isto é apenas o que eu acho. A outra pessoa, naquele estado tão doloroso, pode ter necessidades diferentes daquelas que eu penso que ela teria, mesmo conhecendo-a como eu a conheço. Então, tendo a fazer os impossíveis e dou conta de que não serve de nada. Às vezes, quem está a sofrer com depressão isola-se e a nossa tendência é afastarmo-nos. E lá vem a frustração...

A única forma que temos de evitar tudo isto é através da comunicação. Vamos perguntar como o podemos fazer. O outro até pode não ter a resposta, mas permitamo-nos pensar a dois, estar a dois, agir a dois, melhorar a dois, procurar ajuda a dois, no fundo, redescobrir como é tão bom amar a dois.

Um artigo da psicóloga e psicoterapeuta Patrícia Raminhos, da Clínica da Mente.