As perturbações da ansiedade e a depressão são as doenças do foro mental mais prevalentes, não só entre os portugueses como, também, a nível mundial.
São conhecidos alguns fatores de risco tais como predisposição genética, maus-tratos ao longo do desenvolvimento (por exemplo, abusos físicos, emocionais ou sexuais e negligência física ou emocional), crescer em ambientes disfuncionais e marcados por adversidades familiares (por exemplo, consumo de substâncias, violência doméstica, separação, perda ou morte dos progenitores, e divórcios) e baixos níveis socioeconómicos e educacionais. Situações de crise ou de catástrofe pública, constituem-se, também, como componentes de risco.
A pandemia da COVID-19 é exemplo do sofrimento psicológico, com transversalidade a todos, com maior ou menor gravidade e/ou intensidade. As incertezas de um futuro próximo, o desemprego, o medo de contágio da doença do próprio ou dos seus familiares, o confinamento familiar e social ou a falta de apoio social são fatores de risco convergentes ao aparecimento, ou ao agravamento de perturbações mentais, nomeadamente, stress, ansiedade ou depressão. No entanto, estas são apenas algumas das patologias que podem resultar da pandemia, não se sabendo, ainda, que outros problemas de saúde mental podem surgir a curto ou médio prazo. Uma coisa é certa: a situação de pandemia que vivemos desafia a saúde psicológica de todos nós.
As perturbações do foro mental impactam negativamente a funcionalidade do dia-a-dia, diminuindo a capacidade de a pessoa conseguir encontrar respostas emocionais, cognitivas e comportamentais adequadas às circunstâncias. Nesta conjuntura, as perturbações da ansiedade e a depressão comprometem significativamente a qualidade de vida e o bem-estar de quem sofre dos sintomas que lhes estão associados.
Respostas menos apropriadas podem elevar riscos
Muitas pessoas tentam desvalorizar ou relativizar os sintomas causados por estas perturbações. Outras vivem uma espécie de faz de conta de que não se passa nada. E outras, ainda, procuram resolver a sintomatologia e as causas que a provocam sem ajuda especializada. Estas respostas, menos apropriadas para fazer face a situações psicológicas mais exigentes ou complexas, podem elevar os riscos sobre a saúde mental.
Quantos de nós já ouvimos dizer que “aquilo que não nos mata, torna-nos mais fortes”? Contrariamente, a este clichê, tendencialmente, a acumulação de adversidades diminui a resistência da pessoa perante quadros clínicos de doença física ou mental ou devido a experiências percecionadas como negativas, ou que acarretam prejuízos pessoais, familiares, económicos ou sociais. A vulnerabilidade à ansiedade e à depressão é tanto maior quanto maior for o número e a intensidade dos acontecimentos de vida negativos anteriores e as dificuldades mais recentes enfrentadas no dia-a-dia.
Sempre que a intensidade ou a duração do sofrimento emocional são sentidos como excessivos, limitativos ou incapacitantes, recomenda-se o recurso a consulta psicológica. Identificar, avaliar e intervir nos problemas do foro psicológico é promover e recuperar a saúde mental, diminuindo os sintomas que causam sofrimento e que comprometem o bem-estar e a satisfação com a vida.
Certamente, a saúde mental (tal como a física) é a base do bem-estar geral de qualquer pessoa. Compete a cada um de nós zelar pela própria saúde, por meio da prevenção ou promovendo-a através de atitudes e ações de autocuidado e na intervenção da doença mental.
Com base no conhecimento e nas competências que tem, o psicólogo ajuda a enfrentar e a gerir diversos problemas, situações ou circunstâncias adversas que surgem no decorrer da vida e causam sofrimento, podendo este ser aliviado ou eliminado.
A maioria das pessoas pode beneficiar das consultas psicológicas e das intervenções terapêuticas que são delineadas e propostas, atendendo às características pessoais, circunstâncias e recursos disponíveis.
Reconhecer que, às vezes, é necessária ajuda técnica especializada é um ato de inteligência, de amor próprio e de amor por aqueles que amamos. Não é demais relembrar que os que amamos sofrem com o nosso sofrimento. Se é o seu caso…por si, por quem ama, procure ajuda.
Um artigo da psicóloga clínica Lina Raimundo, da MIND | Psicologia Clínica e Forense.
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